sábado, 29 de novembro de 2008

Amargo regresso

A Bahia viveu uma paz política, jamais experimentada em sua história recente, desde a eleição de Jaques Wagner para o governo da Bahia, de João Henrique (no primeiro pleito) para a prefeitura de Salvador, e Lula para a presidência da República. As sórdidas disputas políticas pareciam estar totalmente abandonadas. JH havia sido eleito com o apoio do PT e de outros partidos considerados de esquerda, e Wagner com a aliança principal do PT/PMDB.
A prefeitura de João Henrique foi sempre devagar, quase parando, mas os problemas eram administrativos, o prefeito jamais perdeu a linha em público, nunca atacou jornalistas, e se houve desavenças, elas foram tratadas no campo da política. Com o ingresso do prefeito no PMDB a realidade mudou um pouco, porque houve um afastamento quase total do vice-prefeito, do PSDB, e desligamento de integrantes desse partido da prefeitura. Mesmo assim, o nível do debate político foi mantido.
Wagner sempre tem uma postura tranqüila, mesmo nos momentos mais difíceis, como no desabamento da Fonte Nova. Faz um governo de absoluta paz, ainda que a violência urbana esteja longe de ser resolvida; um governo de transparência, com total acesso da população, através da internete, aos gastos governamentais. Age de acordo com as demandas da sociedade, mas dentro do que lhe é possível no orçamento. Até agora não fez obras eleitoreiras, nem de fachada.
Esses tempos de paz acabaram-se com a reeleição de JH, vinculada a um grupo que sempre optou por uma política mesquinha, de perseguição, adjetivos chulos, de obras que consumiam milhões e em nada resolviam a vida da população (que continua na miséria nordestina). Julgando-se fortes, porque conseguiram ganhar a eleição na capital, o grupo passou a atacar abertamente o governador Wagner, com vistas à eleição para o Palácio de Ondina, em 2010, da mesma forma sórdida com que faziam no passado contra qualquer oposicionista.
É triste constatar-se que seis anos de governo Lula, onde o torneiro mecânico demonstrou mais elegância do que muito pós-graduado, quatro de prefeitura de JH (que sofreu uma metamorfose, após o fim da aliança com os partidos chamados de esquerda) e dois de Wagner, não deram coragem à população baiana para dizer um retumbante "não" a toda essa forma vil de se fazer política na Bahia.
Por que a mesquinhez nos atrai tanto? Por que a propagamos tal como uma praga, que destrói o campo mais fértil? Por que governantes discretos, ponderados, caem menos no gosto do eleitor do que políticos arrogantes e autoritários. Acho que é por que esses últimos se assemelham à realidade de miséria em que vive o nordestino - às intrigas entre vizinhos, maledicência dentro da família, competição por um lugar onde dormir num banco de praça.
Ainda que possa perceber isso, é difícil de aceitar. Vários estados nordestinos têm se libertado do coronelismo, dos dirigentes sem compromisso com a melhoria de vida da população. A Bahia tem ficado para trás, porque tem os pés fincados no passado. Não quer tomar nas mãos o seu próprio destino, prefere entregá-la a um cacique qualquer (para depois, queixar-se da própria miséria).
Não é possível que quase duas décadas do mais absoluto horror político tenham sido insuficientes.
O Brasil nasceu na Bahia. A Bahia precisa renascer com o Brasil.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Balança, balança, e cai

A audiência da televisão brasileira despenca mais que a bolsa de valores (que essa semana deu até uma boa recuperada). Com o advento da TV a cabo, as emissoras de TV aberta foram, progressivamente, baixando o nível da sua programação e, com o advento do controle remoto, tiveram maior possibilidade de competição, o que poderia ter gerado uma melhoria na qualidade dos programas - aconteceu o oposto.
A antes toda poderosa Rede Globo não consegue fazer com que audiência de suas novelas das 18 hs e 19 hs ultrapasse 30 pontos no Ibope, e a das 20 hs, exibida atualmente, obtém uma marca de 40 pontos. Para uma emissora que já chegou a cravar 100% dos televisores ligados em final de novela das 20 hs, marcando uma média nunca inferior a 70%, a audiência atual é um verdadeiro fiasco.
E o esporte? O jogo Brasil X Portugal não foi além dos 34 pontos, com seleção brasileira (Kaká, Robinho, Luís Fabiano...) e, de quebra, o maior jogador atuando na Europa, Cristiano Ronaldo, na equipe adversária. Essa baixa deveria por fim à baixaria, no entanto as emissoras ainda não acreditam que o espectador cansou-se de tanta falta de qualidade. Ainda que tenham como prova a estréia, este ano, do CQC, a única atração de qualidade a estrear nos últimos tempos.
Em poucos meses (o programa desta semana foi de número 37) o CQC caiu no gosto do público. É assistido até pelo presidente da república, e as "celebridades" que, a princípio, evitavam os seus entrevistadores, especialistas em perguntas desconcertantes, passaram a gostar de lhes dar entrevistas. Os produtores/apresentadores da atração "importaram-na" da Argentina porque devem ter percebido o desgaste do populismo televisivo.
A Globo chegou à liderança apresentando atrações como Chico Anísio, Jô Soares (que começou fazendo humor); novelas como "Roque Santeiro", "O Bem-Amado" e "Selva de Pedra"; minisséries como "O Tempo e o Vento" e "Anos Dourados"; musicais exibidos na faixa "Quarta Nobre". Se antes era um prazer assistir-se à Rede Globo, atualmente é um desconforto, tal a falta de criatividade, o excesso de apelação nas novelas, a ausência de apresentadores inovadores. Na empresa dos Marinho, que já foi exemplo para o mundo, hoje quase tudo é imitação.
Se na líder, a falta de originalidade é grande, imagine nas outras. Para resgatar a audiência perdida, o SBT teve que recorrer à reapresentação de "Pantanal", que nos faz lembrar o quanto era bom acompanhar-se a uma novela, e trazer de volta Sílvio Santos aos domingos (num longo programa onde só quem brilha é a pequena Maísa).
A Rede Record tem conquistado público indo ao fundo do poço do horror. Se é para apelar, nada de meio termo. As suas novelas, "Os Mutantes", uma miscelânia de tudo o que se vê nas telas de Hollywood, e "Chamas da Vida" que mostra desde pessoas drogadas até estrupadores, não fazem nenhuma concessão ao bom senso. O público, "zumbi" da baixaria televisiva, tem assistido, pelo menos até quando acordarem desse efeito hipnótico. Na Record, dois programas não caem no apelativo, o "Tudo é possível", com Eliana (aliás, Eliana, mesmo repetindo os quadros semana a semana, é uma das pouca apresentadoras(os) que se preocupa com o conteúdo do que leva para o público), e "Ídolos", sob o comando de Ricardo Faro, uma cópia estrangeira, mas o único programa a tentar descobrir um novo ídolo musical que tem qualidade (os finalistas dão show a cada semana).
Como os pacotes financeiros que vêm sendo lançados por todo o mundo, as emissoras abertas precisam também de pacotes televisivos, ou vão acabar sem espectadores diante de suas telas. No mundo de DVDs, internete, jogos eletrônicos, TV a cabo, celulares, assistir-se à TV tem que valer a pena. Já há muito com que se perder tempo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Haja petróleo!

Nos tempos da ditadura militar, os presidentes indicados chegaram a fazer contrato de risco com empresas estrangeiras para a exploração de petróleo no Brasil. É incrível o que a incompetência não faz! A Petrobrás, já há alguns anos, é exemplo de excelência em exploração de petróleo, principalmente em águas profundas, mas é quase inacreditável o desempenho da empresa nos últimos anos.
A cada dia uma nova jazida é descoberta. Dessa vez, o anúncio foi de uma descoberta em águas baianas, acima da camada de sal (o que é uma ótima notícia, porque esse pré-sal é longe demais, "sor"!). A Bahia merecia, e o presidente da Petrobrás, que é um baiano, também. Não entendo como é que um estado que tem alguns dos maiores publicitários do Brasil, dos maiores artistas, empresários e até gestores públicos, como no caso da Petrobrás, não "decola". Bem, esse é um outro assunto...
São muito boas essas descobertas da empresa brasileira, só não compreendo como é que uma empresa que faz tantas descobertas, bate tantos récordes em faturamento, tem gasolina até em carro da fórmula 1, paga tão pouco para perfurar em terras de propriedade privada.
É, a petrolífera brasileira chega a pagar salário mínimo para explorar um poço em local privativo. E você pensa que o dono da terra fica indignado? Não, ainda fica feliz, por que alguns desses "sortudos" proprietários são nordestinos, com baixíssima renda, e qualquer graninha a mais lhes faz a felicidade. Há país desenvolvido (não cabe nem citar o nome) em que a descoberta de um poço no quintal de casa cria um novo milionário. Aqui, diminui um pouco a miséria do indivíduo.
Por que a petrolífera, ao invés de dar esses "trocados" a um povo já tão explorado, não paga os poços em ações da companhia? Sim, porque essas ações podem estar em baixa agora, momentaneamente, por causa das finanças globais, no entanto renderam, nos últimos anos, 1000%. Isso mesmo, 1000%! Poderia ter tirado da miséria muitas famílias, ao invés de aumentar-lhes a dependência do dinheiro público.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Não a Pimenta

É impossível deixar de comentar a não permissão da OAB para advogar ao réu confesso, Pimenta Neves, que assassinou a sua namorada, Sandra Gomide. Diante da falta de critérios desse país, desconfiava que a OAB iria dar a concessão a Pimenta. Foi uma grata surpresa, e o veredito veio em função da exigência de critérios éticos para se exercer a profissão de advogado.
A falta de notícias animadoras, que privilegiem a ética em detrimento ao oportunismo, é muito grande no Brasil. E essa foi, realmente, uma notícia rara, pois o que temos visto são advogados levando celulares para presidiários, juízes vendendo sentenças e Supremo Tribunal Federal dando permissão para que pessoas em cadeias sejam eleitas para o executivo e legislativo.
O fato de Pimenta Neves não estar cumprindo a pena ao qual já foi condenado (parece-me que a 18 anos) é um descalabro, porém, além de estar em liberdade ele tornar-se um advogado, seria extrapolar demais. Ainda resta um pouco de bom senso neste país.

Simpatia, sem terror

Barack Obama fica realmente bem mais simpático quando anuncia os seus assessores, quando os coloca para trabalhar num plano de criação de mais de 2 milhões de emprego nos EUA, quando preenche o vazio de liderança deixado por W. Bush, do que quando anuncia que vai caçar terrorista.
Ninguém é a favor do terrorismo. Boa parte dos países do mundo sofre com os seus atentados, na Europa, no Oriente Médio, na Ásia, muitos países vivem em sobressalto. A diferença é que na história recente da humanidade nunca se viu um país invadir duas nações soberanas sob a justificativa de caçar um terrorista. É algo absurdo até mesmo para a história, que é recheada de capítulos absurdos, como a Inquisição e o Holocausto.
Na década de 90, Carlos, o Chacal, o terrorista mais procurado da época, um venezuelano, foi preso e condenado pelo governo francês, vinte anos depois de seu primeiro atentado, sem que nenhum país tenha sido invadido por isso, muito menos a Venezuela.
Obama é querido por quase todo o mundo. Ele representa um sopro de esperança numa nação que se transformou numa das maiores líderes mundiais, mas cuja política externa vinha se tornando um verdadeiro desastre. Retaliações a nações muçulmanas, ameaças à Coréia do Norte, bloqueio econômico a Cuba, intervenções nos governos e políticas econômicas da América do Sul, tudo isso foi mudando a face dos EUA, que teve como ápice a invasão do Iraque, quando o país de Tio Sam passou de herói a vilão.
O novo presidente americano tem muito trabalho a fazer e, pela forma como se apresenta, parece ser um homem bem menos arrogante do que os que já ocuparam a Casa Branca. Então, poderia fincar os pés "na real" e deixar esse discurso de caça-terrorista. Mesmo porque, enquanto W. Bush procurava terroristas no Afeganistão e Iraque, eles estavam bem mais pertinho de casa, ali mesmo, em Wall Street. A bomba que detonaram foi tão poderosa quanto os aviões que atacaram o pentágono e as Torres Gêmeas.

domingo, 23 de novembro de 2008

Nada além dos 60%

Perguntei a uma vestibulanda como havia sido o seu desempenho no vestibular da UFBA, este ano. Ela me respondeu, escondendo a modéstia, que "razoável". Perguntei quanto, em percentual, havia feito. Disse-me: 52%. Eu me assustei, achei que ela havia ido muito razoavelmente mesmo. Ela contestou: ninguém faz mais que 60%! O que está acontecendo com a educação neste país? Décadas atrás, se um vestibulando não fazia acima de 70%, não ia para lugar algum, agora ninguém faz mais de 60%? Como assim? São os professores que não sabem mais ensinar ou os alunos que não conseguem mais aprender?
Fazer 60% numa avaliação que vale 100% é mal, muito mal, e ninguém consegue fazer mais que esse "mal, muito mal"? No Enem deste ano, a avaliação foi ainda pior, os estudantes não passaram de 40%, os da Bahia ficaram abaixo deste patamar, com pouco mais de 36%. Enquanto o desempenho dos estudantes cai, progressivamente, o congresso amplia e ratifica o sistema de cotas.
Não se trata de ser contra ou a favor ao sistema de cotas, trata-se de que toda a educação no Brasil tem que ser reavaliada, repensada, reestudada (sem trocadilho). O que adianta se colocar profissionais no mercado que em todos os seus ensinos fundamental e médio não conseguiram apreender mais de 60% do que se ensinou? Como esse profissional pode desempenhar bem as suas funções? E como pode, além disso, criar, pesquisar, descobrir qualquer tipo de tecnologia em seu campo de trabalho se não sabe, praticamente, o básico?
Quem vai a um médico, a um dentista, procura um advogado, já percebe a queda de qualidade no atendimento. Imagine o que vai acontecer daqui há uns 10 anos, quando boa parte dos profissionais for composta por esses estudantes que não vão além dos 60% no vestibular, ou 40% no Enem, ou que foram beneficiados ao entrar na universidade pública pelo sistema de cotas? São esses profissionais que vão formar outros em seu campo de trabalho!
E ainda sonhamos com um Brasil novo? Não há nenhum país que tenha se desenvolvido sem investir em educação. O exemplo mais recente, e mais em moda, é o da China, onde um aluno leva cinco anos para ser alfabetizado. É, lá se fica cinco anos em alfabetização; aqui, um aluno de escola pública não pode nem ser reprovado um ano, porque criaram um infeliz sistema de progressão automática, em que o estudante é aprovado, tenha ou não aprendido alguma coisa, tenha ou não tirado notas suficientes para a aprovação.
Os "gênios" que criaram esse sistema descobriram que a reprovação aumenta a evasão escolar. Ou seja, estamos sempre remendando os problemas. Não melhoramos o ensino em escolas públicas, reservamos cotas nas universidades para alunos oriundos dessas escolas; não procuramos entender e solucionar o problema da evasão escolar, simplesmente acabamos com a reprovação.
Os últimos governos só se preocuparam em resolver a questão econômica, relegaram a educação ao segundo plano (ou quarto, ou quinto). Fico pensando em como vai ser um ministro da economia que não passou dos 60% no vestibular.

sábado, 22 de novembro de 2008

A Suíça, nem tchum.

Nessa crise econômica, que já se prolonga há vários meses, falou-se dos EUA, Inglaterra, Zona do Euro, China, Japão, até da Islância, mas não se falou na Suíça. Aliás, a Suíça vem passando sempre livre, leve e solta por todos os conflitos mundias, sejam eles de que natureza for; é sede dos maiores bancos do mundo, mas não se mencionou, desde maio, nenhum problema por lá.
A Suíça, no meio da Europa, não participou de nenhuma guerra mundial, nem se meteu na guerra fria.Talvez o motivo seja por que o país há muito tempo descobriu a falácia dos sistemas de governo centrados em uma só pessoa. É como se essa única pessoa tivesse que tirar o coelho da cartola para resolver todos os problemas de seu país. Pode haver ministros, legislativo, judiciário, governadores, mas o que sempre se espera é que o presidente seja o mágico.
Na Suíça não é assim. Tem parlamento, mas não tem presidente. O país é governado por um conselho formado por sete pessoas que, ano a ano, elege um membro para ocupar a função semelhante à do presidente mas que, na prática, tem até menos poderes que os outros conselheiros. Cada conselheiro representa uma fatia da sociedade, como se cada um fosse um ministro, por que lá também não tem uma exorbitância de ministérios, muitas vezes criados para fazer-se uma composição política.
Acho que o sistema presidencialista, como também o parlamentarista, estão em franca decadência. Isso por que foram criados quando as democracias mundias não tinham esses números gigantescos de população, e era até possível uma só pessoa atender aos anseios das populações. Com a explosão demográfica, fica cada dia mais difícil.
A Suíça é um país pequeno, não é super populoso e consegue ser civilizado a ponto de ter sete pessoas discutindo os rumos dos país, sem a supremacia de nenhum deles. Há muito tempo que as democracias do mundo deveriam pensar em seguir este modelo, um verdadeiro modelo democrático. O difícil é que nem todos os países do mundo são tão civilizados a ponto de compatibilizar as opiniões de sete membros para tomar uma decisão. Em muitos lugares, a reunião do conselho ia terminar em pancadaria.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A especulação e o axé

No início da música axé, surgiu uma avalanche de grupos e de artistas-solo aproveitando o bom momento da música baiana. Mas, muita gente sabia, que só alguns iam mesmo permanecer. Pouco a pouco os grupos, e os artistas, foram diminuindo e até o responsável pelo "boom" da música baiana, Luiz Caldas, ficou ameaçado de desaparecer.
A força do Carnaval renovou a música e, enquanto alguns artistas iam desaparecendo, outros surgiam. Assim, me parece, vai acontecer na bolsa de valores. Nos últimos cinco anos, ela saiu dos 7 mil pontos para 73 mil pontos (os pontos medem a valorização das suas ações). Muitas empresas, sem qualquer estrutura, aproveitaram o bom momento para abrir o seu capital.
É claro que essa super valorização não ia durar para sempre, com crise ou sem crise. Mas, vai ser como na música axé, as boas empresas vão permanecer, as que foram à bolsa na aventura especulativa, vão ser compradas por empresas maiores ou vão novamente fechar o seu capital (algumas já estão começando a fazê-lo, recomprando as ações).
A bolsa deverá se tornar mais "enxuta" e, dessa maneira, com boas possibilidades das ações de companhias maiores, com bons fundamentos, voltar a se valorizar. E, é claro, de surgirem novas companhias, com boas perspectivas de mercado, para ocupar o lugar daquelas que não decolaram.
Não importa se no exterior os países vão ou não entrar em recessão. O que importa é que ao manter em seus quadros companhias com solidez no mercado a bolsa brasileira vai voltar a se tornar atrativa (é a que teve maior valorização nestes últimos anos). Por enquanto, há muito cascalho misturado ao ouro.

Clima de romance no ar

Guel Arraes conseguiu abrir uma janela - não, não - uma porta para o cinema nacional. "Romance", seu novo filme, é de uma beleza extraordinária, com diálogos inteligentes, roteiro que foge aos clichês, e um elenco sensacional, encabeçado por um artista que, a cada dia, se supera: Wagner Moura (Moura é, praticamente, um Gláuber Rocha diante das telas).
O filme recria, recria e recria o clássico "Tristão e Isolda". Tem lindas cenas de amor e nos faz sair desse universo de filmes cada dia mais violentos, cheios de socos e pontapés, de gente atirando em gente, bombas explodindo, pessoas sendo presas. "Romance" é novo, surpreendente, tem um roteiro impecável e um final feliz (o cinema nacional não prima por ter bons finais).
"Romance" tem realidade sim, mas a ficção se sobrepõe a ela, como deve ser na arte. Não é mais possível que paguemos para nos divertir e tenhamos que assistir ao dia-a-dia, às vezes um dia-a-dia mais violento do que na própria realidade. Cinema é magia, é "Romance".
Guel, com a ajuda de Jorge Furtado (que também assina o roteiro) e de um elenco muito afinado, com Andréa Beltrão, José Wilker, Marco Nanini, Letícia Sabatella, Wladimir Brichta, além de Moura, mostra um novo caminho para o cinema, não apenas nacional, mas internacional também. Os diretores brasileiros, que eram um sopro de esperança diante da mesmice em que se tornou a sétima arte (a cada dia menos arte), foram em busca do sucesso, do lucro fácil, dos prêmios internacionais, e acabaram por criar um cinema tão ou mais violento que o de Hollywood, cujo padrão acabou norteando a cinematografia de quase todo o mundo.
"Romance" é um filme brasileiro, mas poderia ser francês, italiano, grego. Por que fala de um tema universal. Não apenas de um tema de uma cultura específica, como os filmes brasileiros passaram a falar. É uma obra aberta, como deve ser a arte. É dramático e, ao mesmo tempo, divertido. Tem, tem alguns clichezinhos, um certo merchandising da própria TV, mas isso "passa batido" diante da beleza da obra.
Nesses tempos de Fernando Meirelles, Walter Salles, José Padilha, se fosse um páreo de cavalos, eu apostaria em Guel.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Parece que o mundo está a salvo

Toda vez que ouço alguém falar nessa história de crise me provoca uma reviravolta no estômago. Tenho a impressão que as mesmas leis que regulam o universo para que os planetas não se batam, regulam também a superfície da Terra, ainda que o homem esteja fazendo uma força danada para quebrar todas essas leis.
O que pensavam, afinal, os banqueiros, os donos de montadoras de automóveis, siderúrgicas, petrolíferas, etc, etc, etc? Que a humanidade ia continuar consumindo feito idiota um monte de produtos inúteis, indefinidamente, sem que alguma peça dessa engrenagem se quebrasse em algum lugar (e foi, justo, no mais capitalista dos países)?
Outro dia fiquei horrorizada quando, ao sair de um carro de uma amiga, fui tentar fechar o vidro e ela me informou que não precisava. Ao bater a porta o vidro se fechou sozinho. Que lindo! Acaso alguém pensa que toda essa tecnologia é gratuita? Cada vidrinho que se fecha sem precisar da força humana tem um custo, esse custo não é só o consumidor quem paga, mas o planeta Terra também.
Acaso o aço vem do espaço, ou o cimento? Tudo o que se contrói advém do planeta. Fala-se muito em aquecimento global, em devastação da Amazônia, joga-se a culpa nos madeireiros e fazendeiros (no caso da Amazônia); nas fábricas poluidoras (no caso do aquecimento global). É a tal história do traficante que é tratado como bandido, enquanto o usuário é visto como "doente".
Cada consumidor que troca o celular uma vez por ano, o carro a cada dois, as roupas a seis meses, e outros ítens que considera descartáveis, está contribuindo para a destruição do planeta. A indústria chegou a um nível tal de futilidade, e de super produção, que não havia como não estourar.
Quando ouço alguém falando sobre crise, penso que talvez estejamos começando a salvar o planeta. Ou não. Por que o homem é um ser tão perverso que é capaz de reinventar o capitalismo, quantas vezes julgar necessário, só para continuar exercitando os seus instintos destrutivos.
Décadas atrás havia no mundo poucos milionários. Há cada ano que passa, mais seres endinheirados vão surgindo. E o dinheiro não vem das estrelas. Vem da Terra. Qual é o sentido em se pagar R$ 1 milhão, mensalmente, para um jogador colocar algumas vezes por mês uma bola dentro da rede? E esse jogador, com todo esse dinheiro, vai precisar que a indústria crie peças para que ele gaste a sua fortuna. Ninguém ganha dinheiro para deixá-lo guardado em banco.
Os números da economia se tornaram tão gigantescos que, quando o rombo aconteceu, os números também foram gigantescos. Porém, mais, muito mais gigantescos têm sido os números da devastação que a super produção das indústrias promove contra o planeta. Eles são, apenas, bem menos divulgados, para que a "febre" de consumo não se acabe. Será que acabou?

sábado, 15 de novembro de 2008

Preconceito...huumm


Certa época em que trabalhava num jornal de Salvador, um jornalista vendo a minha grande amizade com um homossexual me perguntou se eu gostava de homossexuais. A resposta que me ocorreu, prontamente, foi: "Não gosto de todo homossexual, como também não gosto de todo heterossexual".
Detesto generalizações. Julgar as pessoas em função delas é uma prova de completa ignorância. Nunca vou defender um negro, nem um branco, que seja bandido; nunca vou achar legal um homossexual nem um heterossexual que seja mau caráter; não vou aceitar um milionário ou um mendigo que seja arrogante. Julgar as pessoas pelos rótulos é tão idiota quanto criar rótulos para julgar as pessoas.
Meu pai detestava televisão, até nos proibia, quando crianças, de assisti-la. Sábio pai, eu tive. A televisão, e a retirada de matérias como filosofia do curriculum escolar, transformaram o ser humano em gado, em ser que não pensa, que só faz seguir a boiada. A TV (com a ajuda do cinema) popularizou o termo afro-descendente, inspirado, é claro, na realidade dos Estados Unidos. Não há termo mais preconceituoso que esse, porque mostra que os negros não aceitam a sua própria cor (o que é um termo errado, pois preto é ausência de luz; branco, é a incidência total de luz - mas, por favor, os vigilantes de plantão não achem que isso é preconceito, pois é física).
Outro termo, também inspirado no inglês, é "gay", que reflete o mesmo preconceito. Parece que ser "gay" pesa menos do que ser homossexual. Ora, ora, vamos parar de tanta hipocrisia e assumir, cada um, o que somos. Achar que só homossexuais, negros, pessoas de baixo poder aquisitivo, é que sofrem preconceitos é muito tolo. Sou mulher e, quantas vezes, sofri preconceitos! E os idosos, os deficientes físicos, os feios, os bonitos, os burros, os inteligentes...?
Enquanto nos atemos a essas polêmicas e criamos novas palavras para os mesmos rótulos, o STF libera pessoas com processo judicial para serem candidatos a cargos eletivos (e uma mulher, presa, é eleita); a OAB está para julgar um pedido de concessão de autorização para advogar a Pimenta Neves (réu confesso da morte de sua namorada, julgado, condenado e em liberdade) e adolescentes de 16 anos põem seus votos nas urnas, mas não podem ser condenados por seus crimes (podem apenas passar alguns anos na FEBEM).
Precisamos voltar a pensar.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Mais um caçador de terrorista na Casa Branca

Durante toda a campanha presidencial, Barack Obama parecia o anti-Bush. Pouco falava de terrorismo, prometia tirar as tropas do Iraque e atacava mais as questões sócio-financeiras. Prometeu até mandar dinheiro pelo correio para os necessitados. Mas, é como diz o sempre ácido crítico da Veja, Diogo Mainardi, os políticos logo se esquecem das suas promessas eleitorais (é claro que Mainardi não é o único a saber disso).
Obama parecia um sopro novo na Casa Branca. Bem, parecia para os mais incautos, porque um olhar mais minucioso em qualquer um dos dois presidenciáveis se poderia ver que eles eram apenas mais um produto "made in EUA". E bastaram poucos dias para o novo presidente estadodinense revelar a mesma insanidade de seu antecessor. Uma das primeiras declarações de Barack foi a de que não vai medir esforços para prender Bin Laden.
Ora, ora, o novo ocupante da Casa Branca devia mais era agradecer ao suposto terrorista, pois não fosse a sua suposta ação em 11 de setembro (jamais confirmada), e a semelhança dos nomes, Obama, quase Osama, não estaria à espera da desocupação da mais cobiçada residência de Washington.
O ex-estudante de Harvard mostrou que é mais um caçador de terroristas. É óbvio que assim seria. Por falta de novas idéias, ou talvez por falta de capacidade em resolver esse grande imbróglio econômico promovido pelo seu país, Barack resolveu seguir o mesmo caminho do antecessor e caçar terroristas.
Lamentável. Não creio que o mundo agüente mais um "maluco não beleza" na Casa Branca. Se Harvard está assim tão ruim, porque os presidentes americanos não vêm estudar na USP, UFRJ, UFBA? Aqui ninguém fica pensando em caçar terroristas. Há mais vida real com que se preocupar.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Chega de baixaria!

Pesquisas mostram uma mudança da audiência da televisão em direção ao computador. O advento da TV a cabo, com assinatura paga, transformou a programação da TV aberta em algo quase inaproveitável. Bem, a TV a cabo também tem uma programação muito questionável, principalmente pela repetição exagerada de filmes, mas, devido ao grande número de canais, ainda se pode assistir a um ou outro filme inédito, um ou outro programa de qualidade.
Para aqueles que não podem pagar, a TV aberta passou a ser dedicada. E, fugindo-se à máxima do carnavalesco Joãozinho Trinta que dizia que "pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual", os canais grtatuitos passaram a exibir uma programação de baixíssima qualidade, principalmente em relação às novelas, sempre uma preferência da audiência.
Pois foi uma grata surpresa a estréia do CQC, este ano, na Band. Um programa que surgiu na Argentina, mas que já ganhou versões em vários países do mundo. O CQC estreou mostrando que é possível congregar inteligência com audiência. Humor refinado, entrevistas inusitadas, quadros criativos, rapidamente ganharam o gosto do público. E dos anunciantes.
Porém o CQC queria mais e, nos últimos programas, começou a apelar para um pouco de baixaria, colocando mulheres com a ala de frente bem avantajada e muitas piadas de cunho sexual. Esperamos que seja apenas uma medida temporária. Que o programa siga o seu caminho sem precisar de apelações. Pois, se ganha um público adepto de baixarias, perde aqueles que, finalmente, encontraram um programa instigante, digno de ser visto até o seu final.

Chinês bom de exemplo

Numa das postagens iniciais desse blog, tão logo a crise econômica ficou evidenciada, eu perguntava: "onde está o dinheiro?". É evidente que a crise foi formada a partir da migração do dinheiro, sem que americanos e europeus tomassem qualquer medida para salvaguardar as suas economias dos efeitos da migração.
Pois a China foi o primeiro país a "abrir o jogo". Além de anunciar um pacote bilionário para estimular a sua economia, ainda anunciou um superávit récorde. A China pode estar puxando a fila...ou não. O país do oriente não se furtou à responsabilidade, não quis encombrir os altos lucros, já conhecidos por todos, que teve nos últimos anos de forte crescimento. É um exemplo que deve ser seguido pelas outras nações que lucraram, enquanto os países considerados ricos, perdiam.
Inteligentemente, e elegantemente, a China demonstrou que não está mais preocupada em esperar que as finanças americanas se recuperem para seguir crescendo. Até essa excelente atitude do país oriental, que prova, mais uma vez, não estar chegando ao topo do mundo de forma gratuita, os países em desenvolvimento (ou chamados de emergentes) estavam aí, assistindo ao horrível espetáculo financeiro, e esperando o que sempre esperaram - que Europa e Estados Unidos tomassem as medidas para debelar a crise. Enquanto isso, guardavam as suas reservas para outros investimentos.
Pois está na hora desses países seguirem o exemplo chinês. O tempo de "coitadinhos", que culpavam até os seus colonizadores por todas as suas desgraças, já passou. Se esses países requerem a inclusão no grupo do G-8 (dos mais ricos do mundo), se requerem assento no conselho de segurança da ONU, está na hora de deixarem de serem carro para se tornarem guincho.
É só olhar o exemplo da bolsa brasileira hoje, depois da atitude chinesa. A bovespa se descolou completamente de Wall Street, das bolsas européias e asiáticas, que operaram em baixa, e fechou o pregão em alta. O tesouro está nos países considerados emergentes, os investidores sabem disso, mas precisam de garantias para seguir nesse rumo. A China já começou a dar.

sábado, 8 de novembro de 2008

Mudanças de partidos, mudança de postura

Tentei alertar a muitos eleitores de que o fato de João Henrique estar fazendo uma admistração que privilegiava o social, que não perseguia barraqueiros e ambulantes, que trabalhava também para as regiões periféricas da cidade, estava ligada aos partidos que o apoiavam em sua administração, partidos mais ligados às causas populares.
A ignorância política do baiano é tanta, que poucos entendiam a mensagem. Pois bem, bastou ser reeleito que o prefeito, agora apoiado por partidos ligados ao que se convenciona chamar de direita, mudou totalmente de postura. E olhe que bastaram pouquíssimos dias! O primeiro problema se deu no recadastramento das pessoas que têm acesso a passes-livres em ônibus.
A notícia publicada em jornal de grande circulação foi de que apenas 25% das pessoas que antes tinham direito a esses passes-livres conseguiram o recadastramento. Depois, foi a vez dos barraqueiros (durante essa campanha, muitos profissionais autônomos, principalmente os camelôs, defendiam a reeleição de João Henrique por ele nunca ter perseguido os camelôs).
Pois João Henrique resolveu "desalojar" os barraqueiros que estão no canal do imbuí onde ele pretende construir outro parque. Aliás, o prefeito tem sempre uma solução fácil para os problemas de Salvador: construir um parque. Gasta milhões nessas obras, quando há tantas prioridades para serem resolvidas!
Àqueles que votaram no candidato e podem estar chocados com essa mudança de postura, só tenho a lamentar. Por que, depois de eleito, não há o que se possa fazer, apenas se esperar quatro anos. Os eleitores deviam, isso sim, procurar se informar mais a respeito de cada um dos prefeituráveis, ao invés de ficar assistindo à propaganda política na TV, cada vez mais caras, mais bem feitas e mais...mentirosas.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Para aposentados, não tem dinheiro.

Quando oposição, o Partido dos Trabalhadores era um fiel defensor do direito dos aposentados. Estava sempre contra qualquer mudança nas regras da aposentadoria. Quando governo, mudou totalmente o discurso e uma das primeiras medidas tomadas pelo presidente Lula foi aprovar um projeto encampado por FHC, contra o qual o próprio PT lutou. É verdade que muitos congressistas petistas foram contra o projeto, alguns, como Heloísa Helena e Luciana Genro, até deixaram o partido por terem sido obrigadas a votar a favor da proposta do governo, que acabou sendo aprovada.
Calcula-se que, devido aos baixos reajustes das aposentadorias nos últimos anos, elas já perderam 40% do seu poder aquisitivo. Há algum tempo, petistas, tucanos e até democratas tentam fazer com que senado e câmara aprovem o atrelamento do reajuste da aposentadoria ao reajuste do mínimo. Novamente a proposta está sendo apresentada, aliás por um senador petista negro, do Rio Grande do Sul, Paulo Paim. Se essa fosse uma democracia progressista, em tempos de sucesso de candidato negro, ele seria um ótimo candidato à sucessão de Lula.
O governo já começou a espernear contra a idéia e é bem provável que até a câmara a aprove, para deixar com Lula o ônus de rejeitá-la. O fato é que a forma como o governo trata os aposentados é de uma vergonha total. Há muito aposentado caindo em garras de bancos inescrupulosos, principalmente do próprio governo, que lhes empurra empréstimos consignados (alguns que não vão sequer parar na conta do aposentado, mas no próprio bolso do gerente), por não ter outra forma de sobreviver.
Se há dinheiro de governo para emprestar a exportadores que lucraram exorbitâncias nos últimos anos (mas que aproveitam esse tal crise para tirar uma lasquinha do governo), para diminuir compulsórios de banco, para emprestar até a montadoras multinacionais de carros, que vinham batendo sucessivos récordes de vendas, como não há dinheiro para se dar um reajuste digno aos aposentados?
Já que eles não podem fazer greve, nem podem ameaçar o governo com chantagens de que não vão mais poder exportar se o governo não lhes der generosos empréstimos, têm que partir para uma solução negociação (ou para uma "humilhação" negociada). Eu não sei você, leitor, mas eu, apesar do descalabro que foi Lula aprovar uma alteração proposta por FHC na aposentadoria logo nos primeiros meses do primeiro mandato, tenho muitas saudades de Lula.
Daquele Lula que não emprestava dinheiro público, de um povo sofrido, que trabalha cinco meses do ano para pagar impostos, a empresários que pagam salários, muitas vezes, aviltantes. Lembro-me que FHC viva dando dinheiro para empresas aéreas, bancos, emissoras de comunicação. O PT esperneava contra tudo isso. E, já no governo, o próprio Lula negou empréstimos a empresas de mídia e, com isso, elevou a ira desses empresários que nunca engoliram um torneiro mecânico na presidência.
Agora o governo distribui dinheiro a rodo para empresários. A desculpa é a crise econômica. Ora, se querem fazer um "proer" da crise, pelo menos respeitem os aposentados! Por que não é possível que com a saúde à beira de um colapso, a educação reduzida a baixos indíces, o caos nos transportes nas grandes metrópoles, os beneficiados sejam, mais uma vez, quem já tem tanto...!
E eu que ainda me lembro de Lula, na primeira campanha desse seu longo mandato presidencial, dizendo que desde os tempos do descobrimento do Brasil só se governava para os mesmos - os ricos. Também, quem manda ainda se ter memória?

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O desvio de bens amados

Esses dias, uma notícia publicada em um blog (retirada de um jornal de Salvador) me revoltou. A família Amado desistiu do processo de tombamento da casa do Rio Vermelho, onde o casal Zélia Gattai e Jorge Amado morou durante anos, e vão leiloar, no Rio de Janeiro, cerca de 500 objetos pertencentes ao casal para reformar o imóvel.
No momento em que a Secretaria de Cultura do Estado trabalha pela criação do museu Franz Kracjberg, no sul da Bahia, é absurdo saber-se que, enquanto se preserva a obra de Kracjberg, grande artista nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, deixa-se levar da Bahia um patrimônio inestimável como as peças de Jorge Amado.
A obra de Amado, o autor Jorge Amado, pertence ao povo da Bahia. Por mais internacional que tenha sido o escritor, foi falando da cultura, da sociedade, contando os "causos" da Bahia que o escritor se tornou mundialmente conhecido. No momento em que Salvador cai de terceiro destino turístico para sétimo, perdendo até para Belo Horizonte, é um absurdo que deixemos sulistas e estrangeiros arrematarem essa valiosa relíquia do povo baiano. Nunca vi turista ir a lugar algum para ver espigões e passear em parques no meio de avenidas. Acorda, Bahia! Ou protegemos o que é nosso ou vamos ter somente concreto e mar para apreciar.

domingo, 2 de novembro de 2008

O caos da cidade

Passei hoje, domingo, a tarde no Hospital Aliança, visitando uma sobrinha acometida de um probleminha respiratório. Tanto se falou, nessa campanha para a prefeitura de Salvador, do caos na saúde, mas só na saúde pública. Nenhum, nenhum dos candidatos, talvez por não querer parecer elitista, pois todos sabiam que quem definiria o pleito seriam os eleitores de baixa renda, estendeu o problema para toda a saúde na cidade (que deve ser igual em todo o estado).
A saúde em Salvador é um caos não apenas para aqueles que dependem dos serviços públicos; mesmo para os que têm caríssimos planos de saúde e podem bancar um hospital particular, os serviços estão, cada dia mais, estrangulados. A minha sobrinha, por exemplo, precisou ficar quase dois dias no setor de emergência, com a mãe dormindo numa cadeira, porque o Aliança não dispunha de quarto para acomodá-la.
Um amigo levou cerca de 15 dias para conseguir vaga em hospital da rede particular para internar a sua mulher para uma cirurgia na boca. Esses, casos recentes que me chegaram aos ouvidos, imagine o que existe mais por aí. Por que isso vem acontecendo? Por que não se constróem mais hospitais em Salvador, em lugar de condomínios de luxo? Por que os que já existem não ampliam as suas acomodações? Bem, isso é matéria que deveria estar nos jornais da cidade.
O fato é que a capital baiana vive momentos de horror não só na saúde. Mas em relação ao meio-ambiente, com escorpiões e besouros revoltando-se contra o desmatamento e invadindo os condomínios fechados (fechados?); com déficit habitacional seríssimo; com um desemprego avassalador (uma amiga, secretária, com muito custo conseguiu criar dois filhos e lhes encaminhou no sentido de cursarem uma universidade para conseguir um bom emprego; os dois se formaram, os dois têm na faixa de 20 anos, os dois estão desempregados); com um transporte urbano de péssima qualidade e uma violência incontrolável.
Por que esses problemas foram debatidos pelos candidatos sem a menor profundidade, sem conhecimento de causa? É que política no Brasil deixou de ser atividade para ser profissão. O político começa como vereador e aí vai deslanchando a sua carreira e perdendo, completamente, o contato com o cotidiano da cidade. Usa a sua influência de parlamentar para conseguir o que necessita para si e para os seus. O "cidadão comum" que se debata em hospitais públicos ou privados, que gaste as suas noites fazendo curriculum para seus filhos enviarem sem sucesso a empresas, que sofra no trânsito (pois eles têm motoristas e ar-condicionado nos carros para aliviar-lhes o trajeto).
É preciso limitar-se o número de vezes que um candidato pode disputar, e ocupar, um cargo eletivo. É preciso acabar-se com a aposentadoria de governadores, prefeitos e legisladores, enquanto ocupantes desses cargos. Mas, como isso se fará? Se são os membros do legislativo quem legislam em causa própria. Ao que se nota, eles só fazem, a cada dia, aumentar o volume de suas regalias, e protagonizam espetáculos patéticos quando se trata de discutir a real demanda da sociedade. Por quanto tempo será que a sociedade vai se contentar em apenas assistir?

sábado, 1 de novembro de 2008

O fim de um império

Todo esse oba-oba em torno das eleições presidenciais é absolutamente inútil. A questão não é saber-se quem é melhor para os EUA e para o mundo. A questão é saber-se o que é menos pior para ambos. Leio numa página de notícias da internete que faliu o décimo-sétimo banco americano. Dezessete bancos faliram nos EUA nos últimos tempos! Fosse no Brasil e já estariam pedindo a cabeça de Lula.
A economia americana vai mal, vai muito mal, e nenhum democrata ou republicano vai resolver esse problema sem, simplesmente, dizer aos americanos: "Vamos nos contentar em ser menos ricos". Como nenhum dos dois vai fazer isso, a situação nos EUA tende a piorar mais. Para W. Bush, a solução para evitar uma crise econômica, após os atentados de 11 de setembro, foi invadir o Iraque e "seqüestrar" o seu petróleto. Tudo o que ele conseguiu, além de elevar o preço do petróleo a níveis estratosféricos, foi adiar a crise e, pior, torná-la de maior alcance.
A fase imperialista dos EUA está chegando ao fim. Muitos países que viviam sob o seu domínio, como alguns sul-americanos, estão adquirindo independência. Como os americanos, e o seu governo, irão enfrentar essa realidade? Eis, aí, a questão. Pode ser que essa crise financeira, que sacudiu as economias dos cinco continentes, seja apenas "fichinha" diante do que está por vir. Mas o mundo, certamente, ainda espera que promessas de campanha, como a de 100 anos de guerra no Iraque (do candidato republicano), ou de mudar os EUA e o mundo (do democrata) sejam apenas delírios de campanha.