sexta-feira, 31 de julho de 2009

O ocaso de um governo

A história do Brasil é sempre contada de forma floreada. Todos nós sabemos que o bravo grito de Independência dado por D. Pedro II não foi cercado por imagens e paisagens tão belas, nem foi um ato tão arrebatador. Talvez por que a história do país seja sempre recontada de forma falsa, ou por que o brasileiro não dá mesmo valor à ela, o fato é que os grandes nomes que a compõem parecem pouco se importar com as suas próprias biografias. José Sarney e o presidente Lula são bons exemplos disso. Além do ex-presidente Fernando Henrique, que disse aquela célebre frase: "Esqueçam-se de tudo o que eu escrevi".
Fernando Henrique, apesar desta gafe, ao menos foi o único presidente, desde a redemocratização do país, que marcou o seu nome na história e recolheu-se, significativamente, da vida pública, assim evitou macular a sua biografia, já chamuscada, mas, cuja falta de memória do povo, pode até ser resgatada. Lula e Sarney, não. Estão pouco se ligando para o que deles vai falar a história. Do primeiro até entende-se, já que nunca foi muito afeito aos livros. Mas o segundo, um literato, autor de diversas obras, talvez prefira livros de literatura a livros de história.
No início do governo do PT até entendia-se a presença de Sarney à frente do senado da República. E entendia-se que ele tivesse aceito. Já que apoiou o ex-sindicalista desde o início rumo à presidência e, como ventos novos sopravam no Brasil, os seus atos, secretos ou não, ganhariam pouca repercussão. A volta à presidência da casa, depois do escândalo Calheiros, não teve qualquer sentido. Sarney, o presidente-inflação (deixou a presidência com 80% de inflação ao mês), que poderia ser julgado pela história como um homem que, sob a batuta de Ulisses Guimarães, conseguiu conduzir bem o país rumo à legalidade democrática, passará agora a ser lembrado como o senador corrupto que foi convidado a se retirar da presidência daquela casa.
Lula segue quase a mesma trilha. Não a trilha da corrupção, uma rede da qual já escapou e, parece, permanece imune. Mas a trilha do "não estou nem aí para a história". Nunca pediu para que se esqueçam do que ele escreveu, mesmo por que nunca foi muito amigo da escrita, ainda que esteja aí, estreando como colunista de um jornal de circulação nacional, mas se poderia dizer estar ele pedindo para que todos nós esqueçamos o que ele sempre defendeu.
Foi sob a defesa incontestável da decência e da honestidade que Lula se elegeu. Defesa essa jogada por terra ao defender José Sarney. O ex-sindicalista, pelo visto, devido aos altos níveis de popularidade alcançados nas pesquisas, se julga acima do bem e do mal. Tanto faz defender corruptos e trambiqueiros, ele, em seu entender, continua desfrutando da aprovação popular.
Depois do episódio do mensalão, Fernando Henrique chegou a dizer que Luís Inácio estava falando apenas para desinformados e ignorantes. Uma afirmação um pouco precipitada, em relação ao tempo. Naquela época, os eleitores, ainda em lua-de-mel com o torneiro-presidente, continuaram lhe dando crédito. O fato é que, depois de mais de seis anos de presidência, a afirmação de FHC está começando a ter chances de se tornar realidade.
As afirmações de Luís Inácio, chamando os empresários brasileiros de trambiqueiros, os constantes elogios para a falta de diploma dele e do vice José Alencar, as explicações sobre a diferença de delitos praticados no mundo do crime (também praticados por políticos), as fotos em companhia de Fernando Color, tudo isso tem afastado Lula das pessoas mais bem informadas, dos eleitores que são realmente capazes de pensar e de ter um discernimento político. E o aproximado apenas daqueles que ainda vivem sob a fantasia mágica do torneiro mecânico que se tornou presidente da república.

domingo, 5 de julho de 2009

Paz? Onde?

Essa deve ser uma piada de mau gosto. O presidente Lula vai receber, em Paris, o prêmio Houphouët-Boigny, da Unesco, por sua colaboração para a Paz. O prêmio é comumente concedido a futuros vencedores do Prêmio Nobel da Paz. Só pode ser mesmo piada. Aliás, nem o Nobel é mais o Nobel. Depois de Al Gore recebeu um Nobel pela sua vinculação com a defesa do planeta na questão ambiental - em especial por trabalhar contra o aquecimento global -, tendo sido vice-presidente de um dos países mais poluídores do mundo e completamente retrógrado no que se refere à proteção ambiental, tudo é possível.
Parece que os responsáveis por escolherem personalidades destinadas a serem premiadas andam meio desinformados. Ou então andam faltando personalidades realmente merecedoras de prêmios e, por isso, qualquer um agora ganha o Nobel ou a prévia dessa honraria. O Brasil, presidido por Lula, é um dos quatro países mais violentos do mundo. Grupo que integra com a Colômbia, Rússia e Venezuela. Aqui, paz é uma palavra que passa ao largo do cotidiano das pessoas.
Se não consegue estabelecer a paz em seu próprio território, como Lula pode ser premiado por colaborar com a paz no mundo?

Não faça da cultura uma droga, a vítima pode ser você

Nos últimos tempos tenho tentado me manter alheia às questões políticas brasileiras. Tenho me ocupado de resolver problemas pessoais e bem mais importantes - e menos escandalosos - do que os problemas políticos brasileiros. Mas, parece, que no Brasil é mesmo difícil se estar alheia a eles, pois invadem a sua vida em qualquer meia hora de papo que se tenta empreeender com qualquer pessoa. Na última semana, uma questão baiana foi colocada a público no desfile do Dois de Julho - a insatisfação de muitos artistas baianos com a gestão de Márcio Meirelles à frente da Secretaria de Cultura.
Nesse mesmo blog já defendi Márcio Meirelles, a quem considero como um dos mais criativos diretores de teatro baiano e responsável pela revitalização do Teatro Vila Velha, num projeto que, se não respeitou o projeto arquitetônico antigo do teatro, tem ampliado e melhorado a sua proposta artística. O TVV é hoje um dos mais representativos da Bahia. Diante do crescimento da insatisfação dos artistas, comecei a me informar sobre o que estaria ocasionando tanto inconformismo. Ao que se diz, alguns teatro foram fechados, há uma queixa de falta de ações nas cidades do interior e outros problemas que são de cartáter pessoal - críticas à própria personalidade do gestor.
Tenho acompanhado, ainda que não tão intensamente como quando me dedicava ao jornalismo diário, a gestão de Meirelles. Gosto das atividades gratuitas e de baixo custo que o Estado tem oferecido. Já vi bons espetáculos a R$ 1,00 ou gratuitos. Admiro o projeto Neojibá, parece-me que idealizado pelo regente Ricardo Castro e encampado pela Secult, e também a criação do museu Franz Kracjberg.Contrário à sua administração, o declínio do BTCA que, mais uma vez, vai apoiar-se em Victor Navarro para a montagem de um espetáculo, e a programação de baixa qualidade do TCA (com ingresso muito caros, refletindo-se na falta de público).
O pior ponto, porém, da gestão Meirelles, é o total desrespeito às edificações públicas destinadas ao abrigo da arte e da cultura. Museu de Arte Moderna, Teatro Castro Alves, Concha Acústica viraram palco não apenas de artistas, mas também de consumidores de droga que fazem as suas exibições, constrangendo os menos afeitos a esse consumo, e sem qualquer repressão. Lembro-me de como foi difícil se recuperar esses conjuntos arquitetônicos, dos mais representativos da nossa cultura, quanto dinheiro foi gasto, quantos profissionais foram envolvidos na sua reconstrução e na concepção de uma nova política para esses espaços.
O TCA, por exemplo, durante anos foi palco de vândalos, que subiam em suas cadeiras para dançar ao som de rock'n roll, numa época em que essa atuação até se justificava diante da repressão do governo militar. Hoje, em que se baseia (sem trocadilhos), como se justifica que esses locais estejam sendo invadidos por pessoas desrespeitosas à cultura? Querem protestar contra o quê? Contra o excesso de liberdade, um liberalismo desproposital e inconsequente que tomou conta desse país, onde nada é reprimido, onde bandidos, corruptos, assaltantes, atuam com pouca ou nenhuma repressão com a conivência das instituições e dos seus mandatários?
Um mestre como Carybé, defensor e propagador do que há de mais genuíno em nossa cultura, ter os seus quadros dividindo um mesmo espaço com consumidores de drogas?
No entanto, a campanha contra Márcio Meirelles promovida por parte dos artistas baianos, com apoio da imprensa, é implacável demais. E falta com a verdade. Dias atrás, aqui mesmo nesse blog, expressei a minha revolta por Meirelles não ter sido hábil na resposta às críticas da Igreja em relação à falta de cuidado do governo com o patrimônio público. A minha opinião foi influenciada pela publicação da resposta de Meirelles num blog de Salvador.
Pois encontrei o secretário num shopping da cidade. Falei com ele a respeito. Meirelles ficou impressionado, a resposta que havia dado ao bispo tinha sido completamente diferente daquela publicada num blog. Em consideração ao artista que Meirelles é, e sempre foi, mudei esse texto, por que o conheço de longas datas e sei que estava sendo sincero na resposta. Posso acreditar que artistas estejam indignados com a sua gestão, mas não posso aceitar que jornalistas faltem com a verdade, em nome sabe-se lá de que. Já disse os pontos favoráveis e desfavoráveis da sua gestão. Enquanto artista o considero acima de qualquer suspeita, um talento irretocável; enquanto gestor pode-se criticá-lo, mas com justiça e sem que se falte com a verdade.

Viva, ainda que em outro país

Tentei também permanecer alheia, sem sucesso, aos "atos secretos" do senado. Decerto poucos, muito poucos, ficaram surpresos com as revelações; pelo menos entre aqueles que permanecem informados sobre a realidade do país. O que me causa um repúdio absoluto é a tenacidade com que o Partido dos Trabalhadores, em especial o seu presidente eleito, tem defendido o presidente do senado, José Sarney.

Quando Lula foi eleito, no afã de querer mesmo ver novos tempos para o Brasil, estranhei Sarney na presidência do senado, mas entendi. Afinal, ele foi um aliado importante do candidato durante a campanha da primeira eleição. Seis anos depois, mesmo a despeito de Calheiros já ter sido afastado da presidência por causa de um escândalo, com o país absolutamente estressado por tantos escândalos e denúnicas de corrupção, colocar-se novamente o ex-presidente à frente do senado foi um erro político que só um partido, criado com bons propósitos, mas que dia após dia se revela completamente inábil politicamente, poderia cometer.

Decididamente, o Brasil tem uma incrível incapacidade de caminhar para frente. Apega-se a um passado destroçado, acabado. Enquanto países como a Austrália, a China, Nova Zelândia, caminham a passos largos na direção de um milênio de prosperidade e modernidade, o Brasil fica estagnado no tempo dos dinossauros.

Lula representou um sopro novo em nossa política, encheu de esperança o nosso povo. Foi o ícone de um tempo de transformação. Chegou ao poder aplaudido, abraçado, numa festa cívica das mais representativas em nosso país. Disse, durante os dias que precederem a sua posse, que "tinha medo de ficar isolado", gostava dos braços do povo. Pouco mais de seis anos da posse, o presidente da república mergula a si próprio e ao seu PT numa lama sórdida, apoiando o que há de mais vil, de mais retrógrado na política brasileira.

Gosto de estar viva. Olhando a degradação de Lula e do PT, preferia estar viva em outro país.