Anos atrás, recebi como resposta de uma amiga fotógrafa, da razão dela fotografar os países de população de baixo poder aquisitivo, e não países considerados desenvolvidos, que têm belas paisagens, a resposta: "Porque os países desenvolvidos já deram o que têm que dar". Ela esteve em lugares como a Índia, a China, Afeganistão, Paquistão, Tibete. Isso, como disse, há anos atrás, quando China e Índia não tinham começado o "boom" de desenvolvimento.
A minha amiga parecia premonitória. Toda essa crise financeira tem um fator de que pouco se fala. Durante os últimos anos, empresários, investidores, banqueiros, procuraram os países ditos emergentes na busca do lucro mais fácil e rápido. No Brasil, por exemplo, sob a presidência do PT, a bolsa de valores saiu dos 7000 pontos para alcançar um pico de 73000 pontos. E, dinheiro fácil, sempre foi uma busca do ser humano, desde tempos distantes, como aqueles em que os antigos navegadores lançavam-se ao mar em busca de continentes inexplorados onde havia muito metal precioso.
Muito se lucrou nesses países, e muito esses países lucraram. Quem imaginaria, por exemplo, que o Brasil chegaria a ser o quarto maior credor dos Estados Unidos? Ou a ter uma reserva de 200 bilhões de dólares. Se a minha amiga fotógrafa já tirava os seus cliques do Primeiro para o Terceiro Mundo, os donos do poder financeiro também fizeram migrar os seus investimentos.
O presidente de uma dessas instituições financeiras que monitoram a economia mundial, se não me engano do FMI, disse que as perdas com toda essa crise financeira podem chegar a 12 trilhões de dólares. O interessante é que esses números são dados no momento de crise, mas ninguém, nesses anos todos de calmaria, disse qual foi o lucro de investidores, banqueiros, empresários, especuladores.
Ora, como não se rasga dinheiro, e se esse dinheiro que veio da especulação e investimentos não está nas instituições financeiras, que foram à bancarrota (ou que ainda estão por ir), dos países desenvolvidos, tem que estar em algum lugar. Desaparecer, não desapareceu.
Uma outra amiga tem uma resposta simples para onde encontrá-lo: "Nos paraísos fiscais". É, pode ser, mas também estão nos cofres dos chamados países emergentes.
Querer que eles paguem a conta pela crise, é uma estupidez bushiniana, mas também achar que eles vão poder ficar à margem de todo esse esforço mundial para evitar uma derrocada da economia, é também uma ilusão. Por que se eles viveram tempos de cigarra, que puderam cantar enquanto o inverno não chegava, está na hora de viver tempos de formiga, por que o inverno chegou. Mesmo que o presidente Lula, por exemplo, se queixe do cassino da economia americana, ah, "fala sério", o Brasil lucrou muito com esse cassino. E toda vez que a economia de um país sub-desenvolvido, em desenvolvimento ou emergente (seja o nome que derem para eles) quebrava, era nas instituições primeiro-mundistas que iam buscar empréstimos, regiamente pagos, para sanear as suas finanças. Aí ninguém ligava para a economia de cassino.