sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Ilógica bolsa

O que mais me irrita em bolsa de valores é a sua total falta de lógica. A Petrobrás e a Vale anunciaram lucros altíssimos neste último trimestre, mesmo assim as suas ações continuam em baixa. A queda nos preços do petróleo e do minério de ferro em nada afetaram o desempenho financeiro dessas empresas.
Por outro lado, empresas como a Tim Participações e a Natura, que não divulgaram em mídia de grande alcance os seus lucros, nada sofreram em relação às suas ações. Mesmo com o pânico internaciomal, os papéis dessas duas companhias se mantiveram absolutamente estáveis. A Tim na faixa dos R$ 6,00, e a Natura, R$ 18,00. E a Vivo, que mesmo com todo esse desajuste financeiro mundial, subiu 150%? Aceita-se explicação.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Teste de popularidade

O prefeito reeleito João Henrique resolveu dar uma de Sarney e Lula em seus primeiros dias de mandato. Sarney, logo que foi empossado, resolveu andar nas ruas sem segurança, logo percebeu o absurdo da idéia, e voltou ao seu "cercadinho". Lula também fez o mesmo, abraçava todo mundo, quebrava o protocolo, deixava os seguranças doidos; agora, mais comedido, só comete maiores arroubos no exterior, e foi lá, que ao quebrar o protocolo, acabou sendo alvo de uma "pegadinha" da televisão espanhola.
Pois João, como prefere ser chamado, foi testar a sua "imensa" popularidade no Barradão, no jogo Vitória X Flamengo. Carregado por eleitores/torcedores teve a sua carteira roubada. Ah, mas tinha um policial de plantão para pegar o "mão leve". Benvindo à realidade nossa de cada dia, JH, a diferença é que nós não encontramos policiais sempre tão prestativos!
Aliás, a reeleição não tem trazido muita sorte ao prefeito. Ele acaba de ser despejado do casarão onde mora em Alphaville. Não, não foi por causa de algum barranco que desabou, nem da falta de pagamento do IPTU. Ele é uma das muitas vítimas, mas do seu PDDU. O condomínio está infestado de barbeiros e escorpiões. Ainda bem que o prefeito tem para onde ir, senão ia ser mais um sem-teto nas ruas da cidade. Quem manda sair por aí desmatando onde não se deve..
Por enquanto os barbeiros e escorpiões estão lá por Alphaville, uma graça vai ser quando começarem a baixar pelo centro. Já temos uma invasão de mosquitos da dengue, agora teremos também barbeiros e escorpiões. É a cidade, finalmente, chegando ao século XXI. Chato os eleitores não serem tão politizados quanto esses bichinhos; se fossem, muito políticos estariam deixando às pressas os seus gabinetes.

Um campo de monotonia


Não sei porque o Brasil tem sempre que ir a reboque do mundo, imitando padrões estrangeiros (mesmo quando o nosso padrão é melhor). É o caso do futebol, cinco vezes campeão mundial. O campeonato brasileiro era interessante, emocionante até o final. Só se sabia o vencedor no último jogo. Aí, algum "sabidinho" achou que devíamos seguir o enfadonho padrão europeu, de pontos corridos. E o campeonato brasileiro tornou-se algo tão chato que até na TV a sua audiência tem despencado.
A mudança não levou em conta, por exemplo, o fato de que existem disparidades econômicas muito grandes entre os clubes brasileiros (ou até tenha sido promovida por isso, para evitar "azarões"). Se, no modelo antigo, um clube com menor estrutura como o São Caetano podia, em sua primeira participação no brasileirão, chegar a uma final, por pontos corridos isso é praticamente impossível, porque os clubes têm que manter uma regularidade durante todo o campeonato para acumular vitórias e chegar ao título. E é preciso muita estrutura. Dessa maneira, somente os grandes é que têm chegado ao título.
Um pena, porque o nosso futebol é de campinhos improvisados em bairros de gente simples. Aí nascem os verdadeiros craques. A monotonia que tomou conta dos nossos gramados em nada condiz com o imenso potencial de nosso futebol. Os clubes menores tendem a encolher. Os clubes maiores tendem a ficar mais poderosos. E as disparidades vão aumentando. O enfado também.

Pérola de Obama

Nos primeiros meses da Guerra no Iraque, quando a imprensa ainda dedicava atenção aos horrores que se passam naquele país, a apresentadora de telejornal, Ana Paula Padrão, à época comandando o Jornal da Globo, saiu-se com essa para um correspondente internacional: "É guerra mesmo?!". O sangue jorrando no Iraque e Ana Paula Padrão perguntando, exclamando: "É guerra mesmo?!". Bem, não sei se foi esse o motivo, mas algum tempo depois a jornalista migrou para o SBT.
Quem não diz os seus absurdos à mídia, ou na mídia. Sinceramente não entendo todo esse interesse pela disputa à Casa Branca, os dois candidatos parecem títeres de ventríloquos, produtos fabricados por publicitários (cada dia piores, tanto quanto os candidatos). Porém, de vez em quando é possível vê-los escapar do roteiro e dizer pérolas. A mais atual é de Obama. Ele disse que "Os EUA vão mudar o mundo". Huahuahua, como exclama a minha sobrinha à internete. Será que ele ainda não notou, assim como Ana Paula Padrão que só viu a guerra com vários meses de atraso, que os EUA mudaram o mundo?
Talvez para Obama toda essa crise financeira seja pouco e ele queira mais. Uau! Chego até a pensar em mandar e-mails para os americanos pedindo que eles não votem em Obama, porque se provocar um estrago desse no mundo foi pouco, imagine o que o candidato anda planejando.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Projeto maior, projeto menor

Tenho encontrado muitas pessoas desesperançosas e desapontadas com a derrota de Pinheiro nas urnas. A maioria aponta como responsável o publicitário da campanha, que parecia até estar trabalhando para o adversário. Ora, ele não é realmente o culpado. Como alguém poderia fazer uma campanha contra o atual prefeito sem mostrar as mazelas deixadas por ele em Salvador, que insistia em dar dados expressivos da melhoria da qualidade de vida na cidade que, como todos nós sabemos, é uma das mais pobres do Brasil?
Para ganhar de JH, Pinheiro teria que expor o governo Wagner (que em nada melhorou a vida dos soteropolitanos) e o governo Lula que, apesar da grande popularidade também pouco contribuiu para isso, e, ainda assim, arriscar-se a não conseguir convencer a população de que era a melhor opção, deixando feridas nas duas esferas de governo que o "apoiavam".
É, o candidato tentou fazer uma campanha apenas propositiva, e não realista. Salvador não é um canteiro de obras, é um canteiro de buracos, de miséria, de mazelas. Passar ao largo das questões cruciais da cidade não levaria eleitor algum a convencer-se em uma mudança. Talvez o candidato soubesse disso, mas, para que arriscar o projeto Dilma 2010, ou Wagner 2010, por um projeto menor, Salvador 2008?
Pinheiro tem vaga quase garantida na câmara federal nas próximas eleições. Para o candidato, nada mudou. Pena que para nós também.

Uma observação final: o mais deselegante nesta campanha foi o desembarque de Lula em Salvador, que não pisou os pés por aqui durante toda a campanha do seu correligionário, um dia apenas depois da derrota. O compromisso já estava agendado, mas foi de uma deselegância total com o candidato, e uma desconsideração ainda maior com a cidade de Salvador que sempre lhe deu vitórias expressivas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Viva, o petróleo baixou!

Há um ano atrás, as notícias eram alarmantes em relação ao preço do petróleo, que subia de forma galopante. Esse ano, as notícias alarmantes são também de que o petróleo baixou. Vai-se entender...Entende-se menos ainda quando a imprensa diz que pode haver uma recessão mundial. Como assim? Recessão ia haver se os preços continuassem a subir, principalmente dos alimentos, da forma absurda com que vinham subindo.
O problema é que os meios de comunicação são dominados pela elite. E a elite diz o que quer, e o que a elite quer é continuar ganhando. Enquanto o petróleo sobe, uma pequena parcela da população ganha, se o petróleo desce, viva, é a grande maioria da população quem ganha.
Essa crise veio, justamente, para estancar a exorbitância dos lucros de apenas uma pequena parcela da população do mundo. Essa crise dá à grande maioria da população o direito de consumir, pelo menos comida. Isso se as empresas tiverem juízo e começarem a baixar os seus preços em função da baixa nos preços das matérias-primas. Se quiserem continuar a lucrar com a crise, aí sim, vai haver recessão. E a quebra de muitas empresas.

Política é para os que gostam

Está num dos sites de notícias de hoje: PMDB já pensa em lançar candidato próprio em 2010. Esse é o resultado do abandono de Lula aos seus correligionários nas capitais, para não perturbar a aliança com o PMDB, visando a sucessão presidencial. Lula teve ética com o partido (não teve foi com candidatos do próprio PT); o PMDB, ao contrário, teve ética com os seus aliados e deu ao PT e a Lula a resposta: a aliança para 2010 começa a ser rompida.
Quando elegeu-se em primeiro mandato, Luís Inácio tinha como principal aliado o PL, e alguns políticos fortes de outros partidos, entre eles José Sarney, do PMDB. No poder, Lula foi recebendo apoio de outros partidos, principalmente do fisológico partido de José Sarney, que quer estar presente em todos os governos e acabou por tornar-se o principal aliado de Lula.
O presidente certamente pensou que poderia ser o esperto nessa história, envolver o outro partido e fortalecer o seu. Aconteceu, justamente, o contrário, o PT cresceu, mas quem cresceu mais foi o PMDB, que agora, devido ao bom proveito dessa relação, já sonha com vôos mais altos. É como naquela tal frase dita pelo próprio Lula numa das suas campanhas, "quem não gosta de política acaba sendo governado pelos que gostam". Inclusive ele.

domingo, 26 de outubro de 2008

Lula e as eleições

O resultado das eleições nesse segundo turno evidenciou o distanciamento do projeto político de Lula e o seu próprio partido. Lula, praticamente, abandonou os seus aliados, e abraçou o PMDB e o PSDB. Apoiou Eduardo Paes, crítico feroz do governo no episódio do mensalão, contra Gabeira, também crítico do seu governo, mas um aliado histórico do PT, de quem já foi filiado. Em Porto Alegre, não abraçou a campanha de Maria do Rosário, do PT, contra José Fogaça, do PMDB. Aliás, apenas em Belo Horizonte contrapôs-se ao PMDB, aliando-se ao governador Aécio Neves (do PSDB),
em apoio a Lacerda (PSB).
Em Salvador, deixou Walter Pinheiro, fundador do PT, aliado de várias décadas, a ver navios, permitindo que o ministro Geddel Vieria Lima comandasse o circo. Somente Marta Suplicy, do seu partido, por questões político-econômicas, é que contou com um apoio mais evidente de Lula.
A forma como se posicionou, não só nesse segundo turno, mas em todas as eleições (largando à própria sorte também a candidata do PT em Fortaleza, Luiziane Lins, eleita no primeiro turno, para não contrariar outra candidata, Patrícia Saboya) demonstrou o que há algum tempo já se ouve nas ruas: não existe (ao menos para o presidente) mais petismo, o que existe é lulismo, e o seu projeto presidência-2010, com Dilma Roussef.
Para isso, o presidente, praticamente, entregou o seu partido ao PMDB, e os aliados petistas aos leões. Quando me lembro que quando prefeita eleita pelo PSDB, Lídice da Mata, por razões ideológicas, preferiu apoiar Lula na disputa à presidência contra Fernando Henrique Cardoso, que era do seu mesmo partido, e por isso foi boicotada por ACM (que apoiou FHC) no envio de verbas federais, chega a me dar calafrios. Lídice era a vice de Pinheiro, nem ela teve a gratidão do presidente.
É lamentável dizer, mas, com os desvios de destino do PT (o único dos partidos ideológicos brasileiros com grande representação) não existe mais nenhum partido com projeto de governo, o que existe são partidos com projeto de poder. E o povo? Ora, o povo só serve mesmo para ir às urnas votar.

Êta vida boa!

A vitória de João Henrique, eleito o pior prefeito do Brasil entre 12 capitais, sobre Walter Pinheiro, demonstra algo bem evidente: a população carente de Salvador está com a vida ótima! Sim, porque a faixa de baixa renda, todos nós sabemos, é maioria nesta cidade, e João Henrique foi reeleito com mais de 58% dos votos. E, para uma boa parcela da faixa de maior poder aquisitivo, a vida está muito boa também. Falta de emprego? Que nada, a nossa economia, como disse o candidato vencedor, é pujante, por isso há tantos pedintes no meio da rua, eles estão ali só "fazendo uma hora".
As moradias são inadequadas, ou inexistentes? Que nada. O pessoal dorme na rua ou em minúsculos cômodos que acomodam, às vezes, uma família inteira, para "tirar onda". O transporte é ruim? Imagine...Todo esse pessoal que se acotovela nos ônibus faz isso por mera diversão.
Salvador é uma tristeza, um favelão. As pessoas sabem disso, só na sabem o que é democracia. Preferem o coronelismo. Não querem uma moradia, um bom emprego, transporte de qualidade, bons hospitais e postos de saúde, segurança nas ruas. Não, o que a população quer são obras de fachada, parques onde não se pode andar, nem crianças brincar, por falta de segurança; calçadões que destróem locais históricos; iluminação que é a própria população que paga (portanto, nada mais do que obrigação do poder público em colocá-la), asfalto em áreas centrais dos bairros, quando as ruas de dentro estão completamente esburacadas.
O povo não quer a realidade, quer a fantasia. Dinheiro, moradia, emprego, isso é o estado quem tem que dar. Certa vez li uma frase que apontava a diferença entre a população do Primeiro e do Terceiro Mundos: no primeiro, a maioria quer ser empresários; no terceiro, funcionário público. Vivemos um comunismo (onde o estado supre as carências da população) dentro do capitalismo.
Bem, o eleitor escolheu. Mas, agora, quando algum amigo se queixar da insegurança nas ruas, vou lhe mandar passear na periferia; e quando algum pedinte, na rua, me pedir um dinheiro, vou lhe indicar o gabinete do prefeito.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Dois continentes

Estive em bairros periféricos da cidade, lugares como Narandiba nos quais há muito tempo não ia. Fiquei horrorizada. A Salvador dos meus tempos de criança, de adolescência, não existe mais. O que existe é um centro da cidade, completamente maquiado, cercado por uma periferia totalmente abandonada. Salvador virou mesmo algo do qual já suspeitava: uma imensa favela.
Nos bairros periféricos a população se amontoa, sem áreas de lazer, sem áreas verdes, agências bancárias, geração de emprego, com uma economia completamente destruída. Não, não são duas Salvador - uma dos pobres, outra dos ricos. Não são sequer dois países; são dois continentes dentro de uma mesma cidade.
No centro, a população se queixa da violência, mas ignora, vira a cara para a periferia, nem sabe que existem bairros tão abandonados, afinal nunca passaram por lá. E prá que passar? É a periferia que tem que vir para o centro, conseguir dinheiro, nem que seja roubando, matando, assaltando. Afinal, o que lhe resta a fazer? Ficar em seus bairros é condenar-se à morte, então tem que atravessar a imensa fronteira que separa esses dois continentes.
Tive pena de mim, tive pena da minha família, tive pena dos meus amigos, tão iludidos...Mas tive pena, principalmente, daquela população sufocada naqueles lugares. Sonhamos com um país novo, uma cidade nova, um novo estado. Sonhávamos com a Europa; conseguimos a África.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sobre o leite e a vaca

Fico chocada cada vez que leio nos jornais alguma medida que está sendo tomada pelo governo federal para fazer frente à crise econômica. Não que o governo não esteja agindo dentro do pretendido, mas essa avalanche toda está atingindo o Brasil porque no tempo das vacas gordas, não se dividem a carne nem o leite. No tempo das vacas magras apela-se para a grande vaca leiteira - o governo brasileiro.
Nos EUA, país que, dizem, provocou toda essa crise, qualquer americano de classe média investe na bolsa de valores. Isso porque recebe um bom salário que lhe permite fazer esse investimento (falo do norte-americano sério, não daqueles irresponsáveis que hipotecam as suas casas para investir em Wall Street), capitalizando as empresas, engordando a economia do país. No Brasil, depois de quase seis anos em que as empresas tiveram altos lucros com a valorização de suas ações, com o aumento das exportações e das vendas dentro do mercado interno, veio a primeira grande crise financeira do governo Lula e aí, o que acontece? As empresas recorrem ao governo, forçam-no a ajudá-las. E o governo, apesar do discurso contrário, ajuda, seja através de bancos ou não, mas ajuda.
Ora, a queda na bolsa de valores brasileiras talvez não tivesse sido tão acentuada se o brasileiro, ele mesmo, como qualquer americano de classe média, tivesse condições de investir. É verdade que, nos últimos anos, dado aos bons lucros deste tipo de investimento, muitos se arriscaram a isso. Porém o dinheiro investido não foi o suficiente para garantir o preço das ações. Na hora em que os investidores estrangeiros, que vieram ao país apenas para especular, tiveram que tirar os seus investimentos para cobrir as perdas no exterior, a bolsa brasileira desabou.
Subiu muito, em face à especulação, desabou porque os investidores estrangeiros não estão preocupados com a nação brasileira. Ora, as empresas então recorrem ao governo brasileiro. E o que fizeram com os lucros altíssimos expostos, para quem quiser acessar, em balancetes divulgados na internete? Acaso preocuparam-se em aumentar o rendimentos de seus funcionários, em pagar bons dividendos aos seus acionistas, em diversificar as suas atividades, em promover (como se faz nos países desenvolvidos) a educação, através de doações a escolas e universidades?
Não, nada disso, os empresários só se preocuparam em engordar o seu capital, não em desenvolver o país, porque eles acham que desenvolver o país é responsabilidade única do governo. Apostaram no mercado externo e, na hora em que o mercado externo sofre um declínio, não há como recuperar as perdas no mercado interno.
Esse é um país de aproveitadores, do desrespeito ao consumidor, do lucro incessante e não distribuido e, também, da especulação (não em níveis gritantes como aconteceu agora nos EUA). E até o governo quer lucrar com os recursos advindos do trabalho dos brasileiros. O presidente Lula disse que o Brasil sofreria pouco com a crise pois havia aumentado o nível de exportação para outros países e diminuído para os EUA. Só não falou que boa parte dos recursos do Banco Central são aplicados na dívida americana. O Brasil, como já disse em outro texto, é o quarto maior credor dos EUA.
Ou seja, ao invés de aplicar os recursos dentro do Brasil, injetando-os para incrementar a nossa economia e gerar lucros não com a especulação, mas com o trabalho, o Banco Central estava investindo o dinheiro lá fora, para obter lucros, para também aumentar o seu capital. Sinceramente, acho que perdemos o bonde da história.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Às favas com a Paralela

No horário político eleitoral na disputa para a prefeitura de Salvador se discutiu, e ainda se discute, a destinação, e a destruição, da avenida Paralela - aliás, chama-se avenida Luís Viana Filho, mas ACM, indicado para prefeito pelo então governador Luís Viana Filho, nunca deixou o nome ser usado. A indicação não evitou que Luís Viana figurasse entre os desafestos do ex-senador baiano. E o que há ainda para se discutir sobre a Paralela? A avenida já está com a sua Mata Atlântica quase toda destruída!
Há prédios dos mais diversos no local: faculdades, supermercados, condomínios, concessionárias de veículos. A avenida Luís Viana Filho caminha para ser mais um ponto da imensa favela em que se transformou Salvador, ocupada desordenadamente, sem qualquer cuidado com a qualidade de vida das pessoas, sem qualquer preocupação com o ambiente (ou meio-ambiente) em que vão viver.
Ah, sim, decerto o IBAMA também não viu a destruição que ali se faz. Os ficais do órgão nem sabiam da obra na avenida centenário...Apesar dela ter coberto um rio (pelo Código Florestal, rios são considerados área de preservação permanente). Se não viram uma obra em pleno coração da cidade, imaginem numa avenida "tão pouco" movimentada como a Luís Viana Filho.
Um amigo (sempre eles...) disse-me que o meu blog é muito de esquerda. Olhe, Cristiano, dou o meu braço a torcer, em termos de voracidade destrutiva a esquerda consegue ser muito mais violenta que a direita (aliás, com essas alianças das campanhas eleitorais brasileiras fica muito difícil saber-se o que é direita ou esquerda).
Achava, e ainda acho, que o capitalismo é um sistema cruel, que vai acabar destruindo o mundo. Meu irmão Eduardo alerta-me que a antiga Alemanha Oriental, que pertencia ao bloco comunista, destruía muito mais o meio-ambiente com as suas fábricas poluidoras que a Ocidental e, atualmente ,na China há blocos de névoa cinzenta encobrindo o céu.
Estamos completamente perdidos. Como diria John Lennon, em outro contexto, sob outras aspirações, "o sonho acabou". Não há sistema político ou econômico que livre o mundo da sua progressiva destruição.
O comunismo errou por considerar que todas as pessoas são iguais (algumas religiões também pensam assim). Todas as pessoas são diferentes, e "Vive la différance". O capitalismo também vai pelo mesmo caminho: todo mundo tem que ter um celular, estar plugado à internete, ter um carro com ar-condicionado, um aparelho de DVD, MP-3, etc,etc,etc. E vai-se destruindo o meio-ambiente, pois toda a matéria-prima para esse monte de entulho sai da terra, e vai-se produzindo muito lixo, pois as atualizações eletrônicas são tão rápidas que logo é preciso trocar de objeto antes que ele fique obsoleto.
Ideologia, eu quero uma pra viver. Cazuza... sempre tão pertinente!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A tempestade acabou...Será?

Diz o ditado que depois da tempestade vem sempre a bonança. Essa crise financeira, que parecia não ter fim, teve ontem um dia de calmaria, com bolsa em alta, dólar em queda, Europa e Ásia sinalizando pesadas ajudas aos bancos para revitalizar o sistema financeiro e as suas economias. Aqui no Brasil, o presidente também sinalizou a possibilidade de compra de ações de banco para melhorar o caos financeiro.
Nesse imbróglio que começou nos Estados Unidos e envolveu países dos vários continentes, a injeção de recursos financeiros parece ser uma alternativa viável. Na minha opinião, não vai debelar a crise, não se os EUA não se satisfizerem em viver com menos. Essa crise foi gerada pela desvalorização da moeda americana e conseqüente decréscimo no poder poder aquisitivo da população. O dólar subiu forte nas últimas semanas, depois que os EUA anunciou o seu pacote de ajuda ao sistema financeiro. E começou a cair quando outros países também anunciaram as medidas para salvar as suas economias. Assim, mais uma vez a balança se desequilibrou.
Os EUA devem ter notado que aquela punjança da economia americana não vai mais voltar, pelo menos não a curto prazo, porque pode acontecer alguma catástrofe no mundo financeiro global que leve novamente os EUA à liderança financeira global. E parece que essa catástrofe ainda não foi dessa vez, porque tanto as economias mais ricas quanto as emergentes se mostraram bastante preparadas para enfrentar um declínio na economia americana.
Quem não se mostrou preparado foi os Estados Unidos. A moeda norte-americana, que é a principal referência para os negócios internacionais, vai oscilar para baixo, na medida em que os mercados forem se recuperando, e, para cima, se a falta de credibilidade no sistema financeiro continuar. A crise mesmo só vai passar quando o dólar encontrar um patamar estável de acomodação, que não será tão alto como vinha sendo há décadas mas, talvez, não tão baixo quanto esteve, principalmente, neste último ano.
Resta saber se os EUA vão se conformar com a sua mudança de posição dentro do mercado global. Porque o bolo pode até ter crescido, com o crescimento global, mas cada dia há mais países com os quais dividir.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

E haja falta de memória...!

Em outro artigo falei sobre a estranheza da aliança do DEM com o candidato Fernando Gabeira, por razões históricas. Em defesa do candidato poderá se dizer que, entre a sua militância antiditadura militar (ditadura apoiada pelo DEM - antigo Arena) e o momento atual, passaram-se várias décadas. E o que dizer sobre os, apenas, quatro anos da vitória de João Henrique e as suas alianças atuais?
Há quatro anos João Henrique, com 75% de apoio do eleitorado, derrotou o candidato César Borges apoiado pelo governador Paulo Souto e pelo deputado ACM Neto. E agora estão lá, todos abraçadinhos posando para foto.
Será que o eleitor vai conseguir explicar, a si próprio (por que não há como se esperar que os integrantes da coligação lhe expliquem), ter votado há quatro anos contra esse grupo, por querer uma mudança, e agora vê-lo querer retornar, abraçadinho ao antigo opositor, ao poder?

domingo, 12 de outubro de 2008

Domingo a R$ 1,00


O grande jornalista Paulo Henrique Amorim tem uma página na internete, sob este mesmo nome, onde costuma chamar a grande imprensa brasileira (os jornais e revistas de circulação nacional, e as redes de TV com sede no Rio de Janeiro e São Paulo) de PIG - Partido da Imprensa Golpista. Segundo ele, o PIG faz tudo para desvalorizar o governo Lula a fim de emplacar Serra na presidência, em 2010. Pois o PIG não existe só nas duas maiores metrópoles do Brasil, aqui na Bahia ele tem extensas ramificações, talvez com objetivos diferentes.
Na época do governo carlista, a imprensa baiana noticiava qualquer espirro dos governadores; qualquer inauguração de monumento tinha ampla cobertura. O Teatro Castro Alves, que sofreu uma grande reforma nos anos carlistas, foi sempre mantido com o dinheiro de impostos dos baianos, mas, depois da reforma, boa parte da população ficou completamente à sua margem, dado aos altos preços dos ingressos (apenas eventualmente alguns espetáculos da OSBA e do teatro baiano tinham ingressos a preços modestos).
Neste domingo a minha amiga Lucinha me convidou para ir ao TCA e quase não acreditei no que vi: a sala exibia um espetáculo da grupo Intrépida Trupe, do Rio de Janeiro, chamado "Metegol", que mistura várias linguagens - circo, dança, teatro, etc - ao preço de R$ 1,00. Isso mesmo! R$ 1,00. É o projeto Domingo no TCA, mensal, em duas sessões, às 11 e 19 horas.
Leio jornais, assisto TV, me informo através da internete e jamais vi ou ouvi qualquer matéria de destaque acerca dessa iniciativa que abre as portas da cultura para o povo - que comparece, mas timidamente para a grandeza da iniciativa; certamente pela falta de divulgação e pelo desconforto que deve causar entrar naquelas instalações durante anos reservadas a uma minoria.
Castro Alves, um poeta das causas populares, finalmente tem um TCA digno de levar o seu nome.

O futebol no museu

Numa iniciativa elogiável inaugurou-se em São Paulo (sempre lá...) o Museu do Futebol - com algumas décadas de atraso, diga-se de passagem. Parece sintomático que a inauguração tenha acontecido agora. O futebol brasileiro, que durante décadas encantou o mundo, tornou-se em 2002, quando conquistou o pentacampeonato mundial, quase hegemônico, uma unanimidade mundial.
Seus atletas passaram a encabeçar as listas anuais de melhor jogador do mundo (melhor jogador que atua na Europa, na verdade), a equipe canarinho conquistou quase todos os torneios internacionais (à exceção do ouro olímpico, torneio que não é disputado pela equipe principal). Mas, como desde a nossa colonização sempre entregamos as nossas riquezas, com o futebol não haveria de ser diferente.
Os números das emissoras de televisão já demonstram uma queda na audiência. É certo que não há telespectador que agüente tanto jogo na TV, porém seria impensável, anos atrás, que em disputa de eliminatórias para a Copa do Mundo (Brasil X Bolívia) se houvesse uma platéia tão moderada, mesmo com o preço salgado dos ingressos.
O futebol brasileiro está deixando de ter magia, de ser arte. Aqui só está ficando o rebotalho. Falo dos estreantes, não dos jogadores já consagrados, como Marcus e Rogério Ceni, que não aderiram à debandada geral. Um jogador aos 18, 19 anos, que se destaque em algum clube (e nem precisa ser dos grandes) logo é comprado por algum time estrangeiro. E aí deixa de ser jogador brasileiro, passa a jogar o futebol estrangeiro. Não faz mais aquelas jogadas malandras, não dá mais aqueles toques sutis, dribles inesperados que encantavam os estádios de todo o mundo e conferiam ao nosso esporte um selo único de qualidade (talvez Ronaldinho Gaúcho tenha sido o último descendente da linhagem de Pelé, Garrincha, Romário, Zico...)
Os jogadores e técnicos se tornaram milionários, dirigentes dos clubes ganharam muito dinheiro, os empresários dos atletas também, porém muitos estádios estão parados no tempo, alguns até abandonados. O futebol brasileiro, da forma que é administrado, gerou riqueza apenas para uma pequena parcela dos que transitam no esporte, não contribuiu para melhorar a vida em nosso país. E agora estamos entregando o "ouro ao bandido". A Escócia não entrega o seu uísque, a França o champagne, nós, brasileiros, estamos fazendo do nosso melhor produto peça de museu.

sábado, 11 de outubro de 2008

Você já foi ao Pelô? Não? Então vá!

Passei alguns anos sem ir ao Pelourinho, a falta de segurança naquele lugar me assustava e achava o projeto do governo, que restaurou aquele conjunto arquitetônico, completamente equivocado. Privilegiou-se prédios em detrimentos de pessoas. O turista, mesmo com o Pelourinho em declínio antes da restauração, ia lá por que transbordava cultura. O governo tirou do local a população que produzia a cultura (e a marginalidade, também, é verdade); espalhou a marginalidade, que estava concentrada em um só local, por toda a cidade, e destruiu a genuína cultura local.
Fez do Pelourinho um shopping center a céu aberto, com muitas lojas franqueadas e restaurantes, muitos de comida internacional. No início, com um policiamento ostensivo, visitava-se o local porque era uma grande festa. Tudo muito iluminado, shows acontecendo, prédios bonitos com pintura ainda brilhando. Depois, o policiamento foi diminuindo, as pessoas não iam sair de seus bairros para comprar perfume e sandálias no Pelourinho, se podiam encontrá-los em um shopping, na avenida sete, ou mesmo em alguma loja de bairro. Muito menos para almoçar ou jantar em restaurantes que tinham filiais em locais mais centrais. E a festa entrou em decadência.
A convite de um artista plástica, que tem um atelier no local, voltei lá. E fiquei triste ao ver o local tão sem movimento. Olhar aqueles prédios, aquelas ruas, tão desabitados, foi uma experiência ruim. Mas, por insistência dessa artista plástica, voltei outras vezes e comecei a olhar com mais cuidado as lojas, os bares, os restaurantes, cada atelier de artista e percebi que, apesar da falta de movimento, o Pelourinho está voltando a ser o Pelô.
O que se vende agora tem a marca da Bahia. Não é mais produto de franquias. A arte que está lá exposta fala do nosso povo, dos nossos costumes. Voltaram os botecos ao local. Sem querer fazer propaganda oficial, mas já fazendo, o atual governo reativou o Solar do Ferrão, criou projetos de dança e teatro, e uma praça para as crianças brincarem. Bem, o governo tinha que fazer alguma coisa já que, apesar de ser outro, foi o governo quem errou no projeto de recuperação. Mas a comunidade do Pelô não devia esperar pelos governantes.
Devia se unir, divulgar novamente o local, mostrar que a cultura, a arte, genuinamente baianas, voltaram a habitar os seus casarios. Organizar-se para garantir que as pessoas circulem em segurança no local. Chega de ficar esperando que os poderes constituidos façam alguma coisa. A união de uma cultura como a baiana e aquele conjunto arquitetônico não se encontra em lugar nenhum do mundo.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O crespúsculo do macho

O DEM, do Rio de Janeiro, resolveu apoiar Fernando Gabeira na disputa para a prefeitura. Uau! Isso é que é notícia! Isso é que é coligação à la brasileira. Gabeira foi um ícone da luta contra a ditadura militar. Participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick que ajudou na libertação (e envio para o exílio) de muitos prisioneiros políticos, entre eles o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Gabeira também ficou anos exilado e, ao voltar ao país, escreveu diversos livros, entre eles "O que é isso, companheiro?", onde contava o episódio do seqüestro do embaixador, e "O Crepúsculo do Macho". Com as suas publicações, tornou-se um exemplo de resistência e vanguarda.
O caminho do DEM era oposto. Partido do conservadorismo, abrigo dos coronéis, embora tenha mudado tantas vezes de nome foi o partido - Arena - de sustentação da ditadura militar. Essa aliança é como um encontro entre torturador e torturado. Vá lá, as pessoas podem mudar, os partidos também, mas vá se mudar assim lá na China!

Alianças formadas

As alianças já estão quase concluídas para o segundo turno. Deu-se o óbvio entre os partidos de maior expressão: PSDB com Pinheiro, DEM com João Henrique. O interessante foi assistir às entrevistas dos dois candidatos sobre os apoios recebidos, e a garantia de que não haveria, em troca, cargos na administração. Lamentável que um candidato, Neto, que passou a campanha inteira do primeiro turno dizendo que era preciso acabar-se com o "toma lá da cá da política" corrobore com essa afirmação. Na política brasileira atual, às vezes nem voto em plenário é dado de graça. Os dois candidatos poderiam ter passado sem essa garantia, me parece que ela só faz aumentar no eleitor a descrença na honestidade dos políticos e no respeito àqueles que votam, e a vontade de votar-se nulo ou em branco. O que vai caracterizar esse segundo turno é que, pela primeira vez em Salvador, vão estar no mesmo palanque partidos e políticos que sempre foram ferrenhos adversários. O PSDB, implacável opositor do governo Lula, vai estar ao lado de Pinheiro. Geddel Vieira Lima, adversário de ACM, o avô, (parodiando, mais uma vez, o candidato do PSOL), vai estar no mesmo palanque do neto. As chances de haver uma harmonia entre PSDB e PT, na Bahia, me parecem bem maiores do que na outra coligação, onde vai ser difícil saber quem será o cacique (até então, era Vieira Lima).
No momento dessa postagem, o PSOL não havia se pronunciado, mas, em homenagem ao meu amigo Cainã, pessoa de cabeça antenada e arejada, primeiro colaborador com comentários deste blog, ao qual desejou sucesso, vou falar sobre o desempenho do partido nessas eleições. O entusiasmo de Cainã (que não é, ainda, eleitor do PSOL) com ao partido comandado por Heloísa Helena é o mesmo que tínhamos em relação ao PT e Lula.
Lula deu ao Brasil o direito de sonhar. Cainã ainda sonha. Mas o Brasil só elegeu Lula quando ele era bem menos Lula, bem menos aguerrido, menos revolucionário, mais palatável. O PSOL fez excelente figura nessas eleições, lançou candidatos em várias capitais do Brasil. Não logrou muito sucesso nas urnas, mas elegeu a vereadora Heloísa Helena, fonte inspiradora do partido, que volta a uma câmara de vereadores depois de freqüentar os corredores do senado.
Para Cainã, o PSOL ainda é uma esquerda com um discurso do passado. Não é fácil saber-se qual é o socialismo do futuro. Será algo como a China? Quando Lula perdeu para Collor, era por que boa parte do Brasil pensava da mesma forma: o discurso de Lula era radical, ultrapassado. E aí está Lula, um campeão de popularidade, mas cujas mudanças sociais, a continuar nesse ritmo, só vão levar esta nação aos nível dos países desenvolvidos em 30 anos. Ou o PT, como diz a propaganda do governo Wagner, acelera, ou o Brasil, cujas regiões norte e nordeste já abriram caminho para um crescimento muito representativo de outros partidos de esquerda, ou de centro-esquerda, como o PSB, PPS, PC do B, escolhe outro caminho. Por que eu (como já faz Cainã) e milhões de brasileiros queremos voltar a sonhar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O dilema de Neto

ACM, o Neto, como costumava chamá-lo o candidato Hilton Coelho no primeiro turno das eleições municipais, vive o dilema de como posicionar-se nesse segundo turno. A maioria dos seus eleitores deve pensar que por questões ideológicas o candidato deveria apoiar João Henrique. Ora, há um bom tempo que política no Brasil deixou de ser questão ideológica (nessas eleições houve até candidato do DEM apoiando candidato do PC do B) e, no caso de ACM Neto, trata-se de afirmação e sobrevivência políticas.
Tanto quanto João Henrique e Geddel Vieira Lima, ele não almeja a Prefeitura de Salvador. Almeja, em termos de Bahia, o governo do estado. E é aí que a situação se conturba: como abrigar em uma só frente três candidatos que anseiam por estar no mesmo cargo? Uma composição entre João Henrique e Geddel até seria possível, acertando-se uma alternância entre as duas candidaturas, porém, mais um nessa composição, seria excessivo. O ex-prefeiturável do DEM sabe disso. Sabe que aliando-se ao PMDB terá muitas dificuldades para uma afirmação política, poderá se tornar mais um comandado de Vieira Lima.
Aliar-se ao PT não é menos complicado. Há diferenças de discursos e uma quase (quase, porque em termos de política tudo é relativo) impossibilidade de convivência com alguns políticos da aliança, ora comandada por Wálter Pinheiro, com o neto de ACM, já que os carlistas boicotaram administrações oposicionistas na prefeitura e no governo do estado.
A terceira opção seria, como fizeram outros candidatos em outras capitais, ficar neutro. Uma posição também arriscada para quem quer afirmar-se como um líder. Os eleitores do DEM vão sentir um certo abandono, falta de direção, ausência de firmeza - e liderança exige firmeza. Uma ausência fora da Bahia, fora da administração municipal, circunscrita ao plano federal, poderá também construir barreiras no objetivo de Neto em ocupar o Palácio de Ondina.
Essa política de alianças, permitida pela legislação eleitoral, é uma verdadeira aberração que tem levado a uma perda de identidade dos partidos e a uma completa confusão, na hora do voto, para o eleitor. Mas se está dentro da lei... No caso de Salvador, a sua viabilidade acabou por criar um problema a mais para o candidato do DEM. E o deputado, se ainda não sabia, deve ter descoberto que política vai muito além de levantar-se questões de ordem em reuniões de comissões na Câmara Federal, apresentar-se sob holofotes de emissoras de televisão e fazer discursos oposicionistas contundentes. Política é um jogo de xadrez, quando se erra: xeque-mate.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

"Onde está o dinheiro, o gato comeu, o gato comeu, e ninguém viu..."

Anos atrás, recebi como resposta de uma amiga fotógrafa, da razão dela fotografar os países de população de baixo poder aquisitivo, e não países considerados desenvolvidos, que têm belas paisagens, a resposta: "Porque os países desenvolvidos já deram o que têm que dar". Ela esteve em lugares como a Índia, a China, Afeganistão, Paquistão, Tibete. Isso, como disse, há anos atrás, quando China e Índia não tinham começado o "boom" de desenvolvimento.
A minha amiga parecia premonitória. Toda essa crise financeira tem um fator de que pouco se fala. Durante os últimos anos, empresários, investidores, banqueiros, procuraram os países ditos emergentes na busca do lucro mais fácil e rápido. No Brasil, por exemplo, sob a presidência do PT, a bolsa de valores saiu dos 7000 pontos para alcançar um pico de 73000 pontos. E, dinheiro fácil, sempre foi uma busca do ser humano, desde tempos distantes, como aqueles em que os antigos navegadores lançavam-se ao mar em busca de continentes inexplorados onde havia muito metal precioso.
Muito se lucrou nesses países, e muito esses países lucraram. Quem imaginaria, por exemplo, que o Brasil chegaria a ser o quarto maior credor dos Estados Unidos? Ou a ter uma reserva de 200 bilhões de dólares. Se a minha amiga fotógrafa já tirava os seus cliques do Primeiro para o Terceiro Mundo, os donos do poder financeiro também fizeram migrar os seus investimentos.
O presidente de uma dessas instituições financeiras que monitoram a economia mundial, se não me engano do FMI, disse que as perdas com toda essa crise financeira podem chegar a 12 trilhões de dólares. O interessante é que esses números são dados no momento de crise, mas ninguém, nesses anos todos de calmaria, disse qual foi o lucro de investidores, banqueiros, empresários, especuladores.
Ora, como não se rasga dinheiro, e se esse dinheiro que veio da especulação e investimentos não está nas instituições financeiras, que foram à bancarrota (ou que ainda estão por ir), dos países desenvolvidos, tem que estar em algum lugar. Desaparecer, não desapareceu.
Uma outra amiga tem uma resposta simples para onde encontrá-lo: "Nos paraísos fiscais". É, pode ser, mas também estão nos cofres dos chamados países emergentes.
Querer que eles paguem a conta pela crise, é uma estupidez bushiniana, mas também achar que eles vão poder ficar à margem de todo esse esforço mundial para evitar uma derrocada da economia, é também uma ilusão. Por que se eles viveram tempos de cigarra, que puderam cantar enquanto o inverno não chegava, está na hora de viver tempos de formiga, por que o inverno chegou. Mesmo que o presidente Lula, por exemplo, se queixe do cassino da economia americana, ah, "fala sério", o Brasil lucrou muito com esse cassino. E toda vez que a economia de um país sub-desenvolvido, em desenvolvimento ou emergente (seja o nome que derem para eles) quebrava, era nas instituições primeiro-mundistas que iam buscar empréstimos, regiamente pagos, para sanear as suas finanças. Aí ninguém ligava para a economia de cassino.

BUSH E O MUNDO

Pensamos que W. Bush queria acabar com os terroristas, o Afeganistão e o Iraque. Mas agora sabemos: Bush queria mesmo era acabar com o mundo. Desde os atentados às torres gêmeas e ao pentágono que W. Bush revelou-se um líder incapaz de lidar com as conseqüências daqueles atentados; enquanto tinha boa parte do mundo o apoiando, se solidarizando com os Estados Unidos, Bush, ao invés de aproveitar-se desta onda pró-EUA, fez justamente o contrário, começou a ver em cada estrangeiro, e mesmo em cada americano (em particular os habitantes estrangeiros, ou descendentes de estrangeiros) um inimigo em potencial.

Criou dificuldades diversas para a entrada de estrangeiros nos EUA, diminuindo o fluxo turístico para aquele país, ampliou dificuldades na relação com várias nações, entre elas Irã e Coréia do Norte e, com isso, ao invés da simpatia passou a aumentar o leque de inimigos dos Estados Unidos (que já não eram poucos até a época dos atentados). Por causa das invasões ao Iraque e Afeganistão, conquistou, "de quebra", o desafeto do povo muçulmano.

O cenário internacional para os EUA não poderia deixar de caminhar para o pior. Além do que, depois de anos interferindo nos regimes políticos da América Latina, o presidente dos Estados Unidos viu elegerem-se presidentes populistas, defensores radicais de seus povos e, alguns, anti-estadodinenses. Com esse cenário tão desfavorável, o país que terminou a segunda guerra como líder mundial passou a perder cada vez mais terreno junto à diplomacia internacional. Era mais do que previsível que além de afetar politicamente os EUA, acabaria também afetando-o economicamente, em suas exportações, no turismo, no fluxo de investimentos, etc.

W. Bush certamente sabia que as conseqüências para os EUA, quando começou essa verdadeira cruzada contra as nações, poderiam ser desastrosas. Essa crise das hipotecas, que se arrasta há um ano, foi, "apenas", um dos fatores da crise econômica. O estopim. Enquanto perdia terreno no mundo, e dinheiro para outros países, os EUA se comportavam como sempre se comportaram - uma bela atriz frente às câmeras (fazendo pose de que estava tudo bem), e como um milionário que, mesmo em risco de falência, continua gastando, gastando...

Isso por que os EUA sabiam que se a economia deles fosse à bancarrota iria levar também muitas economias mundias - e melhor naufragar acompanhado do que sozinho. Foi exatamente isso que os EUA deixaram acontecer. Com a sua moeda enfraquecida, deixaram a bolha explodir, por que enquanto as principais economias do mundo têm reservas para atenuar os efeitos da crise financeira, os emergentes ficam no dilema entre gastar as suas divisas para salvar a economia ou guardá-las, na esperança de que a crise passe, para voltar a investir na melhoria das condições sociais. Mais uma vez, o que o W. Bush quer é que os pobres paguem a conta.

Em poucas semanas o dólar subiu, o congresso americano aprovou medidas para reabilitar a economia e os EUA passaram a bola como naquela brincadeira de criança "lá vai a bola girar na roda..." para os outros continentes. Cada um que salve as suas economias, por que os EUA já mostraram que têm lenha para queimar e, mais uma vez, colocaram o mundo a seus pés. Se o mundo continuar a girar...