segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Recordar e viver

Acabei de reassistir ao grandioso filme "Central do Brasil", de Walter Salles. Não fosse pela pieguice religiosa, seria uma obra perfeita. Acho que o filme de Salles foi o grande responsável pelo ataque às torres gêmeas e ao pentágono. Quem poderia se conformar com o filme perdendo, na entrega do Oscar, para um erro histórico-cinematográfico: "A Vida é Bela"? Aviões nas torres gêmeas!
"Central do Brasil" reabriu as portas do mercado internacional para o cinema brasileiro, fechadas desde o declínio do Cinema Novo. E ainda há gente que pensa que um país que, por preconceito ao terceiro-mundismo, passa ao largo dessa maravilhosa obra cinematográfica, pode não entrar em crise.
Assistir-se ao filme de Salles é fazer uma volta no tempo. Nesse blog já disse que quando me lembro do horror que era a economia brasileira, tudo parece fazer parte de um tempo distante. Pois o retrato brasileiro apresentado no filme de Salles também parece a foto de um Brasil bem mais distante (ainda que um pouco mais próximo do que o econômico).
Nesses últimos anos, a postura do brasileiro mudou. Muito lentamente, é verdade. O filme de Salles fala de um país decadente, de traficantes de órgãos (bem, traficante ainda tem muito por aqui), alcóolatras, gente desesperançosa, sem capacidade de indignação, que quase tem orgulho da própria miséria. O brasileiro hoje é um povo de olhar esperançoso, com vontade de trabalhar, que não se compadece da própria miséria.
Salles fez uma obra inigualável, uma pena o sucesso ter-lhe tirado a força criativa. Quem assiste a "Central do Brasil" e vê o seu último longa, "Linha de Passe", jamais os associa a um mesmo diretor.
O cinema brasileiro ganhou o mundo, conquistou platéias, seus diretores filmam com grandes astros internacionais. Perdeu, entretanto, a sua capacidade de contar uma nova história, de contrapôr-se à mesmice no cinema internacional, em especial ao hollywoodiano com seus insuportáveis clichês. Salles falava de um país decadente, mas não vendia nem explorava essa decadência, como fizeram alguns dos diretores que seguiram na porta por ele aberta. Vendendo "Carandiru", "Cidade de Deus", "Ônibus 174".
O Brasil das telas de hoje é o Brasil que Hollywood quer mostrar. E as exceções não ganham a mesma repercussão. "Romance", de Guel Arraes, é um exemplo disso.

Bata-me um abacate

Foi veiculado por um blog de Salvador: os aumentos propostos de ônibus e IPTU eram jogadas de marketing do prefeito João Henrique. Ah, me bata um abacate, me faça uma garapa. Desculpazinha esfarrapada! O prefeito devia ter um pouco mais de respeito com o seu publicitário, mesmo porque, não fosse a "generosa" colaboração dele, não teria ido nem para o segundo turno. Jogada de marketing...
Engraçado, anos atrás essa tal de jogada de marketing tinha outro nome: medo. JH se achou o rei da cocada preta porque foi eleito com quase 60% dos votos. Foi expulsando barraqueiros do imbuí, diminuindo a concessão de passes-livres nos ônibus, propondo aumentos extorsivos para o IPTU e ônibus. Agradecendo, gentilmente, aos seus eleitores - não é todo dia que o pior prefeito entre 12 capitais é reeleito. Para eleitores assim, só presentes dessa qualidade.
As duas primeiras medidas colaram. Tratava-se de medidas que atingiam uma parcela da população e como baiano é muito solidário, ninguém se incomodou muito com isso. Quando as medidas passaram a abranger uma parcela maior da população, aí o prefeito deve ter percebido que nem mesmo eleitor que votou nele é assim tão imbecil!
Para ser sincera, acho que JH devia mesmo ter permanecido na carreira de advogado. No primeiro mandato o seu desastre político foi salvo pela impossibilidade do presidente Lula de se manifestar nas eleições em Salvador (porque o presidente só pensa em 2010). Pela sua estréia no segundo mandato vemos que vai ser preciso um pouco mais do que parques para evitar a catástrofe.
Como ainda não existe nenhum código de defesa do eleitor, quem votou contra JH que se conforme. São quatro anos, minha gente. Vamos lá. Ainda tem muito parque para ser construído e muita tarifa para ser majorada!

domingo, 28 de dezembro de 2008

Abaixo o desconhecimento

Dispensável a declaração da primeira-dama da Bahia, Fátima Mendonça, de que a sua indicação para a chefiar a secretaria da cultura seria Juca Ferreira (atual ministro da cultura) e não Márcio Meirelles (atual secretário da cultura). Parece que os petistas não têm o menor pudor em demonstrarem desconhecimento, ou no popular mesmo, ignorância. Sem querer ofender a primeira-dama.
O governo Wagner prima por um erro absoluto: a ineficiência em seu sistema de comunicação. Para a secretaria de comunicação nomeou-se um engenheiro eletricista. Bem, no Brasil tudo pode. Economista já foi ministro da saúde, e, médico, ministro da fazenda. Pois a área de comunicação do governo Wagner, além de contar com a falta de boa vontade dos meios de comunicação, é um dos piores setores do seu governo.
Não fosse isso, talvez a primeira-dama estivesse mais bem informada em relação à atuação de Meirelles enquanto secretário, porque quanto ao seu inquestionável curriculum, Fátima Mendonça deveria, teria a obrigação de estar por dentro. Meirelles é um dos mais brilhantes diretores de teatro desse país, mentor do Grupo de Teatro Olodum, responsável pela peça, filme e minissérie "Ó Paí Ó", um sucesso nacional.
Márcio Meirelles também conseguiu tranformar um teatro decadente como o Vila Velha num dos mais pulsantes centros de arte da Bahia. Fez uma montagem de "Medéia", estrelada por Vera Holtz e Guilherme Leme, que foi um dos espetáculos mais "escandalosos" já produzidos na Bahia. Até Ópera, ele dirigiu. Se tudo isso não bastasse, foi o diretor do TCA que teve a coragem de fechar as portas do teatro, quando ele ameaçava desabar na cabeça do público. Foi criticado, mal visto, por ter tomado uma atitude tão radical, diante da impossibilidade de promover uma reforma no TCA bancada pelo poder público ou pela iniciativa privada.
Pois a atitude radical do ex-diretor do Teatro Vila Velha salvou o TCA e o transformou nesse magnífico templo da arte que é hoje em dia. Quanto a Juca Ferreira, o conheço muito mais pela sua luta em defesa do meio-ambiente do que por atuação na área cultural.
No entanto, não se trata aqui de se comparar os dois. Trata-se de informar à primeira-dama, talvez vítima das deficiências de comunicação do governo de seu marido, do impressionante trabalho que Meirelles vem fazendo à frente da cultura baiana. O Domingo no TCA, que acontece uma vez ao mês, com duas sessões e ingressos a R$ 1,00, onde são apresentadas produções baianas e de outros locais do Brasil. O projeto Neojibá, com a Orquestra Experimental, formada por crianças, e a Orquestra Juvenil Dois de Julho, sob a responsabilidade do maestro e pianista internacional Ricardo Castro (espero que a primeira-dama saiba quem é).
O museu Krajberg, situado em Nova Viçosa, que vai resguardar as esculturas do artista plástico polonês radicado no Brasil. A postura elegante que tem o TCA atualmente de permitir a entrada de retardatários quando algum fato extra acontece na cidade (como o engarrafamento natalino na avenida Sete). Contra Meirelles, somente o fato de ter permitido o leilão do acervo de obras de arte do escritor Jorge Amado. Poderia ter tentado uma composição com alguma grande empresa privada, como a Odebrecht ou OAS, que tanto dinheiro ganharam com obras do governo, para adquirir esse acervo, de maneira que ficasse na Bahia, pois Jorge é patrimônio dos baianos.
Se a comunicação do governador Wagner assim permitisse, informaria um pouco mais à primeira-dama (como, por exemplo, que ele trouxe de volta à ativa dançarinos do BTCA, em plena forma e saúde, que estavam mal aproveitados ou inativos recebendo dinheiro do estado). Porém ela mesma, que deve ter um computador em casa, poderia acessar um desses sites maravilhosos de informação e lá conheceria toda a biografia do secretário que tem possibilitado que o povo baiano tenha acesso à cultura, sempre tão elitizada, e se informar um pouco mais do que ele tem feito em prol do governo do seu marido. Se há alguém no governo Wagner que encarna os ideais petistas esse alguém é Márcio Meirelles. Sem a ignorância, é claro.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Altas bobagens

Acabei de assistir a uma parte do programa "Altas Horas", de Serginho Groissman. Só assisto a uma parte porque, como já disse em outro texto desse blog, o único programa da TV que consigo assistir integralmente é o CQC. Parei de ver o "Altas Horas" desta madrugada quando Serginho perguntou aos entrevistados qual havia sido o maior evento de 2008. Engraçado, o apresentador perguntou, mas antes que os entrevistados respondessem ele foi logo dizendo: "Para mim foi a eleição de Barack Obama".
Se ninguém sabe, havia sido pedida a concordata da Rede Globo nos EUA, pois a emissora devia a fundos de investimentos, a justiça estadodinense julgou a ação improcedente. Não é por acaso que a Rede Globo é o maior "cabo eleitoral" dos EUA. Serginho disse a opinião dele primeiro, para que os outros a seguissem. Não deu outra, um dos convidados, Wagner Moura, já foi dizendo a mesma coisa, aí o apresentador aproveitou para mudar a pergunta: "Como só vai dar Barack Obama, vou perguntar qual foi o maior acontecimento pessoal para os convidados em 2008". Faça-me rir.
Neste ano aconteceram fatos muito mais importantes do que a eleição de mais um presidente americano, que, por motivos mercadológicos, é um negro muçulmano. Se formos falar de importante para o mundo, a união dos países para debelar a crise provocada pelo país que Serginho teima em elogiar; as olimpíadas da China, quando o país-sede conseguiu, depois de várias edições, terminar com a supremacia dos EUA; a reunião de cúpula dos presidentes da América Central e do Sul, que pediu a reintegração de Cuba ao mercado mundial.
Se falarmos para o Brasil, as comemorações da chegada da corte portuguesa à Bahia, que definiu o futuro do país enquanto nação; a primeira medalha de ouro olímpica na natação e no atletismo feminino; o grau de investimento dado ao nosso país por instituições internacionais (infelizmente poucos meses antes da crise econômica mundial); o fato de não termos quebrado mais uma vez diante dos problemas internacionais.
Com tanto o que citar, Serginho, é claro, sob orientação da alta cúpula da Globo, citou Obama. Como somos colonizados e iludidos! A eleição de Obama é mais uma eleição de um presidente nos Estados Unidos. Um homem sozinho não muda a mentalidade de um povo. É preciso que esse povo também queira mudar. Mesmo que o novo presidente estadodinense traga novas idéias para o país, nada será como antes.
A liderança dos EUA frente ao mundo acabou-se no dia em que decidiram invadir o Iraque. É claro que ainda há muito adolescente iludido, que vai passear na Disney, assiste às produções cada dia mais patéticas do cinema americano, escreve frases em inglês em seus msns. Toda a barbárie promovida pelo EUA no Afeganistão e no Iraque, mesmo censurada pelas TVs (ontem, em tom de riso, a apresentadora do Jornal da Globo anunciava como "grande arma" a troca de viagra por informações de afegãos em relação às rotas dos talibãs) suplantaram a fantasia de super-herói criada para o Tio Sam.
Os EUA promoveram grandes mudanças no mundo, e galgaram, justamente, a posição em que durante décadas se encontraram. Promoveram grandes avanços na medicina - nas ciências em geral -; criaram um cinema diversão que encantou o mundo; não inventaram a democracia porém foram os seus maiores propagandistas; levaram o homem à lua. Ao lado de tudo isso, mataram milhares no Vietnã, em Cuba, apoiaram ditaduras sangrentas na América do Sul e América Central, e monopolizaram o cinema transformando-o em grande veículo de propaganda política.
Sim, a publicidade americana vai fazer de tudo para transformar Obama num grande líder, em mais um herói norte-americano. É ruim, hein? Assisti muito pouco da campanha eleitoral, mesmo assim, não vi uma só frase brilhante do candidato democrata, muito menos do republicano. Obama é como o último suspiro de uma ave, com asas quebradas, que teima em voar. Vai ser preciso muita propaganda, muita bandeirinha com estrelas e listras para colocá-lo de novo no topo. Melhor seria se os EUA reconhecessem a perda do trono e passassem o bastão adiante; insistir na posição de líder já se viu no que pode dar: uma grande recessão mundial, com milhares perdendo os seus empregos. O mundo precisa de novos ventos e eles não vêm da América do Norte.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Eleitor "safo"

Não leio os jornais baianos. Já há algum tempo eles deixaram de ser um eco da sociedade para publicar apenas o que lhes é de interesse. Eventualmente, acesso algumas de suas páginas na internete, bem como as páginas dos jornais de circulação nacional. Gosto mesmo de me informar através dos blogs de jornalistas (aliás, ainda não sei exatamente qual é a diferença entre blog e site, porque algumas páginas, chamadas de blogs, têm tanto conteúdo e recursos quanto qualquer site).
Os blogs de jornalistas baianos e o de Paulo Henrique Amorim são os que mais me interesam. Nos últimos dias li muitas matérias falando sobre as propostas de João Henrique para o aumento do IPTU, ISS e ônibus. Li texto de jornalistas indignados, políticos dizendo-se surpresos com as propostas, leitores revoltados e estudantes articulando um protesto, basicamente contra o aumento de ônibus.
Sinceramente, não entendo o motivo para todas essas manifestações. JH foi eleito o pior prefeito entre 12 capitais e, mesmo assim, reeleito. É como diz o ditado: "Deixar-se enganar uma vez é descuido, duas vezes, é burrice". Acaso foram os militares, que dominaram o país durante mais de duas décadas, a colocar JH de volta ao Palácio Tomé de Souza? Ora, ele foi eleito pelo povo, por esse mesmo povo que agora está protestando. Afinal, esse povo achava que, coligado com todas as forças que transformaram Salvador num imenso favelão, JH iria agir de outra maneira?
O problema do povo brasileiro, em especial do soteropolitano, é achar-se "espertinho" - não precisa ler, não precisa se informar. O soteropolitano é, na gíria, "safo". Poucos saberão responder, por exemplo, em quanto Imabassahy majorou as passagens de ônibus. Ah, mas era Imbassahy, não JH! Ué, e com quem Imbassahy era coligado senão com esses que hoje estão aí, ao lado de João Henrique?
E o IPTU, cujos aumentos sempre eram contestados pelo ex-deputado e atual prefeito? É de dar dó a desinformação do povo baiano, principalmente quando se trata de política. O incrível é que Salvador, ao contrário do interior baiano, sempre foi uma cidade oposicionista. Oito anos de Imbassahy na prefeitura, com muita maquiagem, e, de repente, Salvador tornou-se situacionista de novo. Sim, porque na primeira eleição, João Henrique tinha todo um viés de oposição, mas, agora, faça-me o favor...
O prefeito sabe muito bem que está em jogo a sucessão ao governo da Bahia, em 2010. Sabe que, com toda essa recessão econômica no mundo, a presidência da república não vai ser tão generosa com ele quanto o foi no primeiro mandato, quando 2010 ainda não estava sob discussão. Ele precisa de recursos (eu acho que falta a JH idéias, pois seus recursos servem mesmo é para fazer parques) para o segundo mandato, se não os planos do seu grupo para 2010 podem naufragar. E quem é que vai pagar a conta? Ela deveria ir apenas para os eleitores "safos".

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Batalha equilibrada

Um blog de Salvador divulgou uma pesquisa de intenções de voto para a presidência da república. Surpreendentemente, Dilma Roussef aparecia com 32% das intenções de voto, contra 42% de José Serra. Até pouco tempo atrás, Dilma não chegava aos 10%. Parece que o blog se arrependeu de ter divulgado a pesquisa, porque, no mesmo dia, mudou o enfoque da matéria, dizendo que, em algumas regiões, Dilma não chega nem a 10% (só não diz que "regiões" são essas).
Como diz o jornalista Paulo Henrique Amorim, editor de uma das melhores páginas da internete, o PIG (Partido da Impresa Golpista) quer, de todo modo, empossar José Serra. E o PIG tem ramificações em todo o país. Até hoje não entendo como alguém, em sã consciência, pode querer a volta do PSDB à presidência da república. Se quisessem empossar Pedro Simon, do PMDB, por exemplo, eu até não estranharia. É verdade que o PMDB já esteve à frente da presidência, com José Sarney (e foi um desastre), mas Sarney ingressou no partido por força das circunstâncias, porque o mandato era de Tancredo Neves, do PMDB.
O governo Lula, do PT, não é nenhum mar de rosas. Há muitas falhas na educação, uma lentidão na distribuição de renda, e muito descaso com os aposentados. Além do que, o seu governo não consegue "enquadrar" as empresas. Agora mesmo, aprovou-se uma legislação referente aos SACs (serviço de atendimento ao consumidor) das empresas que não está sendo cumprida. Mas querer-se uma volta ao passado, ao tempo de empréstimos exorbitantes, de apagão elétrico, mau uso dos recursos públicos, aumentos abusivos do gás e da gasolina, mudanças na constituição para beneficiar interesses de grupos políticos, é realmente incompreensível.
Quando olho para trás e vejo que no Brasil já houve uma inflação de 80% ao mês (José Sarney), que se seqüestrou o dinheiro da população (Collor de Mello), se promoveu escândalo carnavalesco com modelo sem calcinha (Itamar Franco), apagão elétrico com a conta do apagão enviada para o consumidor (Fernando Henrique), parece tudo tão distante...e tão absurdo.
O crescimento de Dilma parece reflexo do crescimento da popularidade de Lula. Pouco sabemos sobre a ministra, pessoa discreta, que fez um excelente trabalho à frente do ministério de Minas e Energia e, atualmente, à frente da Casa Civil. A oposição já tentou de todas as maneiras "pegá-la". Tentou, tentou, e a ministra saiu-se muito bem em todas as investidas. Parece ser uma pessoa séria, correta, idônea (embora esses adjetivos sejam sempre perigosos num país de ladrões como o Brasil).
O crescimento de sua candidatura é uma boa notícia. Sou a favor da alternância de poder. Acredito que só assim é que se pode chamar o país de democrata. Mas não sou a favor da alternância pela alternância. Se essa alternância representa uma volta a tudo o que de podre o país já viveu, melhor ficar-se como está.
Em muitos países foram necessários anos, décadas, para que a mentalidade da população e de seus governantes mudasse. O PSDB, apesar de todos os erros, começou essa mudança ao levar adiante um plano econômico, depois de tantos realizados apenas por motivos eleitoreiros; ao tentar ficar mais alguns anos no poder, além do que se previa a constituição, para evitar a chegada do PT à presidência, FHC selou a sua própria sorte e um segundo mandato desastroso para o Brasil.
O PT promoveu novas mudanças. Redescobriu o Brasil, e o lançou no mapa mundial. Não somos mais apenas o país do futebol, somos também do aço, do minério de ferro, petróleo, etanol. Ainda somos o país do analfabetismo, violência, da justiça lenta e privilégio para muitos. Nenhum governante leva um país a evoluir se a população também não quiser. A população também precisa querer evoluir, melhorar, crescer, se informar. No nordeste, principalmente, ainda há muita gente que não quer - continua esperando do governo proveja o seu sustento.
Se nas pesquisas anteriores parecia que o PIG iria vencer, agora parece que a batalha está mais equilibrada. Quase dois anos ainda estão pela frente. Tempos não tão fáceis para o governo Lula, diante da desaceleração mundial; tempo bastante para se trabalhar um sucessor, ou sucessora. Acredito que um país que levou 12 anos para eleger o único presidente da sua história recente que com seis anos de mandato aumentou a sua popularidade, ao invés de diminuí-la, não vai querer perder mais quatro, cinco ou oito anos (a depender do que for aprovado pela nova legislação eleitoral). Vai saber escolher.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Aprendendo na praia

Resolvi divagar um pouco, ao ler o blog de um psicanalista italiano radicado no Brasil. Ele fazia um comentário sobre "Vicky Cristina Barcelona", de Woody Allen. Lembrei-me de um filme que assisti na TV, "A Praia", estrelado por Leonardo Di Caprio. Resolvi divagar sobre este filme, inspirada pelas observações do psicanalista, ainda que os dois - "A Praia" e "Vicky" - possam nada ter em comum (ao menos cinematograficamente).
"A Praia" não dignifica a sétima arte. É mal dirigido, mal protagonizado, tem um roteiro questionável, onde uma passagem, apenas, me chamou a atenção. O tema é a tentativa de um grupo de rapazes e moças em viver numa ilha, criando uma comunidade alternativa, sob novos valores, onde a alegria, o prazer e a felicidade permanentes são as metas.
Até um determinado ponto, parece mesmo que eles conseguiriam o impossível. Num mergulho ao mar, um dos habitantes da ilha é atacado por um tubarão. Sobrevive e passa a viver uma lenta agonia, entre a vida e a morte. Os outros habitantes, incomodados por estarem se confrontando com uma situação que põe em xeque o hedonismo, resolvem isolar o habitante em agonia, deixando-o à míngua, longe dos olhos da maioria, ignorado.
Penso na vida. Quando somos colocados no mundo não somos avisados que vamos passar por todo um processo de educação, de limitação. A princípio, qualquer desconforto nos faz chorar. A maioria de nós tem alguém para cuidar desses desconfortos e por fim ao choro. Com o passar dos anos, mesmo com toda a fantasia estimulada na infância, vamos tendo que nos acostumar ao desconforto, adquirindo uma maior consciência da realidade fora do útero. Nem sempre temos alguém para dar cabo das nossas dores.
Mesmo com toda essa percepção, com o sofrimento que passa a fazer parte do cotidiano de qualquer criança, nem sempre se é capaz de abandonar o hedonismo. A maioria da pessoas vive sob a sua hipnose, evitando o sofrimento, isolando aqueles que lhes provocam alguma dor, tentando fazer do mundo um local apenas de prazer. Aqueles que conseguem viver no equilíbrio entre a alegria e a dor, se adaptam; os que tentam, como os habitantes do filme, viver só de alegria, acabam sucumbindo.
Alguns refugiam-se nas drogas. Outros, no sexo desvirtuado - pedófilo, sado-masoquista -, nos amores platônicos, ou mesmo na violência. Um bandido, um marginal, busca em seu ato a ausência de limites, a transgressão, a perpetuação do prazer e do poder.
Não sei o que leva os adultos, os pais das crianças, a fazê-las acreditar na possibilidade de uma felicidade plena. A incentivar tanto as fantasias infantis. O excesso de realismo pode ser extremamente depressivo, o de fantasia, também. Quando vejo pessoas nessa busca desenfreada pelo consumo, pela satisfação de todos os seus desejos, divertindo-se como se ali estivesse no último dia, lembro-me de "A Praia".
Trancamos as nossas portas e janelas, fingimos que a dor é do outro, fazemos das nossas famílias verdadeiros casulos. Quem está fora é como o rapaz atacado pelo tubarão. "A Praia" está no dia-a-dia de qualquer sociedade. Aprender a sofrer talvez seja a maior das dificuldades humanas. Não sei se há outro jeito.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Consumidor, sem pai nem mãe

A chegada de outras empresas de telefonia fixa à Bahia foi, para mim, motivo de grande contentamento. Poucas coisas podem ser pior do que um monopólio privado. Incrível é que o capitalismo brasileiro é tão primitivo, que não pode haver competição, simplesmente porque as empresas são igualmente ruins.
Durante anos tivemos um telefone da antiga Vésper, vendida à Embratel. Nunca precisamos falar com a empresa, tudo era bom, sem problemas. Não havia defeitos na linha, o aparelho nunca necessitava de reparos. Enfim uma tranqüilidade. Pois a Embratel deve ter achado que se o consumidor estava satisfeito, isso era mau sinal - parece que as companhias, em especial as de telefonia, fazem tudo para o cliente se aborrecer. Cliente bom, é cliente irritado.
Este ano a Embratel resolveu, sabe-se lá porque, mudar a tecnologia. E o cliente, é claro, não foi instado a opinar. Em outubro deste ano recebemos um telefone da Embratel, sem nenhuma carta, nenhuma orientação, a empresa não fez contato conosco. Achamos estranho e deixamos o aparelho numa prateleira, aguardando qualquer informação, uma vez que a linha estava funcionando perfeitamente bem com o aparelho antigo.
Um dia, ao tentar efetuar uma ligação, fiz várias tentativas, sem sucesso. Entrei em contato com a Embratel e fui informada: o aparelho anterior estava defasado em relação à nova tecnologia, a empresa me enviaria um novo, gratuitamente, com data marcada para o recebimento. Assim esperei. Na data, não chegou. Esperei mais alguns dias. Nada.
Entrei em contato com a Embratel, o atendente me informou que o sistema estava fora do ar, ele não poderia me dar uma informação precisa; como já havia atendido a outras reclamações semelhantes, e verificado, o envio devia ter sido feito, mas por atraso dos correios (os correios são os preferidos para serem os errados) não havia chegado.
Aguardei mais uns dias. Nada. Telefonei novamente para a companhia. A atendente fez a verificação e me respondeu que havíamos solicitado um novo aparelho. Reagi! Não, não havia solicitado aparelho nenhum, a Embratel me havia oferecido o novo aparelho por atualização tecnológica. Ela me disse que o novo aparelho já havia sido enviado, portanto não poderia mandar outro. Então me lembrei do aparelho recebido há alguns meses.
Instalei-o, entrei em contato com a companhia, eles fizeram todo o procedimento da troca do número do antigo para o recente e me pediram para aguardar 48 horas. Notei, depois de todo o procedimento feito, que na caixa havia uma bateria, não colocada. Pus a bateria e novamente falei com a empresa. Eles me informaram que aguardasse para ver se, mesmo com a ausência da bateria, a troca tinha sido feita.
Quarenta e oito horas depois, tentei telefonar. Nada. A ligação não era concluída. Pacientemente liguei para a Embratel, a moça que me atendeu deu muita risada, disse-me que sem a bateria não poderia ter sido feita a troca. Todo o procedimento foi repetido. Nada. O telefone não completava a ligação. Ela me encaminhou para o setor de reparos (ufa! Até contar, cansa). No setor, fizeram uma série de verificações, me pediram para ligar e desligar o aparelho várias vezes, para desconectar e conectar a bateria novamente. E...nada.
Aí veio o golpe final. Perguntaram-me quando havia recebido o novo aparelho. Informei a data. Disseram-me que o prazo para a troca já havia expirado, teria que procurar a assistência técnica. Como assim? Li todo o contrato. Nele dizia que a Embratel teria que enviar um aparelho em perfeitas condições de uso. Nada dizia sobre prazo de troca. Tinham que cumpri-lo! A moça ainda tentou abusar da minha inteligência, rebatendo que o contrato era para a linha. Como assim? Estava lá, escrito: era um contrato do aparelho.
Imagine, se não troquei a linha, como poderiam me mandar um novo contrato? Ela ficou irritada, não sabia mais o que responder. Enfim, um desastre! No limite da paciência, liguei novamente, falei com outro atendente, expliquei-lhe todo o problema. Só queria que a Embratel cumprisse o contrato, respeitando as cláusulas criadas pela própria empresa. O novo atendente, pelo menos, não me tentou fazer de ignorante. Registrou a reclamação, respondeu-me que iriam fazer uma verificação e a empresa entraria em contato dentro de 24 horas.
O consumidor brasileiro não tem pai nem mãe. A empresa muda a tecnologia, nada informa ao consumidor, manda um novo aparelho sem dar maiores explicações da necessidade e do porquê de se efetuar a troca. Quando o uso da linha se torna inviável e o consumidor entra em contato com a empresa ainda houve que ele solicitou um novo aparelho. Faça-me rir! E, depois, sem qualquer respeito ao contrato, ainda lhe diz que a troca teria que ser feita em 30 dias (sem ter essa cláusula), diz que o contrato refere-se à linha (ou seja, o atendente nem o lê) e ainda passa por cima de cláusula de que cabe à empresa oferecer um aparelho em perfeitas condições de uso. Sem ser questionado em relação à troca, o consumidor ainda vai ter que substituir a pilha do novo aparelho, quando houver o desgaste, algo desnecessário no antigo. Ou seja, um custo a mais que vai para o bolso do cliente, e ninguém lhe pergunta se ele pode pagar.
Agora, vá se queixar a quem? Ao bispo! Porque se a cada abuso de uma empresa você for ao Procon você morre de fome, pois não vai ter tempo de trabalhar para pagar as suas contas. Se houvesse leis que estabelecessem pesadas multas para as práticas abusivas contra o consumidor, certamente os abusos seriam bem menores. As multas são pequenas, os lucros que as cias. têm com as práticas devem ser maiores que as multas - enquanto aumentam seus lucros, diminuem a conta bancária dos clientes.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Palco de respeito

O mundo precisa de hierarquia, autoridade e normas. A questão é como elas são exercidas. O Teatro Castro Alves viveu momentos muito difíceis. Era um local de absoluta anarquia. Os espetáculos nunca começavam no horário, fazia-se até show de rock dentro da casa, a platéia subia nas cadeiras, dançava, quando o espetáculo acabava estava quase tudo destruído.
Sem condições de funcionamento, ameaçado até de desabar sob a audiência, durante o governo Waldir Pires, o então secretário de Cultura, José Carlos Capinan, e o então diretor do TCA, Márcio Meirelles (atual secretário de cultura), resolveram fechá-lo. Foi uma decisão muito ruim para a cultura soteropolitana, que não tinha, àquela época, nenhum outro grande teatro. Mas o governo não tinha recursos para restaurá-lo; tentou-se uma parceria, sem sucesso, com a iniciativa privada.
Na volta de ACM ao governo da Bahia, o teatro foi reformado e reaberto. Sob outros moldes. Os espetáculos passaram a começar pontualmente no horário (os retardatários tinham que voltar para casa). Nenhum show dançante esteve mais em sua pauta. O TCA passou a ser uma casa de luxo, com apresentações caras, excetuando-se um ou outro projeto e exibições da OSBA, Orquestra da UFBA e Balé Teatro Castro Alves.
Essa noite fui ao Castro Alves assistir à apresentação da OSBA com Elomar. Não comprei o ingresso antes. Na avenida Sete havia um engarrafamento horrível, provocado pelo fechamento de uma rua e pela abertura da avenida até as 10 horas. Quando chegamos, às 20h20min (o espetáculo estava marcado para as 20 horas) achei que não iria entrar.
Engano. Uma moça muito simpática, disse-nos que, em virtude do engarrafamento, estavam liberando a entrada, mas teríamos que esperar um intervalo para sentar-se à sala. Quase não acreditei. Há uma flexibilização para a disciplina que não seja a baderna. Estava sem ingresso, meu amigo ainda tentou conseguir um convite, sem sucesso. Outras pessoas também estavam sem ingresso, não puderam entrar. As bilheterias estavam fechadas, a lotação estava esgotada.
Os que esperaram o intervalo, o fizeram com muita paciência. Os que não puderam entrar, por falta de ingresso, ainda pediram um "jeitinho". Aí, sim, já seria alguma baderna. Afinal, abrir um precedente desse poderia ser perigoso, fazer com que o TCA voltasse aos tempos de total desgoverno. Ninguém se aborreceu, ninguém tentou invadir o teatro à froça. São outros tempos. Interessante como se aprende a respeitar quando se é respeitado.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Inacreditável. O melhor venceu!

É isso mesmo, venceu o melhor e pela primeira vez não me aborreci num programa de votação popular. Rafael Barreto foi o grande vencedor de "Ídolos", exibido pela Rede Record. Fosse um concurso de melhor voz, Rafael Bernardo mereceria ganhar. Um ídolo vai além da voz. Bernardo tem uma voz potente, coloca a alma em cada interpretação. Barreto, de voz doce e olhar tranqüilo, se movimenta melhor no palco, conquista a platéia com cada gesto, é afinado e escolheu bem o repertório durante todas as semanas de competição - só errou quando cantou "Olhar 43", do RPM; o rock não é a sua praia, se enrolou na letra.
O caminho do estrelato não é fácil. Nem ganhar um programa com 30 mil inscritos. Para se tornar um ídolo é preciso mais do que uma gravadora e uma emissora por trás apoiando. É preciso disciplina, selecionar um repertório - que terá muitas música inéditas -, firmar um estilo. É estrada complicada, porém se, em algum dos programas dessa linha e até de calouros, apareceu alguém com condições para galgar a fama, esse alguém foi Rafael Barreto.
Felizmente não perdi meu tempo à tôa. "Ídolos" teve uma excelente qualidade musical. Foi um trabalho sério, honesto, bem executado e, surpreendentemente, muito bem conduzido pelo ator/cantor Rodrigo Faro, uma nova revelação como apresentador. Nada disso adiantaria se, no final, não vencesse o melhor. Ufa. Venceu! Pena que acabou.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Dois ídolos e uma final

Tanto artista ruim no mercado e dois grandes cantores escondidos, cantando em barzinhos, dando um duro danado para sobreviver. A final de "Ídolos", o único programa decente para se escolher um novo cantor da música brasileira, foi um arraso! Os dois classificados, Rafael Bernardo e Rafael Barreto, fizeram um lindo espetáculo.
Não entendo como a mídia pode dar espaço a tanta gente ruim - Vanessa Camargo, Sandy&Júnior (felizmente separados), Kelly Key, Felipe Dylon e a uma infinidade de duplas sertanejas que fazem vergonha a sertanejos de valor como Sérgio Reis e Almir Sater. Enquanto a mídia brasileira estiver concentrada no Rio de Janeiro e em São Paulo é isso que vamos ver.
Com muita dificuldade, alguns artistas nordestinos, como Lenine e Zeca Baleiro, ou nortistas, como Calypso, conseguem cavar o seu espaço. A Bahia libertou-se da mídia nacional com a música axé. Até então, os artistas precisavam se mudar para o eixo Rio/São Paulo para acontecer na música brasileira. Podem virar o nariz para o axé, mas ele foi a nossa carta de alforria.
Barreto e Bernardo precisaram enfrentar uma fila de um dia, mas de 30 mil concorrentes, para mostrar que, aqui por cima, ainda tem gente muito boa escondida. Se as emissoras garimpassem o talento brasileiro não precisavam apresentar novelas como "A Favorita" e humorísticos como "Zorra Total". Quando soube que a série "Ó Paí, Ó", legítima criação baiana ia ser escrita por um gaúcho (Jorge Furtado, um diretor e roteirista muito talentoso, figurinha carimbada da Rede Globo que nem um dia viveu no Pelourinho), não me dei ao trabalho de assistir. E olhe que mesmo com esse equívoco, a série conseguiu bater a audiência de "A Favorita".
Os dois Rafaéis são os grandes guerreiros da música atual. Venceram as enormes filas da seleção, o preconceito, a maratona de várias semanas de programa e chegaram lá. Bernardo tem um gogó de ouro e canta com a voz e o coração. Barreto tem uma voz suave e uma ginga especial. É um cantor verdadeiramente pop (ainda que ninguém saiba direito o que é ser pop).
Chega de tanto grunhido, mãozinha pra lá e pra cá, pernas de fora, mais dança do que canto. Um dos dois vai vencer e pode estabelecer um novo parâmetro de interpretação na música brasileira. Onde saber cantar vai voltar à moda.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A paciência é o limite

Por mais que tente, que force a barra, a Globo não consegue emplacar essa novela "A Favorita". De favorita a novela não tem nada. É um verdadeiro acinte à inteligência do espectador. As personagens da têm provas incontestáveis contra a vilã, interpretada por Patrícia Pillar, mas nunca vão à polícia entregá-las. Preferem desafiar, brincar com a assassina, testar quem é que pode mais. Enchem lingüiça para a novela não acabar.
A Globo está conseguindo superar a sua própria audiência, mas não nos números do IBOPE. Baixou a qualidade dos seus produtos achando que, com isso, prenderia o público menos letrado, aquele que não pode pagar uma TV por assinatura, porém a ignorância de suas novelas não tem paralelo nem com a realidade educacional brasileira. É muito pior!
"A Favorita" é um desastre tão grande que até uma de suas principais intérpretes, a boa atriz Mariana Ximenez, quando tentava elogiar o texto de João Emanuel Carneiro, num dos programas da Rede Globo, mostrou-se uma canastrona: o sorriso amarelo, a falta de entusiasmo na voz, denunciavam o texto mal decorado e mal defendido.
A emissora carioca deixou de ser referência. Passou a imitar a televisão estrangeira e o cinema hollywoodiano. Um filme policial, por pior que seja, demora umas duas, três horas. Uma novela passa durante quase um ano. Ficar-se ludibriando, fazendo pouco da inteligência do espectador, nessa cópia policialesca barata, só podia dar em fracasso.
"A Favorita" devia chamar-se "A Preterida".

Dois sapatos e quinze anos

George W. Bush levou duas sapatadas. O mundo virou uma piada. O cara invade o Afeganistão, invade o Iraque, mata centenas e centenas de pessoas (não é possível saber quantas são, a mídia não divulga), ameaça o Irã e a Coréia do Norte, mantém uma prisão irregular em território cubano, território esse que boicota por puro revanchismo, promove a maior crise financeira em mais de meio século, e leva duas sapatadas?!
O jornalista que teve a coragem de atirar os dois sapatos em W. Bush foi preso e pode passar 15 anos na prisão. Quinze anos por causa de duas sapatadas! E o cara que mandou matar milhares e milhares de pessoas vai deixar a presidência dos EUA e ainda comprará uma bela casa no Texas onde irá morar.
Ainda há quem se impressione por terem existido episódios na história, como o nazismo. Quando vejo os absurdos contemporâneos entendo os fatos do passado. A justiça não pende para o lado da razão.
A ONU puniu o Iraque ao invadir o Kwait, e não foi capaz de aplicar o mesmo rigor aos EUA. A punição não é uma maneira de proteger a sociedade, é também uma proteção ao contraventor. Se a ONU tivesse aplicado sanções aos Estados Unidos, talvez evitasse essa crise econômica - seria bom para o mundo e para os EUA. As Nações Unidas não servem aos interesses do mundo, servem aos interesses dos países que têm mais poder. É tão responsável pelos problemas financeiros atuais quanto aqueles engravatados de Wall Street.
Quando olho para trás e me lembro que John Kennedy, que fez muito menos mal ao mundo, foi assassinado, e W. Bush levou duas sapatadas, penso que as armas já não estão mais em qualquer mão, estão em mãos erradas. Presidentes, de qualquer nação, deviam ser proibidos de usar segurança. Talvez assim, apenas homens de bem ousassem candidatar-se a esse cargo. Pois saberiam que seus atos bárbaros teriam conseqüências bem maiores do que esse episódio do jornalista desarmado X W. Bush cercado de seguranças.
Duas sapatadas...Francamente!

domingo, 14 de dezembro de 2008

De graça, dessa vez

Já achei bom demais se abrir as portas do Teatro Castro Alves para espetáculos a R$ 1,oo. De graça, era demais da conta, e pensei que ia assistir a uma apresentação ruim de uma orquestra local (tudo bem, baiano é tão talentoso, não precisa também saber tocar peças sinfônicas), na Concha Acústica do TCA. Fui acompanhando uma amiga, não peguei qualquer informação acerca do programa.
Quando vi entrar no palco o pianista e regente baiano, Ricardo Castro, percebi que estaria enganada. Ricardo é um dos mais talentosos pianistas baianos e internacionais. Saiu da Bahia ainda cursando a Faculdade, terminou os estudos em Genebra (Suíça) e construiu uma belíssima carreira internacional, com muitos prêmios, pouco divulgada no Brasil.
Certa vez, quando tocou com a OSBA, regida por Isaac Karabtschevsky, o pianista, ao final da apresentação de muito êxito, me confidenciou: "Não existe orquestra ruim, existe orquestra mal regida". Deve ser mesmo verdade, por que ele conseguiu transformar estudantes com pouco tempo de instrumento (alguns com apenas dois meses) em excelentes instrumentistas. Foi um espetáculo de fazer gosto.
No repertório, composições de russos, alemão (Bethoveen), argentinos e brasileiros. Contrariando toda a tradição de orquestras sinfônicas, os músicos se movimentavam em cena, movendo os corpos, sincronicamente, de um lado para o outro, ao ritmo da melodia. O repertório, principalmente nas composições dos argentinos, foi bastante animado, condizente com a Bahia. A excecução de "Trenzinho Caipira", de Villa-Lobos, teve até cantor. No final, no terceiro "bis", a surpresa: "Tico-tico no fubá", de Zequinha de Abreu. Alguns instrumentistas se levantaram e começaram a sambar.
Não sei se toda essa adaptação sinfônica saiu da mente do maestro. O Secretaria de Cultura, Márcio Meirelles, sempre gostou de inovar. Quando diretor do TCA colocou a OSBA tocando com os Filhos de Gandhy. Pode ter havido um certo incentivo do secretário, ou uma articulação conjunta. O fato é que, apesar de gostar de sinfônicas, pela primeira vez vi uma exibição quebrar totalmente a tradição.
A exibição apresentou o Projeto Neogibá, com estudantes ainda crianças e a Orquestra Sinfônica Juvenil Dois de Julho. São os novos instrumentistas sendo formados, sob a batuta de um grande mestre, Ricardo Castro. Mas é também um projeto social da mais alta importância, que dá um futuro, uma carreira, uma direção a crianças e jovens baianos. O público aplaudiu em pé, com grande entusiasmo. A cultura nunca foi tão accessível ao povo.

Proposta indecente

Quando recebi um e-mail mostrando como a Vale do Rio Doce tratava os seus funcionários, transportados como se fossem gado em trens de carga para os locais de extração do minério, fiquei com o pé atrás em relação à empresa. E até tirei algum investimento que tinha nela.
A Vale virou símbolo do sucesso das privatizações. Sempre está entre as ações mais negociadas da bolsa. No ano passado, o fundo de ações dessa companhia chegou a render quase 80%. Pois bastaram seis meses de crise para a mineradora mostrar para todo o Brasil, com destaque (não apenas em e-mail) o que pensa sobre os seus funcionários.
Foi a primeira, entre as grandes companhias, a anunciar demissões e hoje está nas páginas da internete: seu presidente quer que o governo reduza os direitos trabalhistas (temporariamente?!) enquanto durar essa crise. Não fosse pelos próprios funcionários e acionistas, caberia um boicote internacional à companhia. Por que empresas como a Vivo e Natura, poucas, é verdade, continuam crescendo mesmo com a crise, e a Vale, de lucros astronômicos em anos seguidos, não consegue suportar seis meses de retração no consumo?
Depois que o ex-presidente da Nasdaq, bolsa dos EUA, foi preso por fraude no gerenciamento de um fundo de investimentos, a resposta que o governo brasileiro deveria dar à chorosa companhia, era fazer uma investigação cuidadosa na sua administração, nos seus investimentos. Principalmente nos do presidente. Porque fazer-se a Lula, ex-líder sindical, um pedido dessa natureza, como se ele fosse um dos generais da ditadura militar, é quase uma proposta indecente.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Tchau, Oi

Em menos de um mês, com a lei da portabilidade, mais de 3000 usuários de telefone fixo da Oi em Salvador pediram transferência de operadora. Deram um tchauzinho para a Oi. É o fim da prisão. O fim da ditadura nas telecomunicações. Uma medida simples, que FHC não teve a coragem, nem a competência de implementar. Antes da portabilidade, apenas a Vésper (vendidada para a Embratel) havia se aventurado no ramo da telefonia fixa. Não havia concorrência, a Oi (antes Telemar) ditava o preço e as condições que queria. Uma indecência que começa a acabar.
GVT, TIM, Embratel e Nextel são as operadoras que estão chegando a Salvador. A Embratel já estava, com o Livre, mas sem oferecer acesso à internete rápida, que agora já oferece. Acho que as minhas dores estomacais vão cessar quando tiver que falar com a Oi. Já não sou mais sua prisioneira. Um bem-vindo às outras empresas e aplausos para todo e qualquer consumidor que exercer o seu direito de escolher a operadora que melhor lhe convier.
Está na hora do governo pensar numa mudança também no ramo de fornecimento de energia elétrica. Se foi possível nas telecomunicações, também será possível na energia. Não é razoável que sejamos obrigados a agüentar todo o desrespeito da Coelba que corta a luz, sem qualquer aviso. E também pensar num tratamento mais respeitoso por parte da Embasa, que não foi privatizada, porém, na conta d"água, temos que pagar uma taxa absurda da 80% de esgoto, por conta do Bahia Azul, e as caixas dos hidrômetros sequer são limpas pela companhia.
Se é tempo de liberdade, que ela seja ampla, geral e irrestrita.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Hitler baixou em Salvador

Encontro amigos que não via há algum tempo. Uma, funcionária pública, comprou um apartamento quarto e sala, cursou uma faculdade e já sonha com uma pós-graduação. Um casal comprou um carro, quitou o apartamento e o prédio do conjunto habitacional onde mora agora tem interfone, portão eletrônico e piso de granito nas escadas. Essas histórias me deixam alegres.
Chego no prédio onde dois amigos moram e o porteiro me diz que vai comprar um carro. Como assim? Porteiro comprando carro? Essa notícia me deixa eufórica . Em toda a minha vida nunca vi, nem ouvi, o porteiro de um prédio dizer que vai comprar um carro. Sinto, depois, uma certa melancolia; há 12 anos esse porteiro já poderia ter começado a pensar em comprar um carro. O povo brasileiro tirou dele essa chance nas urnas.
Outro dia assistia a um programa de TV, desses estilo "mundo cão", aqui da Bahia mesmo. Uma senhora chorava porque um barranco desabou e destruiu a sua casa. Arrasada, ela dizia ao prefeito que havia votado nele e agora estava passando por essa situação. O Brasil perdeu 12 anos, Salvador já perdeu, pelo menos, uns 30.
Como se elege um prefeito, poucos meses depois dele ter sido apontado o pior entre 12 capitais brasileiras? Tive pena daquela senhora, muito menos pena do que já senti anos atrás, quando essas pessoas estavam sob o efeito hipnótico de ACM. Tivemos cinco candidatos, das mais diversas correntes políticas, se o eleito foi JH, estão se queixando de quê?
Desde a sua reeleição, JH já mandou barraqueiros deixar o seu trabalho honesto numa área para construir um parque, já cortou os direitos a passes livres de vários necessitados, e agora declara que vai corrigir o IPTU, não de acordo com a inflação, mas de acordo com a valorização dos imóveis.
É, esse é JH, aquele que vivia entrando na justiça contra os abusos do seu antecessor. Qualquer aumento do IPTU, qualquer aprovação de novo imposto, lá estava ele "defendendo" a população. Nunca retirou uma só taxa contra a qual protestou e agora anuncia uma medida completamente nazista.
Quem, na maioria da população, tem o reajuste de salário vinculado ao crescimento do PIB brasileiro, ao crescimento (em dólar) das exportações, ou da arrecadação do governo federal? Como se pode fazer frente a um aumento de IPTU atrelado à valorização do imóvel? Imbassahy acabou com muitos clubes baianos por causa do IPTU, pelo menos não havia pessoas morando neles. JH vai expulsar os soteropolitanos de suas casas.
Tentei convencer a tantos eleitores que toda a "bondade" de João Henrique tinha a ver com os partidos que o apoiavam, e com aquele ao qual ele esteve filiado durante boa parte de seu mandato (o PDT). Ninguém quis ouvir.
Imagine quantas pessoas que moram no cabula, por exemplo, onde há construtoras interessadas em construir condomínios de luxo, vão ter dificuldades para pagar esse absurdo. Desconfio que a medida foi pensada exatamente para isso: favorecer as construtoras que estão vindo de várias partes do país aproveitar-se do PDDU, até agora em disputa judicial.
As pessoas perdem a casa, por falta de pagamento do IPTU, e as construtoras têm onde construir. Hitler foi tão perverso quanto, isolou os poloneses num gueto.
O governo de JH está apenas começando. Aquela senhora que chorou em frente às câmeras mas que, certamente, não chorou ao depositar o seu voto na urna, pelo menos não vai se aborrecer com o aumento do IPTU. Ela não tem mais casa.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Os paulistas cochilaram

Pela primeira vez, numa final de programa para se escolher um novo ídolo musical, dois baianos estão na decisão final. Acho que é porque paulista trabalha muito, precisa acordar cedo por causa dos engarrafamentos, e o programa "Ídolos" (Rede Record) ia ao ar depois das 21h30min. Eles não assistiam e não podiam votar.
Nas duas últimas semifinais havia paulista na disputa. Na primeira, um paulistano foi eliminado. Na última quarta-feira, uma habitante do ABC. Dois baianos, Rafael Barreto e Rafael Bernardo, vão fazer a final. Inacreditável! Só mesmo o relógio para explicar.
Eles são bons. Gosto mais de Barreto do que de Bernardo. Maria Christina, do ABC, e Paulo Cremona (SP) também eram excelentes...e dançaram. A Bahia, todos sabem, é um celeiro artístico da mais alta qualidade. Só que para cada baiano que conseguia vencer no mundo artístico (na música, artes plásticas, cinema, teatro, etc) havia, pelo menos, uns 20 cariocas e paulistas.
Certa vez fui cobrir uma exibição do Balé Teatro Castro Alves - uma companhia que nada devia às companhias do Brasil ou mesmo do exterior - para um jornal da Salvador. O público adorou a exibição da coreografia sobre a revolta dos malês. A crítica do sudeste fez sérias restrições. Uma leitora baiana achou que eu havia sido "comprada" pela companhia, pois comentei a grande aceitação do público e ignorei as ressalvas da crítica.
Durante décadas foi assim, a imprensa/crítica do sudeste fazia tudo para diminuir o nosso talento. Ainda hoje isso acontece - na música axé, por exemplo. Nos programas de calouros ou para a escolha de ídolos, o axé é sempre ignorado na seleção do repertório pela sua produção e, na maioria das vezes, pelos próprios participantes.
Apesar de ainda haver restrições, a imprensa teve que se render ao público Os baianos conseguiram o seu espaço. Derrotar dois paulistas para uma final de programa na TV até parece final de novela.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Para responder a Cainã

Hoje vou "comentar um comentário" de uma figura espertíssima, Cainã, tão esperto que não quis se tornar funcionário público. Cainã me perguntou se, no texto "Para não falar de baianos", quando eu digo que Lula era contra a reeleição, e se reelegeu, era um elogio. Respondi a ele, mas quero comentar (blog é legal. A gente fala o que quer).
Cumprir normas não é muito habitual. Em qualquer lugar do planeta. No Brasil, já é um abuso. Houve muitas questões sobre as quais o PT, enquanto oposição, era contra. No poder, tornou-se a favor. Em relação ao presidente, lembro-me de duas (houve outras): a reforma da previdência social, que resultou na saída de petistas históricos do partido, e a reeleição. A reforma da previdência foi aprovada no governo Lula, como uma de suas primeiras medidas. A reeleição, não.
Daí porque, lembrei no texto, que Luís Inácio era contra, mas se reelegeu. Foi contraditório, porém ele cumpriu a lei. Gosto de pessoas que cumprem a lei. Ainda mais no Brasil, onde as leis são pouco respeitadas e costumam ser alteradas de acordo com os interesses de quem as aplica.
Lula poderia não ter se candidatado - se ele tivesse feito do seu segundo mandato um festival de horrores, eu estaria aqui descendo a madeira! O segundo foi bem melhor que o primeiro (com as ressalvas já feitas no texto "Para não falar de baianos"). Aí, fica difícil criticá-lo. Ele cumpriu a lei e trabalhou pelo povo, não se candidatou apenas para evitar que José Serra, por exemplo, chegasse ao poder (um dos motivos para a reeleição de FHC foi evitar que Lula se elegesse; com o segundo mandato FHC praticamente entregou-lhe o governo).
Pela primeira vez na redemocratização do país eu até gostaria que o presidente não cumprisse a lei - ficasse uns...16 anos! Talvez aí não fosse Lula, porque, não sei como, esse ex-habitante de Garanhuns gosta das leis. Com alguns deslizes ele as vai cumprindo. E é incrível notar como o exemplo acaba influenciando as pessoas.
A violência tem aumentado no Brasil, a ladroagem também; porém, no dia-a-dia, ser desonesto está deixando de ser legal. Nos últimos meses, em três ocasiões, eu me esqueci de um objeto em algum lugar. Um desses objetos era um celular. Nas três ocasiões, os objetos foram devolvidos. Até o celular. Por um segurança do Banco do Brasil.
Pode ser que chegue o dia em que, a exemplo da inflação de 80% ao mês, não ter um objeto devolvido cause espanto aos brasileiros. E o governo Lula terá valido a pena. A um preço: cumprir a lei e encerrar os únicos mandatos, na história recente desse país, onde o povo esteve na agenda do presidente (ah, fica uns 16 aninhos...).

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Para não falar de baianos

O meu amigo Cristiano gosta de ler o meu blog. Também gosto do blog dele. Ainda vou aprender a indicá-lo para quem acessa o meu. Cristiano tem uma queixa dos meus escritos, diz que eu falo muito dos baianos. Hehehe. Queria que falasse dos coreanos? (falo de chineses, eles estão na moda). Pois em homenagem a Cristiano não vou falar de baiano, vou falar de carioca: do governador Wagner.
Hehehe.
E só para que Cristiano tenha do que se queixar, vou falar também de baiano: do ministro Geddel Vieira Lima. Fazendo o estilo do meu amigo, não agüento mais o tanto que a imprensa baiana escreve sobre os dois.
Quase não leio jornais e revistas impressos. Informo-me através da televisão e da internete. Os blogs locais falam dos dois diariamente. Além dos sites dos jornais baianos. Eleição no Brasil é uma coisa engraçada. Basta acabar uma para já se pensar na outra. Faltam ainda dois anos para Lula deixar o governo e desde que ele se elegeu, em 2006, já estavam pensando em 2010.
Sou avessa a rótulos, portanto não me considero lulista, petista, esquerdista, ou qualquer coisa assim; o que sinto é um calafrio quando penso em Lula deixando o governo. Parodiando a frase principal da sua campanha pela reeleição, em 2006: "Deixa o homem ficar!". É incrível: desde que o país se redemocratizou, nenhum eleito cumpriu a duração constitucional de seu mandato. Sarney ampliou-o em um ano (para deixar o país com uma inflação de 80% ao mês. Quando conto isso a um adolescente ele pensa que é piada. E não é que era mesmo? Sarney adora uma piada: coogita em voltar à presidência do senado).
Fernando Collor foi expulso do Palácio do Planalto por um movimento popular e não completou o mandato. Itamar Franco o substituiu e não pleiteou nenhuma prorrogação (também, não havia sido eleito, era vice). Se soubesse que o tal Plano Real iria funcionar, teria pleiteado. Parece que, ou ele e sua equipe o fizeram com objetivo eleitoreiro (como os vários planos econômicos lançados antes), ou alguém o enganou, dizendo que era, se elegeu, depois levou o plano adiante, porque nunca foi eleitoreiro.
FHC mal entrou no governo já foi dizendo que quatro anos eram insuficientes e conseguiu aprovar a reeleição. Ficou oito, quase chegou a privatizar a calçada de Copacabana, quebrou o Brasil algumas vezes, promoveu o apagão energético, mas com a ajuda de Armínio Fraga, e muito empréstimo no exterior, manteve a moeda brasileira parelha às grandes moedas internacionais, acabando com o fantasma da hiperinflação. Poderia ter sido um grande presidente, pensou mais no poder do que no povo.
Aí veio Lula - mesmo contra a reeleição, se reelegeu (e por enquanto está cumprindo o mandato previsto em lei). É o único dos presidentes pós-ditadura a começar o governo com uma popularidade, um índice de aprovação, menores do que depois de governar. Lula gosta do poder, porém não se esquece do povo. Podia transformar o Brasil - será que uma andorinha só faz verão?
Seu governo investe pouco em educação e não consegue acelerar a distribuição de renda, apesar do PIB brasileiro crescer em níveis históricos. Talvez faça o sucessor. Aqui na Bahia temos o exemplo daquele que vai fazendo e fazendo e fazendo o sucessor. Até que a bola bate na trave. Quem for o sucessor de Lula não será Lula. Pode ser que seja melhor do que Lula... Eu, se ele fosse fundo na educação e na distribuição de renda, lhe dava mais uns oito anos.
Falei de Lula (que é pernambucano), de FHC (paulista), Sarney (maranhense), Collor (alagoano) e....de um baiano, Itamar Franco. Ele nega, finge que é mineiro. Acabei quase não falando de Geddel e Wagner. Também, quem agüenta? Por que nenhum dos dois nasceu lá no interior de Pernambuco? Com Wagner fico que nem a torcida do Bahia, fazendo uma força, uma corrente para que ele suba para a Primeira Divisão. É calmo, é sereno, não se mete em baixarias, mas podia fazer uma grande realização e correr pra galera (não me convenceu fazer um complexo Dois de Julho; parece falta de raça em devolver o nome histórico, ao povo baiano, do aeroporto). Tudo bem, faltam dois anos, a torcida espera.
E Geddel? O fogo comendo na Chapada, e mais de um mês depois o ministro anuncia, com grande alarde, que enviou brigadas para o local. Será que conseguiu apagar algum rio? E ainda tem plástico oposicionista colado em carros chamando o outro de wagareza.
Façam-me o favor, vão fazer um estágio lá pelas bandas de Garanhuns!

domingo, 7 de dezembro de 2008

É só para dar um Oi

O ex-presidente FHC não se eternizou, pelo menos em minha vida, apenas ao entrar para a história como dirigente máximo do Brasil. Lembro-me dele cada vez que preciso fazer uma ligação telefônica. Antes das irresponsáveis privatizações iniciadas por Collor de Mello e prosseguidas por FHC, falar ao telefone era uma delícia. A Telebahia, empresa estatal, era eficiente, ganhava muitos prêmios pelos seus investimentos tecnológicos, tinha tarifas bem em conta para os usuários, além de prestar serviços de reparo gratuitos.
FHC disse que era preciso privatizar, pois o país estava falido (e ele continuou falindo o país por, pelo menos, uma três vezes). A privatização, além de todas as denúncias já feitas, transferiu um monopólio estatal para um monopólio da iniciativa privada. Enquanto estatal, o monopólio visava mais o serviço que o lucro. É verdade que as linhas telefônicas eram caras e difíceis de serem encontradas. O consumidor, porém, podia falar ao telefone.
No monopólio privado, todo mundo pode ter uma linha telefônica, mas o consumidor é tratado de maneira deselegante. A Oi, empresa que substituiu a Telemar (campeã de reclamações junto ao Procon) comete tantos abusos que ainda não sei como continua sendo prestadora de um serviço tão importante.
Já fui vítima de muitos abusos da companhia: cobrou-me um aluguel de modem para a instalação da velox, além do tempo permitido em lei (quando reclamei, suspenderam a cobrança, mas se recusaram a devolver o dinheiro cobrado indevidamente); pela velox, que custa cerca de R$ 82,oo estavam me cobrando mais R$ 5,00 (notei o problema; dessa vez, me devolveram o dinheiro); fiz um contrato de Oi Conta Total, no contrato não havia nenhuma cláusula de majoração do serviço, foi aumentado; pedi informações sobre a velocidade do velox, só me deram as duas maiores velocidades, omitiram a de menor rapidez e, conseqüentemente, menor custo.
Se for citar todos os problemas e números de protocolos que já abri na Oi, escrevo um livro. Meu estômago fica revirado, cada vez que tenho de fazer uma reclamação à empresa; cada atendente dá uma informação diferente e é muito difícil a reclamação ser atendida.
Somente agora, depois de vários anos da privatização, outras companhias estão chegando competitivamente ao mercado, o que abre a possibilidade do consumidor poder escolher. Os preços, estratosféricos, talvez não mudem, é só olhar os preços de minuto da telefonia móvel, iguais entre si (apenas os planos é que mudam); pelo menos, com uma maior competitividade, talvez o atendimento seja mais afável e os abusos contra o consumidor diminuam. É como diz Júnior, investidor contumaz da bolsa de valores, com os preços da telefonia, telefone hoje é "só para dar um oi".

À espera de um ídolo

Esses programas de televisão, feitos para se escolher um futuro astro da música, não têm dado muita sorte aos seus vencedores. Geralmente aqueles que não vencem conseguem seguir na carreira. Adelmo Casé, do Negra Cor, e Thiaguinho (vocalista do Exalta Samba), não foram os vencedores do "Fama" (Rede Globo), enquanto Vanessa Jackson, vencedora de uma de suas edições, desapareceu da mídia.
Com muita descrença comecei a assitir "Ídolos", na Rede Record, apenas para me divertir, pois sabia que na versão do SBT o programa tinha como mote explorar as ridículas participações. Na Record "Ídolos" recebeu uma roupagem séria, com o intuito de realmente descobrir um novo cantor (como se já não bastasse os milhares que aparecem a cada dia na música mundial).
A princípio foram os jurados contratados pela emissora que apontavam os que continuavam na disputa. Nas fases finais, começou a participação do público. Aí pensei: "Vai ser um desastre! Mais um cantor inexpressivo será escolhido". Para minha surpresa os melhores foram realmente sendo escolhidos.
Os últimos finalistas vêem, semana a semana, dando um verdadeiro espetáculo. São cantores realmente muito bons, apenas um irá vencer, mas pelo menos seis ou sete têm grandes chances de ingressarem com êxito na música brasileira. Nesta semana restaram três: dois baianos, ambos Rafael (Bernardo e Barreto) e uma paulista, Maria Christina.
Perdi alguns programas, não sei dizer se esses seriam também os meus preferidos. Na fase em que ficaram 30 dos 30 mil inscritos, havia uma sambista Helen, muito boa, que poderia ter ido para as finais (não foi selecionada pelos jurados). Já nas finais, uma carioca, Cássia Raquel, com uma voz potente, foi desclassificada, e no último programa o paulistano, Paulo Cremona, de admirável carisma, também saiu.
Os três finalistas são fabulosos. Rafael Bernardo tem uma voz e afinação capazes de cantar, sem qualquer desvio, desde músicas interpretadas por Milton Nascimento até Elis Regina. Maria Christina é de uma doçura inigualável e Rafael Barreto, com um lindo visual, sabe dividir muito bem uma melodia e dá uma interpretação própria a cada canção.
A julgar pela página dos três na internete, Barreto é o preferido. Conta muito a sua beleza, num programa onde as mulheres costumam ser as maiores votantes. Se ele for o escolhido, não será apenas por isso, tem a mesma qualidade vocal dos outros dois, com a beleza de acréscimo. Fico satisfeita ao ver que, ao contrário de outras atrações televisivas semelhantes, não prevaleceu o bairrismo. Os participantes do sudeste sempre saíam na frente devido à maior população desses estados. Dessa vez, parece que os votantes olharam a qualidade, não o local de nascimento. Pode ser que o ídolo do "Ídolos" realmente emplaque.

O sutiã e o bom senso

Há uma lei da economia que diz:"Quando a demanda é maior do que a oferta, os preços aumentam; quando o contrário acontece, os preços caem". Na economia moderna, há algum tempo essa lei foi abandonada. Isso porque inventaram os cartões de crédito, os empréstimos bancários, os financiamentos a longo prazo. O sujeito só não compra se lhe faltar crédito. Pois no último sábado fui a um shopping da cidade comprar uma alça de silicone para um sutiã. Paguei R$ 83,00 há cerca de um ano por um sutiã cuja alça já quebrou. Para sorte minha, a empresa vende a reposição. Ao entrar na loja de peças íntimas, vi um bustiê, um sutiã com um pedaço de pano até a cintura, muito bonitinho. Resolvi, por curiosidade, olhar o preço: R$ 319,00. Para mim essa é a metáfora dessa crise econômica, quando um sutiã com um pedaço de pano passa a custar mais de 300 reais é porque algo de muito desastroso vai acontecer.
Como disse no início, a economia se desvinculou das suas leis básicas. Os preços dos produtos não correspodem mais ao custo de sua fabricação acrescido ao percentual de lucro do vendedor, eles agora são uma composição complexa entre custo, possibilidade de venda e desejo do consumidor. Porque, além de tudo o que já citei, temos hoje a publicidade e, além dela, o marketing. Nem sempre se compra o produto, mas a marca, que geralmente nem é a de melhor qualidade, é a de melhor marketing.
Séculos atrás, nos primórdios do capitalismo, a impressão de dinheiro estava vinculada às reservas em ouro de cada país. Cada moeda impressa tinha o correspondente em ouro. Nenhum país quebrava porque não imprimia mais do que tinha. Na economia moderna não é assim, um país pode quebrar quantas vezes quiser, pois há sempre um banco internacional interessado em lhe dar um empréstimo a juros exorbitantes. Não é preciso lastro para se ter dinheiro.
Há mais de seis meses as bolsas despencam, fábricas demitem (ou fecham), grandes empresas recorrem ao socorro do governo, ou a empréstimos bancários. Tudo isso por necessidade? Não, para se manter a realidade exatamente no nível em que está, com um bustiê custando R$ 319,00. As montadoras poderiam vender todos os seus carros, se baixassem os seus preços. Não baixam, porque aí vai ser difícil colocar novamente os preços no patamar exorbitante atual (nos EUA e na China elas foram pedir socorro). No Brasil, a gasolina não cai como o barril do petróleo, a Petrobrás é que vai à Caixa Econômica pedir empréstimo.
Quando essa crise começou apostava no bom senso dos governos e dos empresários. Que ingenuidade! É porque ainda não havia ido àquela loja do shopping. Bom senso não existe mais no mercado. O que existe é a ganância, a necessidade de um lucro rápido e fácil. Pode ser que essa crise passe com os governos gastando bilhões para manter os mercados nos níveis em que se encontram, o mais provável é que isso não aconteça. O mais provável é que seja preciso a volta do bom senso.
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Que dólar que nada

A minha amiga Janaína, figura antenada e administradora de algumas lojas que vendem produtos de informática, está preocupada com a escalada do dólar. Tento convencê-la (huahuahua) a mudar de ramo, a vender produtos chineses - alguns vasos Ming, por exemplo. Há um bom tempo que me convenci de que nada é mais ilógico do que a economia, ainda mais quando as finanças americanas estão descendo pelo ralo e as pessoas estão comprando dólar! Continuando a falar sobre a minha amiga Janaína, os vasos Ming e a China, se ninguém notou, eu notei.
Os EUA lançaram pacote econômico, a Europa lançou pacote econômico, até o Brasil gastou suas reservas para reanimar a economia (ô ministro Guido, pare de esconder o jogo e abra logo esse cofrinho), mas as bolsas só começaram a se estabilizar quando a China lançou o seu pacote. Precisamente na primeira quinzena de novembro passado. Depois de passar meses caindo mais de 10%, o Ibovespa fechou o mês de novembro com uma leve queda de 1,7%.
Não gosto da China. Os chineses invadiram o Tibet e o mundo inteiro não saiu em protesto, como fez contra a invasão do Iraque. Porém há que se considerar que os chineses derrotaram os EUA, invencíveis há várias edições, nas olimpíadas/2008, e vão derrotá-los na economia. Foram os EUA que criaram essa economia tipo "fast-food", com produtos feitos para serem substituídos em pouco tempo.
Com esses produtos levaram a nocaute a Europa, que teve de se unir para não sucumbir. A culinária francesa é um luxo; a estadodinense, um lixo, mas foram os EUA que espalharam a sua culinária-lixo no mundo todo. Os produtos europeus, feitos com rigor, para ter qualidade (como os vinhos, o uísque, champagne, perfumes, relógios) e que custavam caro por isso, foram sendo substituídos pelos produtos feitos nos EUA, sem muito rigor e bem mais baratos.
Até que veio a China. Com produtos ainda mais baratos e sem qualquer preocupação com a qualidade. Ah, eles não inventaram o "fast-food" - souberam dar o troco. Afinal, o italianos também não inventaram o macarrão, foram os chineses, mas quem ganha dinheiro e leva a fama?
O consumidor atual não quer um sapato caro que dure 10 anos, ele quer dez pares de sapatos baratos que durem um ano. Porque, como diz o nome, o consumidor quer consumir, gastar, ter a impressão de que está satisfazendo o seu desejo. O incrível é que a China é comunista!
Pois os chineses são o "fast" do "fast-food" e com eles estão puxando a indústria do chamado Bric (Brasil, Rússia, China, Índia). Já comprou uma roupa indiana? Algum tempo atrás elas faziam muito sucesso entre os chamados "bichos-grilo", o pessoal meio "hippie", meio naturista. Experimente colocá-la na máquina de lavar. Ela sai pior do que um pano de chão. Mas o preço é pequenininho. Comprou recentemente um sapato brasileiro? Pois têm uns que já no terceiro mês perdem a sola. Leve-o ao sapateiro, vai ver que dentro de um salto plataforma há um buraco negro. Da Rússia não posso falar, a única coisa que já consumi daquele país, ao que eu saiba, foi a vodka. Eles andaram até vendendo carros para o Brasil, que vinham com um kit de mecânica, não deu muito certo.
Espero que não tenha que aprender a falar mandarim, nem puxar os meus olhos amendoados. Cabelo, tudo bem, o meu já é liso mesmo. Só acho que já deveria ter começado a comprar uns yuans.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Colocaram água no chope de Lula

Não, não é nenhuma referência àquela história de que Lula gosta de tomar uns golinhos. Por que quem não gosta de um bom vinho, um chope gelado, até de uma cachaça bem brasileira? Falo é da economia mesmo. Desde que assumiu a presidência que Luís Inácio é só sorrisos. O Brasil comemorava bons índices na balança comercial, no aumento de emprego, no acúmulo de reservas; a moeda se valorizava e o governo conseguia manter o superávit primário para pagar a dívida externa (só uma notícia foi dada, como um rodapé de página, o número de favelas aumentou).
Como se diz: quanto maior a altura, maior a queda. Lula e a sua equipe demonstraram que sabem governar quando a maré está boa, quando começa a turbulência... Pelo visto ninguém avisou ao presidente, nem Henrique Meirelles (indicação para o Banco Central que a ex-petista, Heloísa Helena, tanto repudiou - será que tinha razão?) que o dólar não ia valer menos que o real. Era o que quase estava começando a acontecer. Deviam ter avisado ao presidente que a situação da moeda estrangeira, naquele nível, era insustentável (apesar do crescimento dos últimos anos, não se pode comparar a economia dos EUA, mesmo em crise, com a do Brasil), algum acidente de percurso iria acontecer.
Quando os problemas se iniciaram, no meio deste ano, Lula ainda era só sorrisos. E não é que ele, repentinamente, desapareceu dos noticiários. É figurinha fácil apenas nas reuniões internacionais para se resolver os caminhos da economia mundial.
Momento ruim para acontecer uma crise dessa dimensão. Logo agora que Luís Inácio arregaçou as mangas e lançou o PAC, Programa de Aceleração do Crescimento (seis anos depois de chegar à presidência, seis anos...). Se tudo tivesse continuado em absoluta serenidade, o PAC seria um sucesso, a economia estaria "bombando" e o PT (diga-se Lula) faria o sucessor.
Nunca é tarde para lembrar-se ao presidente: "Quando a esmola é demais, o santo desconfia". Fosse ele um pouco mais acelerado, já teria lançado o PAC bem antes; fosse ele um pouco mais prudente, não acharia que o dólar podia valer, excetuando-se por decreto, R$ 1,57, sem que um desastre acontecesse.
Apenas duas moedas se valorizaram frente à estadodinense, nessa crise, as moedas da China e do Japão (a libra, inglesa, continuou como sempre à frente do dólar).
Com a imprudência da sua equipe econômica, os últimos anos do governo Lula serão desafiadores. A Vale (era mais bonita quando se chamava Vale do Rio Doce) começou a demitir, as passagens aéreas começaram a subir, os pátios das montadoras estão abarrotados, a Petrobrás está pedindo empréstimos e o dólar não pára de subir.
Não há calmaria no Brasil. Aqui, há décadas, só se falava em crise, o governo Lula pôs o país para andar, a palavra crise praticamente desapareceu, e eis ela de volta, dessa vez em dimensão internacional.
É carma, diriam os budistas; é repetição, diriam os psicanalistas; é incompetência, diriam os economistas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

O fim do fim

Desde que a música axé começou que dizem que ela acabou. Já nem consigo mais contar o número de vezes em que ouvi alguém dizer que o axé havia acabado. Novamente alguém o declara: o produtor musical, ex-músico, ex-dono do bloco EVA (ou será que continua?), e agora escritor, Jonga Cunha.
Não li o livro de Jonga, recém-lançado, que fala sobre a sua trajetória no campo da música baiana, comento as declarações feitas a um site de jornal de Salvador. Desde que surgiu, nos anos 80, ninguém soube dizer muito bem o que era o axé (termo cunhado, perjorativamente, pelo roqueiro Marcelo Nova - axé music). O fato é que o termo pegou, e toda canção trio-eletrizada, era assim denominada.
Não se pode dizer que o axé seja um estilo; existem muitos estilos dentro do axé. Porém é uma música característica, com uma finalidade bem definida: o carnaval. Profetizar-lhe um final é a mesma coisa que acabar o carnaval, a não ser que o "entreguemos", como sempre fizemos com todas as nossas riquezas, aos estrangeiros, que já estão tomando o carnaval com irritantes trios "technos".
Como o baiano não é igual ao pernambucano - quando sentiu que o trio elétrico ia destruir o seu frevo foi logo restringindo o avanço -, estamos permitindo que venham artistas de todo o mundo, que nada entendem da festa mais popular do planeta, ocupar o palco dos baianos. Mesmo assim, com toda essa invasão, tal qual os portugueses contra franceses e holandeses, estamos resistindo.
Parece que alguns baianos têm vergonha da autêntica música produzida na Bahia, aquela que abriu espaço nas rádios locais e nacionais, transformou uma programação, mais de 60% internacional, em mais de 60% nacional; fez shows gigantescos; lançou artistas em todo o mundo e até fez o trio elétrico chegar aos Estados Unidos e Europa, e empregou tanta gente!
Esses que profetizam o fim da música axé certamente acham que o rock deveria ter parado nos Beatles, ou o blues em Charley Patton. Quem ouve o rock de hoje, com seus diversos segmentos, nem vislumbra os traços da sua raiz. Jonga diz que a música baiana é pop, é "world", algo que também ninguém sabe definir muito bem - pop, "world"...
O samba, o chorinho, a bossa nova, axé, frevo (não vejo pernambucano profetizando o fim do frevo) são ritmos genuinamente brasileiros, vão ficar sempre em nossa música. O estranho é o produtor dar uma declaração desta no momento em que a artista Cláudia Leite, legítima representante da música axé, é convidada para cantar na festa de ano novo paulista e pede, como cachê (informa um site), uma quantia de sete dígitos. Nossa, que epílogo caro!
Se houve um fim, foi na hegemonia da música axé, por que, tal qual uma praga que destrói toda uma lavoura, ela chegou a sufocar todo e qualquer outro movimento musical que surgisse na Bahia. A Bahia tornou-se eclética, dando espaço a artistas como Mariene de Castro e bandas como Negra Cor (que tem lá uma pontinha no axé). Aqui pode não se nascer apenas axé, mas que se nasce, nasce.