quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vá trabalhar mal assim no circo

Sempre duvidei da competência dos administradores públicos brasileiros. Sempre fiz coro junto aos que culpam o poder público pela miséria que experimentamos em nosso país. De uns tempos para cá tenho mudado a minha posição, desde que precisei administrar uma residência onde se precisa, continuamente, de pessoas para trabalhar.
Se administrar uma casa em Salvador já é complicado, imagine administrar-se uma cidade! A população de baixa renda, em Salvador, acha que deve explorar a população com melhor poder aquisitivo. Pensam que são os espertos na história, que essas pessoas têm uma renda mais alta por causa de alguma ordem celestial. Não entendem que é assim por que os mais abonados têm mais instrução e, se têm mais instrução, não vão se deixar enganar facilmente.
Dias atrás, por causa das fortes chuvas na capital, precisei chamar uma pessoa para consertar o telhado. Uma pessoa que já havia feito um trabalho anterior em casa. Chegando aqui, ele foi dizendo que se déssemos R$ 1000,00 ele cortaria a nossa grama. É claro que dei-lhe uma resposta à altura do desaforo. Mas parece que o rapaz não entendeu a mensagem. Fez um serviço ruim no telhado, que não foi pago na mesma hora. Dias depois, o serviço ruim possibilitou que a casa fosse novamente molhada pela chuva. Chamei-o para consertar o erro, ele veio e atestou que não poderia fazer o serviço por que precisaria de mais pessoas, que não era serviço para um dia só, etc, etc, etc. Entendi a mensagem: queria ganhar os R$ 1000,00 consertando o meu telhado por que também teve prejuízo na casa dele, com a troca de madeira. É claro que preferi ficar com as chuvas do que ser explorada. E chamei uma coutra pessoa para efetuar o conserto.
Um psicanalista italiano, residente em São Paulo, Contardo Calligaris, disse no livro "Hello, Brasil" que o fantasma da escravidão invade as relações sociais no Brasil. Nunca me esqueci dessa frase, pois cada vez que tenho de contratar o serviço de algúem percebo que a pessoa quer que levante a chibata. O brasileiro, em especial o baiano, acostumou-se a culpar o governo, a curvar-se diante da providência divina, para justificar a miséria em que vive. E a só trabalhar sob o regime de escravidão, na base de uma autoridade que o pune, que o ameaça.
Cada vez menos pessoas querem trabalhar, cada vez trabalha-se menos. Não gosto de regimes ditatorias, prefiro a democracia. Mas democradia é para países civilizados, não combina com a miséria existencial do Brasil. Brasileiro quer ser mandado, quer viver sob a chibata, não tem respeito pelo outro, não tem complacência com a miséria do outro. A mão-de-obra brasileira não é a pior do mundo por causa dos países africanos. Mas está ali, bem perto dos últimos lugares.
Essas pessoas que ficam nos sinais de trânsito, pedindo dinheiro, lavando pára-brisa, vendendo mercadorias ou fazendo malabarismo, me incomodam demais. Evito comprar qualquer coisa em sinal de trânsito e dinheiro jamais dei. Esses dias, porém, um malabarista fez um número muito bom, enquanto estava parada no sinal. Decidi dar um incentivo a ele, para que continuasse com a sua arte. Quando ele se aproximou do meu carro, percebi que não era brasileiro e, quando começamos a conversar, notei o sotaque. Era da Argentina. Enquanto a massa de miseráveis do Brasil se posta à frente de nossos carros fazendo números tão patéticos que só conseguem nos irritar, um argentino, nascido num país igualmente subdesenvolvido, consegue provocar encantamento.
Nem para o circo o brasileiro serve mais.

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