Amargo regresso
A Bahia viveu uma paz política, jamais experimentada em sua história recente, desde a eleição de Jaques Wagner para o governo da Bahia, de João Henrique (no primeiro pleito) para a prefeitura de Salvador, e Lula para a presidência da República. As sórdidas disputas políticas pareciam estar totalmente abandonadas. JH havia sido eleito com o apoio do PT e de outros partidos considerados de esquerda, e Wagner com a aliança principal do PT/PMDB.
A prefeitura de João Henrique foi sempre devagar, quase parando, mas os problemas eram administrativos, o prefeito jamais perdeu a linha em público, nunca atacou jornalistas, e se houve desavenças, elas foram tratadas no campo da política. Com o ingresso do prefeito no PMDB a realidade mudou um pouco, porque houve um afastamento quase total do vice-prefeito, do PSDB, e desligamento de integrantes desse partido da prefeitura. Mesmo assim, o nível do debate político foi mantido.
Wagner sempre tem uma postura tranqüila, mesmo nos momentos mais difíceis, como no desabamento da Fonte Nova. Faz um governo de absoluta paz, ainda que a violência urbana esteja longe de ser resolvida; um governo de transparência, com total acesso da população, através da internete, aos gastos governamentais. Age de acordo com as demandas da sociedade, mas dentro do que lhe é possível no orçamento. Até agora não fez obras eleitoreiras, nem de fachada.
Esses tempos de paz acabaram-se com a reeleição de JH, vinculada a um grupo que sempre optou por uma política mesquinha, de perseguição, adjetivos chulos, de obras que consumiam milhões e em nada resolviam a vida da população (que continua na miséria nordestina). Julgando-se fortes, porque conseguiram ganhar a eleição na capital, o grupo passou a atacar abertamente o governador Wagner, com vistas à eleição para o Palácio de Ondina, em 2010, da mesma forma sórdida com que faziam no passado contra qualquer oposicionista.
É triste constatar-se que seis anos de governo Lula, onde o torneiro mecânico demonstrou mais elegância do que muito pós-graduado, quatro de prefeitura de JH (que sofreu uma metamorfose, após o fim da aliança com os partidos chamados de esquerda) e dois de Wagner, não deram coragem à população baiana para dizer um retumbante "não" a toda essa forma vil de se fazer política na Bahia.
Por que a mesquinhez nos atrai tanto? Por que a propagamos tal como uma praga, que destrói o campo mais fértil? Por que governantes discretos, ponderados, caem menos no gosto do eleitor do que políticos arrogantes e autoritários. Acho que é por que esses últimos se assemelham à realidade de miséria em que vive o nordestino - às intrigas entre vizinhos, maledicência dentro da família, competição por um lugar onde dormir num banco de praça.
Ainda que possa perceber isso, é difícil de aceitar. Vários estados nordestinos têm se libertado do coronelismo, dos dirigentes sem compromisso com a melhoria de vida da população. A Bahia tem ficado para trás, porque tem os pés fincados no passado. Não quer tomar nas mãos o seu próprio destino, prefere entregá-la a um cacique qualquer (para depois, queixar-se da própria miséria).
Não é possível que quase duas décadas do mais absoluto horror político tenham sido insuficientes.
O Brasil nasceu na Bahia. A Bahia precisa renascer com o Brasil.