domingo, 5 de julho de 2009

Não faça da cultura uma droga, a vítima pode ser você

Nos últimos tempos tenho tentado me manter alheia às questões políticas brasileiras. Tenho me ocupado de resolver problemas pessoais e bem mais importantes - e menos escandalosos - do que os problemas políticos brasileiros. Mas, parece, que no Brasil é mesmo difícil se estar alheia a eles, pois invadem a sua vida em qualquer meia hora de papo que se tenta empreeender com qualquer pessoa. Na última semana, uma questão baiana foi colocada a público no desfile do Dois de Julho - a insatisfação de muitos artistas baianos com a gestão de Márcio Meirelles à frente da Secretaria de Cultura.
Nesse mesmo blog já defendi Márcio Meirelles, a quem considero como um dos mais criativos diretores de teatro baiano e responsável pela revitalização do Teatro Vila Velha, num projeto que, se não respeitou o projeto arquitetônico antigo do teatro, tem ampliado e melhorado a sua proposta artística. O TVV é hoje um dos mais representativos da Bahia. Diante do crescimento da insatisfação dos artistas, comecei a me informar sobre o que estaria ocasionando tanto inconformismo. Ao que se diz, alguns teatro foram fechados, há uma queixa de falta de ações nas cidades do interior e outros problemas que são de cartáter pessoal - críticas à própria personalidade do gestor.
Tenho acompanhado, ainda que não tão intensamente como quando me dedicava ao jornalismo diário, a gestão de Meirelles. Gosto das atividades gratuitas e de baixo custo que o Estado tem oferecido. Já vi bons espetáculos a R$ 1,00 ou gratuitos. Admiro o projeto Neojibá, parece-me que idealizado pelo regente Ricardo Castro e encampado pela Secult, e também a criação do museu Franz Kracjberg.Contrário à sua administração, o declínio do BTCA que, mais uma vez, vai apoiar-se em Victor Navarro para a montagem de um espetáculo, e a programação de baixa qualidade do TCA (com ingresso muito caros, refletindo-se na falta de público).
O pior ponto, porém, da gestão Meirelles, é o total desrespeito às edificações públicas destinadas ao abrigo da arte e da cultura. Museu de Arte Moderna, Teatro Castro Alves, Concha Acústica viraram palco não apenas de artistas, mas também de consumidores de droga que fazem as suas exibições, constrangendo os menos afeitos a esse consumo, e sem qualquer repressão. Lembro-me de como foi difícil se recuperar esses conjuntos arquitetônicos, dos mais representativos da nossa cultura, quanto dinheiro foi gasto, quantos profissionais foram envolvidos na sua reconstrução e na concepção de uma nova política para esses espaços.
O TCA, por exemplo, durante anos foi palco de vândalos, que subiam em suas cadeiras para dançar ao som de rock'n roll, numa época em que essa atuação até se justificava diante da repressão do governo militar. Hoje, em que se baseia (sem trocadilhos), como se justifica que esses locais estejam sendo invadidos por pessoas desrespeitosas à cultura? Querem protestar contra o quê? Contra o excesso de liberdade, um liberalismo desproposital e inconsequente que tomou conta desse país, onde nada é reprimido, onde bandidos, corruptos, assaltantes, atuam com pouca ou nenhuma repressão com a conivência das instituições e dos seus mandatários?
Um mestre como Carybé, defensor e propagador do que há de mais genuíno em nossa cultura, ter os seus quadros dividindo um mesmo espaço com consumidores de drogas?
No entanto, a campanha contra Márcio Meirelles promovida por parte dos artistas baianos, com apoio da imprensa, é implacável demais. E falta com a verdade. Dias atrás, aqui mesmo nesse blog, expressei a minha revolta por Meirelles não ter sido hábil na resposta às críticas da Igreja em relação à falta de cuidado do governo com o patrimônio público. A minha opinião foi influenciada pela publicação da resposta de Meirelles num blog de Salvador.
Pois encontrei o secretário num shopping da cidade. Falei com ele a respeito. Meirelles ficou impressionado, a resposta que havia dado ao bispo tinha sido completamente diferente daquela publicada num blog. Em consideração ao artista que Meirelles é, e sempre foi, mudei esse texto, por que o conheço de longas datas e sei que estava sendo sincero na resposta. Posso acreditar que artistas estejam indignados com a sua gestão, mas não posso aceitar que jornalistas faltem com a verdade, em nome sabe-se lá de que. Já disse os pontos favoráveis e desfavoráveis da sua gestão. Enquanto artista o considero acima de qualquer suspeita, um talento irretocável; enquanto gestor pode-se criticá-lo, mas com justiça e sem que se falte com a verdade.

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