sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carnaval? Onde?

Desde que inventaram essa história de pesquisa que, pronto, ninguém precisa pensar mais nada. Está tudo na pesquisa.
Na pesquisa pós-Carnaval deste ano, o de Salvador foi considerado o melhor entre os grandes Carnavais do Brasil. E isso torna-se verdade absoluta. Bem, se o Carnaval de Salvador é o melhor do Brasil é sinal que algo vai mal, muito mal na folia. Nem imagino, então, como estejam o de Recife e o do Rio de Janeiro.
Não sou uma pessoa saudosista. Gosto da modernidade. Do computador, da internete, telefone celular. Não sou daquelas pessoas que sempre acham que o passado era melhor - quando se muda para melhor.
Há algum tempo não ia ao Carnaval. Uma viagem, desmarcada poucos dias antes, me fez ficar, e já que quase nada funciona fora do circuito, resolvi participar da folia.
Fui em Ondina e, desde o primeiro dia em que estive no circuito, fiquei estarrecida. Onde estavam os lindos abadás? Só sobraram as camisetas, rasgadas, costuradas, ou, para ser moderna, "costumizadas" pelos foliões. Os blocos dos primeiros dias de carnaval pareciam abrigar um bando de flagelados saídos de alguma das guerras que acontecem atualmente no mundo. Um show de horror! Cada associado do bloco coloca na parte de baixo a roupa que quer e, geralmente, é uma roupa mais surrada do que fica a própria camiseta no final dos quilômetros que separam a Barra de Ondina.
Nos trios, alguns artistas ficam tão longe do público que é preciso um binóculo para enxergá-los. Eles não estão mais preocupados com o público da pista, cantam para os camarotes, principalmente aqueles que são ocupados pelas câmeras de televisão. Os trios são tão "pendurados" de propagandas que dificultam, ainda mais, a visualização dos artistas, em especial na parte da frente do trio, onde imensos telões divulgam várias marcas, desde bancos a shoppings.
Nos camarotes (ao que soube, porque nem me dei ao trabalho de entrar em um deles) estão expostos desde marcas famosas de produtos de beleza, até carros. Isso mesmo, carros! Enquanto alguns expõem carros, há camarotes que não têm sequer uma enfermaria decente. Cobram quase um salário mínimo por dia, dão glicose a pessoas embriagadas (ou drogadas, sabe-se lá, pois não há estrutura para exames mais detalhados) e mandam a pessoa embora da enfermaria, para voltar à folia, completamente cambaleante, ou então para se aventurar em vários quilômetros até achar um táxi para ir para casa ou a algum hospital decente.
Na pista, além de uma montanha de barraquinhas, devidamente legalizadas, ambulantes (legalizados ou não) vendem desde chapéus e bebidas até colares, numa disputa corpo-a-corpo com os foliões. Ao observar tudo isso, fiquei pensando na afirmação do produtor cultural Jonga Cunha, que disse que a música axé acabou. Sempre achei que ela nunca iria acabar pois é a única música no mundo que tem mercado certo, definido - o Carnaval e as micaretas. Não é a música axé que está terminando, é o Carnaval de Salvador.
O que vi em Ondina era tudo, menos Carnaval. Os blocos chegavam em Ondina completamente desanimados. Também, com o repertório dos artistas...Havia mais pop-rock que axé. Como diz um amigo meu, que foi atrás de um trio de rock, "rock, em Carnaval, não dá liga". Havia muito beijo na boca, de mulher em homem, homem em mulher, homem em homem, mulher em mulher, muita droga, muita bebida, propaganda, comércio, e pouca animação, pouco Carnaval.
O poder público, os blocos, os empresários e os artistas tomaram conta da festa. Esse ano, os empresários (dando como desculpa a crise) já não investiram tanto - com tanta propaganda, a competição é maior, e a vitrine menor. Os blocos "minguaram" de associados. É preciso salvar o Carnaval de Salvador. Não com uma mudança estética, como propõe Carlinhos Brown, com inclusão de novos ritmos. Foi, justamente, essa inclusão de novos ritmos que contribuíram para o declínio da folia. É preciso tirar o Carnaval das mãos dos atuais donos - blocos, empresários, poder público e artista. O Carnaval deve voltar para as mãos dos seus verdadeiros donos - os foliões.

5 Comentários:

Às 27 de fevereiro de 2009 às 11:12 , Blogger Cristiano Teixeira disse...

Concordo com você. Não sai da rua Ilhéus nestes 7 dias.

 
Às 2 de maio de 2009 às 20:36 , Blogger Nino Moura disse...

Ana, vc foi do jornal a Tarde?

 
Às 28 de junho de 2009 às 17:09 , Blogger Ana Teresa Baptista disse...

em resposta a aulas de violão&guitarra:
Sim, fui. Você, quer se identificar?

 
Às 28 de junho de 2009 às 20:52 , Blogger Nino Moura disse...

Ana, sou o Nino Moura, guitarrista do grupo de rock CIRCVS...
tudo bem?

 
Às 13 de julho de 2009 às 05:25 , Blogger Ana Teresa Baptista disse...

Oi, Nino, tudo bem. Não o reconheci pela foto.

 

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