quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O ser e o ter

É impressionante com o ter está tomando na vida das pessoas a dimensão do ser. A começar pela escola, onde matérias como filosofia e educação moral e cívica foram substituídas. As pessoas estão acreditando que para ser, é preciso primeiro ter. Quem inventou o dinheiro não estava em um dia muito inspirado, e colaborou para isso. Se na troca, havia um valor além do monetário, o dinheiro criou a ilusão de que cada objeto tem um valor mensurável financeiramente. E está associado a emoções nem sempre correspondentes.
A mídia colaborou para criar essa ilusão. Quando ainda se permitia propaganda de cigarro, ela estava sempre associada à liberdade, aventura, ousadia. A realidade é bem oposta, os fumantes acabam na prisão do vício, vivendo uma aventura às vezes muito dolorosa. Os prédios derrubam milhares de árvores, em seu lugar coloca-se nomes como "Bosque das mangueiras", "Floresta azul".
Um amigo? Compra-se. Um amor? Compra-se. Uma ajuda? Compra-se. Na maioria dos condomínios, a reunião entre moradores é recheada por brigas, a mídia os vende como se as pessoas fossem morar na paz, na tranqüilidade, num lugar encantado. Não se pergunta o quanto se é, mas o quanto se tem. E não se tem porque se é, mas porque se quer. Sem limites para o querer.
O capitalismo captou a insatisfação do ser humano. O desejo que não se satisfaz. Cria celulares, carros de luxo, DVDs, TVs digitais, e continua criando, enquanto o ser humano continua iludindo-se da satisfação. A tecnologia não mais acompanha o ser humano. Criou-se o fósforo, quando se quis ter fogo; criou-se a roda, quando se quis locomover-se; criou-se o papel, quando se quis preservar a escrita. Atualmente cria-se primeiro, depois estimula-se o desejo. A tecnologia não está mais a serviço do ser humano, ela está além dele, e ele a serviço dela.
O ar-condicionado nos fez insensíveis ao calor, tão insensíveis que agora sofremos com o aquecimento global. A ilusão de conforto nos carros, casas, lanchas, bares, restaurantes tornou o mundo das ruas quase insuportável. Alterou o clima, fez das vias de transporte um amontoado de carros. Sob nossas cabeças não cai apenas chuva, mas aviões.
Se o ter continuar a progredir em nossas consciências, não restará nem mundo nem consciência para habitar.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Aquele abraço

O Palacete das Artes, um pequeno museu localizado na Graça, num dos poucos casarões antigos que ainda existem no bairro, está oferecendo ao público uma exposição da mais alta qualidade. Trata-se de "Abraços na Arte - Brasil/Japão", comemorativa ao centenário da imigração japonesa para o Brasil (comemorado em 2008, quando a mostra foi aberta em 12 de dezembro).
A exposição traz desde os pioneiros, como Yoshiya Takaoka e Yuji Tamaki, a artistas que ganharam maior destaque, a exemplo de Manabu Mabe, até os descendentes dos imigrantes, entre eles o filho de Manabu, Yugo Mabe. A coleção é de uma beleza extraordinária, com destaque para Yugo, um filho que consegue superar o pai na arte, na técnica, na mistura das cores.
O Palacete das Artes, concebido originalmente para ser o Museu Rodin, que dispõe, em seu acervo, de apenas quatro reproduções do artista, é um local que, só pela beleza, já encanta quem o visita - abrigando uma mostra de artistas nipo-brasileiros, o espaço fica ainda mais bonito. A entrada é franca e o visitante pode assistir ainda a um documentário sobre a imigração japonesa para o Brasil que nos esclarece, por exemplo, que há mais de um século a alfabetização já é obrigatória no Japão e porque esses imigrantes saíram da pátria, empurrados pela falta de emprego depois de uma guerra contra a Rússia.
Para ser completa, falta apenas o público em "Abraços na Arte". Mesmo sendo grátis, ele não vem prestigiando a exibição.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Agressão desumana

No livro "A agressão Humana", de Anthony Storr, o autor diz que Freud considerava que "os instintos agressivos do homem ainda iam levá-lo à destruição" (apesar das aspas, a frase não é literal). É impressionante como o ser humano é destrutivo consigo, com os outros e com o próprio planeta.
As pessoas que mais maltratamos são aqueles que estão mais perto de nós. Todos os dias os jornais publicam casos de agressões de pais contra filhos, irmão contra irmão ou irmã, marido contra esposa (e vice-versa).
Ciúmes, rancor, raiva, ingratidão, são características do ser humano que ele deveria guardar para si e não colocá-las no mundo. Os nossos "instintos agressivos" estão vencendo a nossa "civilidade". Há pessoas tão destrutivas que, além de fazer mal aos que o cercam, ainda fazem mal a si próprios, com frases malediscentes e incapacidade de gostarem de si e dos outros.
O aquecimento global é uma realidade. Fala-se disso com grande constância na mídia. No entanto, poucas, pouquíssimas ações efetivas têm sido feitas para livrar o planeta desse problema que pode levar a um efeito devastador sobre a terra. As queimadas na Amazônia, o desmatamento ilegal, também são temas de constante debate. Fala-se, discute-se, mas o problema continua.
Esse verão tem sido de um calor insuportável. Penso que, no século passado ou atrasado, as pessoas, principalmente as mulheres se vestiam com pesadas roupas, cheias de babados, anáguas, mangas compridas. É certo que havia um adereço, que caiu em desuso com o abuso do ar-condicionado: o leque. Mesmo assim, nos dias atuais, haja leque para se abanar!
O aquecimento global, que era uma preocupação, hoje é uma realidade. Há cada ano, sentimos na pele os efeitos desse aquecimento. Dias quentes e noites mornas. Nos ambientes, ar-condicionados cada vez mais potentes. O senador Gérson Camata já chegou a propor que se abolisse o terno e a gravata como roupa obrigatória no senado, como medida de diminuição na conta da energia elétrica.
É possível se colocar ar-condicionado nos carros, nos escritórios, na casa, porém não se pode colocar um ar-condicionado para esfriar o planeta. Se nada for feito, o próximo a ser o rei dos animais (racional e irracionais) será o peixe, pois haverá somente água no planeta Terra.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Fantasia e realidade

No Brasil, vive-se em dois mundos. Um, o mundo da imprensa. Outro, o da realidade. Nesses meses de quebradeira nos Estados Unidos, que acabou se alastrando por muitos países do mundo, só se fala em crise, desemprego, desespero. Às vésperas do Natal e do Ano Novo, estive no Centro da Cidade (avenida Sete e Baixa dos Sapateiros) e na região do Iguatemi e do Rio Vermelho. Nunca vi tanta gente comprando, gastando. Nos supermercados, carrinhos cheios; nas lojas, muita gente.
O comércio registrou, oficialmente, um aumento nas vendas. Cheguei a comentar com uma balconista que não conseguia enxergar a crise, que ela deveria estar acontecendo lá pelas bandas da Austrália. Nos jornais, nas TVs, na internete, só se fala dos números desfavoráveis da economia. É diminuição da balança comercial, desemprego, projeção de um menor crescimento econômico.
A imprensa diz o que quer. Alastra o pânico. Mesmo assim, na realidade o que se vê é uma melhoria considerável no nível de vida das pessoas menos favorecidas. São elas que estão sustentando a nossa economia, estão comprando tudo o que na vida não tiveram a oportunidade de comprar, e impulsionando essa crise, tão ameçada pelos jornais, para longe.
O governo Lula melhorou a vida das pessoas de alto poder aquisitivo e de baixo poder aquisitivo. Precisa se lembrar da classe média, que não tem o mesmo suporte financeiro dado pelos banqueiros (e pelo próprio governo), aos empresário e pessoas de alto poder aquisitivo. E também não dispõe dos incentivos que o mesmo governo oferece às pessoas de baixa renda.
Em Salvador, por exemplo, quem mora na Barra, Ondina e outros bairros considerados de alto poder aquisitvo (já foi o tempo que era assim) paga 80% do que consome em água como taxa de esgoto. Quem mora no Rio Vermelho, paga 40%. Isso porque no Rio Vermelho existem locais que devem ser invasões, com pessoas amontoadas em casas. Essas pessoas pagam menos. Mesmo morando num bairro de boa infra-estrutura.
Em relação à luz, quem vive em bairros como Itinga, com todos os eletrodomésticos possíveis, chega a pagar R$ 20,00. Essa pessoa, morando na Federação, paga mais de R$ 100,00. Há ainda o bolsa-família, o vale-gás, IPTU mais barato. A classe média é quem, como sempre (e no governo Lula não é diferente), arca com a conta dos empréstimos aos empresários e dos incentivos às classe menos favorecidas. Há pessoas tendo que entregar as suas casas por não terem mais condições de pagar essa conta.