domingo, 28 de junho de 2009

Caminho das Índias ou a inútil da vida das mulheres

Anos atrás assisti a uma novela chamada "O Clone". Acho que foi a minha volta ao mundo das novelas, do qual estive afastada, felizmente, por um bom tempo. A novela me pareceu, à época, interessante, mesmo com toda aquela história arrastada de um casal que quer ficar junto, mas que sempre encontra algum obstáculo, só transposto nos instantes finais da produção. Considerei meio patético aquela subserviência feminina da mulher muçulmana, mas, afinal, era uma mulher muçulmana, estava contextualizada.
Na segunda tentativa de assistir a uma novela da mesma autora, Glória Perez, a história já me pareceu um pouco fora de rota. Foi "América", onde uma moça parte para os Estados Unidos a fim de melhorar a sua vida, porém lá só encontra infortúnio e o que acaba encontrando de consistente é um casamento que poderia, muito bem, ter encontrado no Brasil mesmo.
Quando soube que Glória Perez iria novamente escrever uma novela, novamente já afastada do mundo das novelas, pensei qual a situação de subserviência em que ela colocaria a mulher. É incrível que a autora, sendo mulher, se preste a um papel tão degradante - de depreciar a imagem e o papel da mulher na vida moderna. Quando soube que a história se passaria na Índia, apesar de pouco conhecer a realidade dos casamentos daquele país, não tive dúvidas que a história faria as mulheres descerem ladeira abaixo.
Poucas coisas são tão aviltantes como assistir-se à maneira como essa "escritora" trata da questão feminina. É como se até parir, até gerar e cuidar das crianças, fosse um fardo dedicado apenas à satisfação dos desejos e sonhos masculinos. A mulher, para a Rede Globo, em especial nas novelas de Glória Perez, é somente parte da costela de um homem. Não tem sonhos, não tem ambições, não tem planos próprios.
A novela da Globo pode estar ambientada num país onde a mulher seja vista como objeto de segunda categoria, mas é uma produção brasileira, país onde as mulheres, a cada dia, ocupam mais espaços - muitas vezes sendo pai e mãe dos próprios filhos -, em que são chefes de família e executoras de tarefas antes restritas aos homens, como as de motoristas de táxi, mecânicos e frentistas de posto de gasolina.
Em um mundo povoado por tantas personalidades femininas - Golda Meir, Indira Gandhi, Margareth Thatcher, Simone de Beauvoir, Madre Teresa de Calcutá, Cora Coralina, Madonna, Fernanda Montenegro, Nádia Comaneci, e tantas outras - que influenciam e influenciaram os rumos do mundo, seja na arte, na política, no pensamento ocidental, é quase um acinte assistir-se a uma novela que coloca a mulher num desenvolvimento tão primário, numa qualidade tão baixa de vida.
O incrível também é notar que, enquanto entidades e pessoas célebres se levantam para defender papéis de destaque para os negros nas produções de televisão, nenhuma entidade, nenhuma celebridade, levanta-se em defesa da mulher, muitas vezes espancada e ultrajada nas novelas e em outros programas de televisão. Porque seria? Acaso a questão feminina é menor do que a questão da negritude? Ao que se saiba, aliás, as mulheres são grandes consumidoras dos produtos anunciados pelas emissoras, portanto, até economicamente, é um erro o que fazem as emissoras.
Aliás, a autora e a sua equipe deveriam mesmo era tomar o caminho das índias, se é que vão encontrar mais de uma, lá estariam bem mais adequadas ao tempo e ao momento social.